Museu de Arte Popular da Paraíba promove lançamento do livro “João Paraibano, o herdeiro dos astros”

28 de setembro de 2017


“Eu nasci no Sertão e me criei/escutando o xexéu de manhãzinha/O Nordeste me deu quando eu não tinha/E Jesus me atendeu quando chamei/Poesia foi quadro que plantei/nas paredes do meu interior/O espelho da mente é refletor/Onde eu vejo Jesus quando me deito/Obrigado meu Deus por ter me feito/Nordestino poeta e cantador”. Os versos do repentista João Paraibano, em dupla com Sebastião Dias, ficaram famosos entre os admiradores da arte de versejar. João Paraibano faleceu quando contava 62 anos e, embora artista festejado, notadamente entre os cantadores de viola, a morte dele recebeu pouco destaque na imprensa.
Contudo, três admiradores de seu trabalho – também estudiosos da poesia oral, Marcos Passos, Ésio Rafael e Santanna – o Cantador, fizeram jus à memória do artista com a organização de uma coletânea com seus trabalhos. Nesse sentido, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, promoverá no próximo sábado (30), às 19h30, o lançamento do livro ‘‘João Paraibano, o herdeiro dos astros”, com entrada franca.
O livro é uma obra coletiva com versos colhidos entre os parceiros e pessoas que conviveram com João Paraibano. Traz, também, depoimentos de amigos. Originalmente, “João Paraibano, o herdeiro dos astros” é o título de uma monografia escrita por Ésio Rafael, que os outros organizadores tomaram emprestado para a homenagem. Os textos das ‘orelhas’ foram escritos por Mariana Teles e Roberta Clarissa. Já o prefácio é de Astier Basílio e a apresentação de Antonio Marinho. A editoração eletrônica ficou a cargo de Gildson Alves, enquanto a capa e as ilustrações foram feitas por Cavani Rosas.
Sobre João Paraibano e sua obra, comentam os organizadores que “são vários e profundos exemplos poéticos, líricos e metafóricos, contidos na alma de um ser humano incomum, de pouca leitura, mas que consegue emocionar qualquer cristão, ateu, rude ou acadêmico, ou causar estranhamento a quem quer que seja pela dimensão profunda de suas expressões imagéticas”. Para eles, João é um fenômeno poético. Recordando os versos “Me lembro da minha mãe/Dentro do quarto inquieta/Passando o dedo com papa/Nesta boca analfabeta/Sem saber que um dedo rude/Tava criando um poeta”, eles apontam que João foi ‘a parte’ na história da cantoria de viola nordestina a ser estudada por futuras gerações.
“Um passarinho que só comia quando cantava, porque em vida só exerceu uma única profissão: cantar de improviso. Um ser humano que cantou e vasculhou o sertão físico, geográfico e, espiritualmente, obedecendo com dignidade às regras da cantoria, no que concerne à cadência poética das sextilhas, das sete linhas, dos mourões, dos martelos e dos galopes da vida. Um ser humano que prognosticou o olhar sofrido do sertanejo de raça com o mapa da dor desenhado nos sulcos da face, fotografado por flash solares alaranjados que brilham e tremem”, assim os organizadores buscam explicar João Paraibano logo no começo da obra.
Entre os grandes nomes do livro figura o do repentista Sebastião Dias, que cantou com João Paraibano durante 36 anos, sendo um capítulo dedicado às apresentações dos dois, em congressos de cantadores, festivais e cantorias de pé de parede. O livro, impresso pela Gráfica e Editora Halley, tem patrocínio do Grupo Claudino e da Masterboi e contém 157 páginas, além de 23 fotos mostrando momentos célebres de João Paraibano. A obra será comercializada no local, pelo valor de R$ 30,00.
O lançamento de ‘‘João Paraibano, o herdeiro dos astros” no Museu de Arte Popular da Paraíba promete contar com um grande número de poetas e pesquisadores da obra do artista, perfazendo uma animada programação em homenagem aquele que é considerado um dos maiores cantadores de repente no braço da viola.
Vida e Morte de João Paraibano
Nascido em 7 de outubro de 1952, no Sítio Pica Pau, município de Princesa Isabel (PB), João Paraibano foi o terceiro João do casal Elisa e Zacarias. Os dois primeiros não sobreviveram e o casal decidiu por repetir o nome em mais um filho, que se chamou João Pereira da Luz. Provindo de uma família simples e de origem camponesa, João trabalhou na roça, no sítio onde nasceu, e também ajudou seu pai na feira de Princesa Isabel.
Na década de 1970, casou-se com a jovem Lindaura Barros da Luz. Chegando em Afogados da Ingazeira (PE), onde passou a residir, começaram suas participações nos programas de viola da Rádio Pajeú. Porém, antes mesmo disso, já havia ensaiado seus primeiros passos na profissão de violeiro, pois, ainda na região do Pica Pau, Escorregada e Cachoeira de Minas, entre outras, improvisou suas primeiras estrofes com os cantadores que costumavam passar na casa de seu pai, conhecido por acolhê-los. João jamais chegou a frequentar a escola, mas era exímio na criação de versos de improviso e, graças a esse talento natural, participou de dezenas de festivais em todo o Brasil.
Embora versasse sobre os mais variados temas, a obra de João Paraibano referente ao Sertão, tema caro ao artista, foi mostrando-se mais expressiva no decorrer dos anos, tornando-o especialista no tema. O repentista ganhou vários festivais de violeiros, com três participações no Fantástico, pela Rede Globo de Televisão, com o poeta Sebastião Dias.
Dentre os grandes nomes com quem se apresentou João Paraibano, pode-se citar Ivanildo Vilanova, Sebastião da Silva, Valdir Teles, Severino Ferreira, Severino Feitosa, Moacir Laurentino, Geraldo Amâncio, Raimundo Caetano, Nonato Costa e Raimundo Nonato (Os Nonatos), entre outros tantos artífices do improviso.
João Paraibano morreu em setembro de 2014. Atropelado por uma moto em Afogados de Ingazeira, conta-se que foi transferido para o Recife (PE), sem recursos, e que penou de hospital em hospital, sem o auxílio de nenhuma autoridade competente. Artistas e admiradores, inclusive, preparavam-se para realizar um concerto beneficente para ajudar no tratamento de saúde do violeiro, quando ele veio a falecer.
Serviço
O quê: Lançamento do livro “João Paraibano, o herdeiro dos astros”, organizado por Marcos Passos, Ésio Rafael e Santanna, o Cantador
Quando: Sábado (30/09/17)
Hora: 19h30
Onde: Museu de Arte Popular da Paraíba, às Margens do Açude Velho, em Campina Grande.
Entrada: Gratuita
Outras informações: (83) 3310-9738
Fotos: Divulgação