Centro Artístico Cultural da UEPB se consolida como lugar das artes e do pensamento em Campina Grande

10 de novembro de 2020

O Centro Artístico Cultural (CAC) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) é uma espécie de oásis do fazer criativo e do subjetivo em meio a dureza do concreto onde é situado, na maior área comercial de Campina Grande. Um dos braços da Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da Instituição, o CAC tece a arte a partir de uma dimensão prática e totalmente inclusiva e gratuita, ofertando vários cursos livres, com um corpo docente composto por renomados artistas locais.
Instalado na Avenida Getúlio Vargas, no Centro da cidade, no edifício histórico que durante décadas abrigou a Faculdade de Administração da UEPB, o espaço foi constituído no ano de 2013 ao unir-se à Casa Brasil, que ministrava atividades semelhantes. Naquele período somava 10 oficinas – Violão, Sanfona, Percussão, Teatro, Pintura, Dança de Salão, Canto Coral, Jogos Teatrais, Balé e Dança de Salão. Até os dias atuais o CAC só cresceu, sendo incrementado com mais professores e outros cursos, como o de Iniciação à Sanfona de Oito Baixos e o de Filarmônica. Também teve suas turmas aumentadas, como as de Dança de Salão e Balé.
Foi um verdadeiro salto. Para se ter uma ideia, em 2010, no que pode ser chamado de “embrião” do CAC, quando a UEPB passou a desenvolver ações similares, 167 pessoas foram contempladas, conforme relatório efetuado pelo setor. Hoje são mais de 900 alunos em 13 cursos. “Os estudantes residem em bairros como José Pinheiro, Catolé, Malvinas e em localidades próximas, a exemplo de Esperança. A faixa etária vai dos 8 aos 80 anos. Todos os cursos alcançam uma alta demanda de matrículas e listas de espera”, informou a diretora, Patrícia Lucena.
A equipe dispõe atualmente de 13 professores, três assessores administrativos, seis vigilantes e três auxiliares de serviços gerais, segundo ela. E mais: o Centro não para. Funciona nos turnos da manhã, tarde e noite. Talvez por esse motivo foi escolhido, em 2018, como receptáculo do Programa Funarte de Capacitação Técnica. Na Rainha da Borborema, a Fundação Nacional de Artes ofereceu oficinas abrangendo Artes Cênicas, Artes Visuais e Música. Foram promovidos, igualmente, seminários abordando Arte e Educação, História da Arte e História da Música.
Um amplo suporte
Mais do que dar o suporte necessário para quem deseja ingressar de fato no universo da arte, o Centro também se notabilizou entre a comunidade como lugar do pensamento e atividades intelectuais, sediando reuniões, lançamentos de livros, simpósios, intervenções e fóruns diversos. “Recebemos muitos eventos e discussões tendo como ponto principal a temática artística. Estas instituições e grupos buscam o CAC na certeza de seu incentivo. Algumas dessas ações, inclusive, são apoiadas diretamente pelo Centro. Com estas iniciativas ficamos mais bem informados do cotidiano da cidade e de suas novas expressões. Por outro lado, é um modo de estarmos mais próximos da mantenedora da UEPB, que é a sociedade paraibana”, explicou o pró-reitor adjunto de Cultura, professor Chico Pereira.
Em dezembro já são tradicionais no Centro os chamados “eventos de culminância”. Nessas ocasiões, bastante aguardadas, em especial pelos amigos e familiares dos alunos, os estudantes orientados por seus professores realizam exibições gratuitas para uma grande plateia, mostrando tudo que aprenderam. O Sesc Centro/CG, parceiro do CAC há muitos anos, usualmente cede seu cineteatro para algumas destas apresentações.
