Projeto de pesquisa realizado em Boqueirão mapeia agravos à saúde relacionados ao uso de agrotóxicos

1 de abril de 2022

Com políticas que regulamentam a cada dia novas liberações de agrotóxicos para serem usados nas atividades agrícolas e pastagens, a população brasileira tem acompanhado com preocupação o desenvolvimento de algumas iniciativas que privilegiam grupos de agronegócios e apresentam riscos à saúde da população e ao meio ambiente. Diante disso, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) algumas iniciativas, como a feirinha de produtos orgânicos e a pesquisa “Mapeamento dos agravos à saúde relacionáveis ao uso de agrotóxicos em agricultores/as e trabalhadores/as rurais do município de Boqueirão/PB”, realizadas no Câmpus I, têm sido realizadas com o objetivo de contrapor essa realidade.

Coordenado pela professora do Curso Técnico em Agropecuária e do Bacharelado em Agroecologia, do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA),Câmpus II, localizado em Lagoa Seca, Shirleyde dos Santos, o projeto foi aprovado no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da UEPB, cota 2021/2022, com inserção na linha de pesquisa de saúde coletiva. A iniciativa busca contribuir, por meio da divulgação das práticas agroecológicas, com o conhecimento científico sobre os impactos ambientais do uso de agrotóxicos na saúde da população.

Antes de ser apresentada como projeto de pesquisa, essa ação foi iniciada como um projeto de extensão nomeado “Ações educativas sobre os impactos dos agrotóxicos e do controle químico no de vetores das arboviroses no campo e na cidade”, no qual eram trabalhadas ações educativas sobre os malefícios do uso de agrotóxicos na saúde da população e do meio ambiente como um todo.

Segundo a professora Shirleyde dos Santos, foi através da busca de informações em organizações, como o Ministério da Saúde, no banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e por meio do diálogo com os agricultores familiares, que foram coletados os relatos sobre intoxicações por substâncias tóxicas.

“A gente sempre se depara com uma série de relatos de possíveis intoxicações por agrotóxicos, só que quando a gente vai em busca dos números das notificações dessas intoxicações, a gente vê que há um número muito pequeno. E acreditamos que esse cenário não é só aqui na Paraíba, não é só na região de Boqueirão, onde a gente desenvolve a pesquisa, ele é um cenário que envolve o Brasil como um todo. Existem vários estudos mostrando a subnotificação das intoxicações e isso acaba interferindo em possíveis políticas públicas de redução do uso dessas substâncias, além de frear o incentivo às práticas agrícolas nas quais essas substâncias não sejam utilizadas, como a agroecologia, por exemplo”, explica a professora Shirleyde.

Os agrotóxicos são substâncias utilizadas nas atividades agrícolas e nas pastagens, com o objetivo de eliminar fungos, bactérias, prolongando o cultivo e resultando em alimentos com uma boa estética. Além do prejuízo para o meio ambiente, com a contaminação do solo e poluição dos rios, o uso de agrotóxicos pode causar danos à saúde da população que consome alimentos com essas substâncias.

Recentemente no Brasil, segundo um relatório do Greenpeace, foi aprovada a maior quantidade de agrotóxicos em 20 anos. De janeiro de 2019 até fevereiro de 2021 foram registrados 1.560 novos ingredientes ativos. Dezenas destas substâncias, no entanto, não são mais usadas nos Estados Unidos e na União Europeia (UE). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), afirma que pelo menos 37 dos agrotóxicos registrados desde 2019 são proibidos nos EUA e na UE por causa da toxicidade à saúde.

A partir dessa situação, alguns grupos de cooperativas e pequenos produtores têm organizado feirinhas orgânicas que oferecem produtos mais saudáveis à população, é o caso do projeto de extensão “Quinta da Feira Agroecológica da UEPB”. Essa iniciativa é coordenada pelo professor Simão Lindoso, que inicialmente tinha como objetivo estudar a fertilidade dos legumes tendo em vista que havia um projeto, com sede na cidade de Boqueirão, onde eram cultivados legumes sem a utilização de agrotóxicos. Assim, tornou-se consequência a parceria estabelecida com o Núcleo de Extensão Rural Agroecológica (NERA).

Após o período de pandemia o projeto teve que se readequar e, atualmente, a Feira Agroecológica da UEPB conta com cinco famílias que seguem realizando a entrega de produtos com agendamento prévio pelo Instagram. As famílias vinculadas ao projeto também voltaram a participar de feiras agroecológicas presenciais, às quartas-feiras no Museu do Algodão em Campina Grande, às sextas-feiras, na feira do município de Areial, e aos sábados nas feiras de Alagoa Nova, Massaranduba e Lagoa Seca.

Texto: Sandy Farias (Estagiária)
Foto: Codecom/Arquivo