Livro do escritor José Lins do Rêgo é escolhido como destaque de setembro do projeto “Obra do mês”
Entre o texto e o contexto, a memória pessoal e a coletiva, a formalização estética e o processo social encontram um novo momento de estética literária instaurado no cenário cultural brasileiro: o regionalismo. Ao lado de nomes como Raquel de Queiroz, Jorge Amado e Graciliano Ramos, marca-se o de José Lins do Rêgo, paraibano da cidade de Pilar, representante importante dessa nova escrita literária.
Considerando toda a importância de um dos principais autores da Literatura Brasileira, o projeto “Obra do mês”, desenvolvido pela Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) escolheu o romance “Usina”, de 1936, como livro de destaque durante todo este mês de setembro.
A escolha da obra, a penúltima do “Ciclo da cana-de-açúcar”, ocorre no mês que marca os 62 anos da morte do escritor. Ela também justifica a relevância estética e cultural para a região Nordeste, além de se caracterizar como um romance em que José Lins do Rêgo concede voz e representatividade a inúmeros personagens, especialmente aos desfavorecidos, aspecto que o diferencia das demais produções, já que, por vezes, essas vozes foram silenciadas em outras narrativas do mesmo autor.
A primeira edição de “Usina” pode ser consultada de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida, situada no primeiro andar do Prédio Administrativo, no Câmpus I de Bodocongó, em Campina Grande. A obra também destaca-se pelo modo singular que o escritor paraibano recria, por meio das imagens literárias, um cenário de súbita transformação, que alcança tanto a vida dos trabalhadores da zona canavieira nordestina, como também dos trabalhadores urbanos que iniciavam suas primeiras reivindicações de caráter trabalhista, retomando em sua escrita parte da discussão apresentada pelo autor em obras anteriores.
O “Ciclo da cana-de-açúcar” citado acima constitui por seis romances: Menino de Engenho (1932); Doidinho (1933); Banguê (1934); Moleque Ricardo (1935); Usina (1936) e Fogo Morto (1943). José Lins do Rêgo consolida nesses romances, por meio dos ambientes e dos sujeitos retratados, um enaltecimento ao tempo de engenho, estabelecendo uma crítica a sua época e à rápida modernização, amparada por um discurso do determinismo tecnológico. Assim, a leitura de suas obras não reconduz apenas às tensões sociais, aos aspectos sociais e econômicos ou ainda às relações de poder e aos conflitos humanos vivenciados naquele contexto, mas reestabelece também os discursos produzidos naquele imaginário cultural e consolidados numa linguagem simples, melódica e regional.
Texto: Ana Carolina Aragão