Pró-Reitoria de Cultura da UEPB e Museu de Arte Popular acompanham artistas em editais de fomento

15 de outubro de 2020

Obter fomento de órgãos públicos ou da iniciativa privada no que se refere a editais de incentivo à cultura é sempre um desafio para qualquer artista. É um conhecimento ainda muito específico e restrito, e a burocracia o mais das vezes é assustadora, posto que deve-se atentar para inúmeros detalhes no momento da elaboração do projeto, ou corre-se o risco de não preencher a variedade de critérios necessários à aprovação. Desde 2017, contudo, a Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), dá esse suporte através da professora Joseilda Diniz, uma das curadoras da Sala de Cordel do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP).
Naquele ano foram efetuados e encaminhados nove dossiês de candidaturas ao MinC – Prêmio Culturas Populares – Edição Leandro Gomes de Barros. Pode-se destacar entre outros, neste trabalho, o poeta declamador e cordelista, Chico d’Assis, que foi classificado em todas as etapas; o poeta, cordelista, editor e xilógrafo Marcelo Soares, que foi premiado; e o poeta, editor e cordelista, Manoel Monteiro (premiado in memoriam). A premiação era de R$10 mil.
No ano seguinte, foram preparados documentos de candidatura de artistas paraibanos, com anuência das respectivas famílias, ao Edital Rumos Itaú Cultural, em nome de Maria de Lourdes Nunes Ramalho, Toinho da Mulatinha, José Laurentino Silva e José Alves Sobrinho, entre outros. Já em 2019, nesse sentido, houve duas premiações com o mesmo valor: Luiz Amorim e Jô Oliveira.
“Há algum tempo, observava a quantidade de editais publicados e a ausência da participação dos mestres locais. Também percebia como é difícil para eles venderem o seu fazer artístico, pois muitos não conseguem constituir um projeto que se adeque às prerrogativas exigidas. Então essa foi uma iniciativa voluntária dentro do que acredito que seja uma consultoria, em um espaço como o MAPP, ligado aos mestres e a cultura das tradições orais”, informou.
Para Joseilda, que se diz cria desses dois mundos, o da oralidade e o da escrita, é essencial que seja perpetuada a tradição deles. “Meu desejo é que as famílias desses poetas encontrem oportunidade para que as obra deles sejam salvaguardadas. O objetivo é que esse legado não seja esquecido, que possa, inclusive, ser adquirido por instituições públicas e inserido em políticas de edição e divulgação. Vejo como uma responsabilidade que, na medida do possível, eles tenham seu espólio protegido e propagado e, mesmo quando não estejam mais presentes, sua produção não caia no limbo”, disse.

Testemunha do gênio dos poetas, com quem conviveu ao longo de sua trajetória, a exemplo de José Alves Sobrinho, Lourdes Ramalho, Manoel Monteiro e Toinho da Mulatinha, ela enfatiza que deve muito aos bardos. “Não consigo olhar para os nossos mestres com a distância de objetos de pesquisa, eu os vejo como sujeitos poderosos, capazes de construir e desconstruir, de dizer verdades e pôr as coisas em seus devidos lugares, porque nós, pesquisadores, com nossas arrogâncias acadêmicas, muitas vezes não conseguimos, falamos coisas sem propriedade. Mais do que afirmar que sou mestre e doutora, digo que tenho uma vivência real, experienciada, com esses mestres”, acrescentou.
O primeiro projeto feito por Joseilda nesse âmbito foi no período em que trabalhou na Biblioteca Átila Almeida da UEPB. Em 2011, o local recebeu incentivos por meio de um edital publicado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Atualmente a professora desenvolve dossiês para João Calixto, Luizinho Calixto e Biliu de Campina, para que sejam beneficiados através da Lei nº 7.694 de dezembro de 2004, conhecida como “Lei Canhoto da Paraíba”, que visa proteger e valorizar os fazeres e expressões das culturas tradicionais do nosso Estado.
 
Texto: Oziella Inocêncio
Foto: Arquivo Pessoal