Antes de ser composto por um acervo privilegiado que transborda a criatividade do nosso povo, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, é feito, principalmente, por gente. São pessoas que se debruçam sobre a cultura regional, estudam, pesquisam e transmitem tudo que aprenderam. É nessa seara que se destaca o projeto de extensão “Informação e Interação no MAPP: Suporte de Atenção aos Visitantes”, coordenado pela professora Cássia Lobão Assis e integrado por 16 estudantes de graduação da UEPB, oriundos das mais diversas áreas.
A iniciativa, voltada essencialmente para o acolhimento daqueles que vão conhecer o MAPP, existe desde 2014, quando o Museu abriu suas portas ao público. “Como a Universidade é muito plural, há alunos de todos os cursos, provenientes de Humanas, Exatas, Ciências da Natureza… Reunimos estudantes preparados para atenderem a demanda de usuários do MAPP, por meio de um treinamento sistemático e contínuo, para o acompanhamento criterioso e com informações objetivas e pertinentes ao acervo. Eles atuam, ainda, orientando quanto à condução dos visitantes no local”, explicou Cássia.
Devidamente identificados por fardamento com a logomarca do Museu, os bolsistas participam do projeto mediante uma escala previamente elaborada por eles junto com a coordenadora. Assim, comparecem regularmente ao MAPP por quatro horas diárias, em dois dias por semana, tendo um plantão quinzenal aos finais de semana. Todo o processo é regulamentado via Resolução UEPB/CONSEPE/004/2012 que dispõe sobre as condições de vínculo aos projetos de extensão na UEPB.
Dessa maneira, foi possível engajar os usuários do Museu, bem como os alunos selecionados, num processo de aprendizado constante e suplementar às atividades desenvolvidas em cada curso de graduação a que estão ligados. “Acompanhamos o interesse crescente deles pelas expressões populares paraibanas. A partir do que temos disponível enquanto acervo e considerando a pluralidade do público-alvo, no tocante a faixa etária, escolaridade, local de origem, entre outros fatores, contribuímos para a compreensão da arte regional em suas vertentes estéticas, históricas e conceituais”, afirmou.
Para a professora, o projeto vem atendendo os objetivos a que se propõe, a saber: consolidação da abordagem acadêmica acerca do papel dos museus na sociedade contemporânea, contribuição para o fortalecimento da interação entre a UEPB e a comunidade, através de um suporte relevante para a cidade de Campina Grande, e a compreensão da prática extensionista nesse cenário peculiar, que agrega uma diversidade de sujeitos e ações.
“Devemos ressaltar ainda que, nos nossos treinamentos sistemáticos, os jovens foram preliminar e constantemente orientados para assimilar o Museu como Instituição sem fins lucrativos, de natureza cultural que conserva, investiga, comunica, interpreta e expõe, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de outra natureza cultural, abertos ao público, a serviço da sociedade e de seu progresso. Nesse contexto, o Museu configura-se como um agente que amplia e potencializa a dimensão educativa da UEPB”, endossou Cássia.
Atualmente compõem o quadro de monitoria do Museu os estudantes Alanna Ester Lopes Amorim, Andreza Ewelyn de Souza Silva, Breno Marcondes Almeida de Souza Silva, Douglas dos Santos Silva, Emanuelly Shayene Morais Nogueira, Gustavo Lima Gomes da Silva, Henrique Lima Barbosa, Isabella Sthephany Alves Gomes, José Pedro da Silva Júnior, Léia Caroline de Souza Bezerra, Maria Shyrlaine Elpídio da Luz, Mariana Marcelino de Souza, Myrlla Raffene dos Anjos, Nayala Gomes de Lacerda, Raviny Larissa da Silva Ramos e Stefhany Nascimento Silva.
Oxente e Fisioterapia
Para o ex-monitor Rodolfo Catão, morador de Queimadas e estudante do curso de Fisioterapia, participar do projeto de extensão trouxe mais orgulho de ser paraibano. “Aqui vemos e ouvimos vários motivos para sermos gratos por toda Cultura que nosso Estado possui e mostra para o Brasil e para o mundo. Na minha formação de Fisioterapia tem oxente e muito reconhecimento pelas nossas raízes. A questão da humanidade e da palavra, pois às vezes é isso que falta a um paciente, por exemplo, também pude apreender de modo mais efetivo nesse espaço”, conta.
“Cada visitante que chega aqui é um aprendizado”, explica a monitora Alanna Ester Lopes Amorim, moradora do Centro. Alana estuda Direito na UEPB e veio para Campina para estudar, mas é natural do Piauí. “Essa aproximação com a Arte da Paraíba é um privilégio. Quando vim para cá eu só conhecia Elba e Zé Ramalho. Uma das coisas que mais gostei de ver foi o processo criativo da Xilogravura”, afirma.
Gustavo Lima Gomes da Silva, residente no bairro da Liberdade, é estudante de Geografia e conta que a experiência adquirida no MAPP servirá não apenas profissionalmente. “É muito prazeroso estar aqui, é uma vivência marcante que também faz parte da minha história pessoal. É uma interação bem completa e diferenciada, pois se dá com estudantes de outros cursos, visitantes, professores, funcionários… Fiz bons amigos”, disse.
Já Andreza Ewelyn de Souza Silva, que mora no bairro das Malvinas e faz Jornalismo, explanou que a monitoria a auxiliou sobremodo no quesito timidez. “A oratória foi o que mais melhorou, hoje tenho bastante segurança para falar em público”, detalha. Andreza assinalou que muitos fãs dos artistas paraibanos dão verdadeiras aulas aos bolsistas quando visitam o Museu. “Os saberes vêm não apenas nos treinamentos que recebemos”, acrescenta.
Coisas estranhas acontecem
Rodolfo recorda de duas histórias inusitadas quando estava na monitoria do MAPP. Uma delas diz respeito a um visitante da Sala 2 – Música, que a época trazia uma exposição sobre Elba Ramalho. “Um senhor começou a entrar por debaixo do vestido da artista, que estava no manequim. Ele disse que queria estar mais perto de Elba, senti-la”, relembra.
A outra ocasião refere-se também à Sala 2, que, na oportunidade, mostrava a obra da cantora Marinês [1935-2007]. “Essa área é bastante ventilada devido ao Açude Velho, mas quando as roupas de Marinês giravam o pessoal comentava que era a alma da artista visitando o Museu”, aponta.
Fotos: Hugo Tabosa