O 2º Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos da Paraíba teve como sede, na última sexta-feira (18), a cidade de Guarabira. Realizado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através da Pró-Reitoria de Cultura (Procult), o evento ocorreu nos períodos da tarde e da noite, numa parceria entre o Câmpus III e a Prefeitura Municipal. Como de costume, a programação se deu nas instalações da Universidade e em uma área pública do município, previamente escolhida pelo coordenador local.
No Campus III, o Encontro aconteceu no mini auditório, tendo como mestre de cerimônias o poeta e servidor da UEPB Lino Sapo. A abertura foi prestigiada pelo pró-reitor Cultura da UEPB, José Cristóvão de Andrade, pelo secretário de Cultura, Percinaldo Toscano, também coordenador do evento em Guarabira, pelo assessor da Procult, Agnaldo Barbosa, pela diretora adjunta do Centro de Humanidades (CH), Cleoma Toscano Henriques, pelo diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), Laplace Guedes, e pelo secretário do CH, Baltazar Filho.
O pró-reitor de Cultura apontou que o Encontro vem cumprindo a sua missão de defesa e valorização do sanfoneiro e do tocador de fole. “A cada dia surgem novas tecnologias, novos estilos surgem, mas dentro da nossa própria casa vemos o distanciamento dessa valorização. Se em cada cidade nós não cuidarmos disso, nossos artistas serão cada vez mais excluídos, isso será reproduzido a título de modernidade e sabemos que não é. É importante ter esse percentual de artistas incluídos na grade junina. Em Caruaru, por exemplo, no ano passado, 75% da programação era composta por artistas regionais. Nosso desejo é continuar reforçando isso e levando esse debate para a imprensa”, ressaltou.
Para Percinaldo, a parceria estabelecida entre a UEPB e a Prefeitura significa conquistas em prol de toda a comunidade. “É uma sinalização de que juntos podemos alcançamos nossos objetivos. O evento tem grande valor e nós abraçamos a causa sem nenhuma hesitação por ser um investimento na cultura popular”, disse. Cleoma, Laplace e Baltazar externaram a satisfação por receberem mais uma edição do Encontro, sempre enfatizando a qualidade do evento e seu desejo de transmissão e preservação da arte regional. Para eles, o Encontro significa enfrentar um mercado que gradualmente busca sufocar a música de raiz.
Em seguida, procedeu-se com a aula espetáculo efetivada por Luizinho Calixto. Na ocasião, Luizinho comentou o quanto o forró verdadeiro, tradicional, segue vivo. “Ano passado fui convidado a participar do festival de forró pé-de-serra que é efetuado em Belo Horizonte. Lá se ouvia Gerson Filho, Abdias, Pedro Sertanejo, Dominguinhos. Muitas vezes eu me pergunto por que, na maioria das vezes, os ouvidos de hoje em dia só escutam música de baixíssima qualidade. Há rádios em que se paga para não tocarem Luiz Gonzaga. Eu mesmo presenciei isso acontecer. Sem Luiz Gonzaga não existiria Dominguinhos. Sivuca não seria divulgado, não no Brasil”, disse.
Luizinho contou ainda sobre a turnê que fez em 2017 integrando o Festival de Forró de Zurique. “Na Europa, quase todo final de semana ocorrem festivais semelhantes. Há pessoas de todos os lugares que se pode imaginar, da Irlanda do Norte, Londres, Rússia, Suíça, França”, acrescentou. Após a preleção de Luizinho, ainda no auditório, iniciaram as apresentações dos inscritos, acompanhados pelos professores do Centro Artístico Cultural da UEPB, João Batista e Erivan Ferreira. Também se exibiram João e Marcelo Calixto, além do sanfoneiro mirim Raí Bezerra.
Da equipe da Procult participaram, ainda, os servidores Alberto Alves e Igor de Carvalho. À noite o espetáculo continuou, tendo como sede o Memorial do Cordel José Camelo de Melo Resende.
A sanfona e seus admiradores
Admirador da sanfona, o guarabirense Paulo Atanásio fez questão de prestigiar a apresentação dos sanfoneiros no Centro de Humanidades. “Já assisti muitos festivais com Marinês e Gonzagão. A sanfona é um instrumento musical que me encanta. Quando soube do evento, não pensei duas vezes. É, sem dúvida, um resgate da cultura nordestina”, disse.
Pela segunda vez o artista Éricles Barbosa, 21, se inscreveu para participar do Encontro de Sanfoneiros. Natural da cidade de Guarabira, há três anos desempenha sua arte. Para ele, que vem de uma tradicional família de sanfoneiros, o evento representa uma oportunidade para aprender cada vez mais com os grandes mestres. “Além do prazer de ver os amigos da região tocando, é sempre uma satisfação ouvir as palavras dos mestres aqui reunidos, sobretudo as de Luizinho Calixto. Isso é o que nos motiva a voltar a cada edição”, relatou Éricles, que foi premiado com o Troféu Dominguinhos na etapa local do 1º Encontro de Sanfoneiros, como destaque no acordeon.
O experiente sanfoneiro Novinho do Acordeon também esteve presente no evento. Com 66 anos de idade e mais de 40 anos de profissão, o guarabirense destacou que o Encontro de sanfoneiros significa, para ele, compartilhar o prazer de tocar sanfona. “Esse instrumento está no sangue. O gosto pela sanfona está na nossa família desde a época dos meus avós”, concluiu.
Fotos: Hugo Tabosa, Lisiane Santos de Almeida e Uirá Agra