“Além disso, graças ao talento de seus docentes, artistas conhecidos pela excelência de seu trabalho, costuma-se buscar no CAC o fornecimento gratuito de atrações culturais para eventos. Em sua maioria, são Organizações Não Governamentais (ONG’s), órgãos públicos e instituições de ensino que fazem festas juninas, tributos, festivais, mostras, feiras literárias ou simplesmente celebram uma data relevante, como o Dia Nacional da Caatinga, e se utilizam da expertise do CAC para fechar sua programação. Os professores se voluntariam e atendem ao chamado sempre que possível, estando, ainda, ativamente no dia a dia da UEPB, apresentando-se em oportunidades diversas, quando solicitados”, disse o pró-reitor de Cultura, professor José Cristóvão de Andrade.
Capítulo à parte
Capítulo à parte na história do Centro Artístico da UEPB foi a implantação dos cursos de sanfona, pois havia uma alta demanda nesse sentido em Campina. Prova disso é que os alunos vêm de inúmeros locais para assistirem as preleções: Barra de Santana, Riacho de Santo Antônio, Fagundes, Olivedos, Soledade, Pocinhos, Puxinanã, São João do Cariri, entre vários outros municípios.
A busca pelo conhecimento contido no CAC surge, igualmente, em outros países. No início de 2020, por exemplo, o Centro recebeu a acordeonista francesa Lolita Delmonteil-Ayral, que conseguiu uma bolsa de estudos em seu país, exclusivamente para estar no curso de Sanfona de Oito Baixos do CAC. Encantada, Lolita falou do seu aprendizado e sobre como isso estava mudando sua vivência profissional. “É impressionante, original demais, um jeito diferente de tocar, com outro balanço que certamente levarei para os meus shows”, assinalou ela.
Além dele, que é ministrado por Luizinho Calixto, um mestre quando se fala no instrumento, o CAC possui dois cursos na área: o Sivuquiando e A Sanfonada. O primeiro, tem como professor João Batista, o segundo, Edglei Miguel. O Sivuquiando foi implantado em 2012, o Curso de Fole de Oito Baixos no ano seguinte e em 2014 iniciou-se A Sanfonada. Hoje, os três juntos possuem aproximadamente 100 estudantes, mas estima-se que 700 pessoas participaram das preleções deles. A faixa etária percorre dos 15 até os 75 anos.
Interessante ressaltar, a respeito do fole de oito baixos, que existem poucos instrumentistas no segmento, correndo o risco, inclusive, de ter sua música extinta, mas esse cenário adverso vem mudando com o curso da UEPB, trazendo sua popularidade de volta. Ademais, todos os anos, Luizinho Calixto percorre os oito campus da Universidade durante o Encontro de Sanfoneiros, realizando palestras e apresentações com o instrumento. Aclamado entre seus pares e pela comunidade que acompanha a música de raiz, Luizinho narra sua caminhada artística, atravessada por medalhões nordestinos, como Luiz Gonzaga, discorre sobre a afinação do fole e dá dicas básicas em uma aula espetáculo bastante concorrida.
Cursos do CAC vão até a comunidade
Seguindo a tônica de incentivar a produção artístico-cultural como fio condutor para novas perspectivas e valores mais inclusivos, a UEPB também está presente nas comunidades de Campina, com dois cursos: Violão, no bairro do Quarenta, e Filarmônica, no bairro de Santa Rosa. A premissa destas ações é facilitar o acesso à esfera criativa, especialmente em locais pouco abastados do ponto de vista financeiro.
O curso de Filarmônica teve início em 2010 e desde o começo do projeto as aulas e ensaios ocorrem no salão da Igreja de Santa Rosa de Lima. O espaço é cedido gratuitamente pela gestão da Igreja. A iniciativa foi idealizada pelo então chefe de Gabinete da UEPB, José Benjamim Pereira Filho, e teve como professor o maestro Jomar Souza. Em 2019, Jomar precisou afastar-se do cargo e um dos alunos dele, Brunno Giovanni, assumiu como docente.
No curso são ensinados conteúdos como teoria musical, leitura de partitura e execução em instrumentos de sopro, entre outros. Estima-se que mais de mil estudantes já passaram pela atividade, sendo que, apenas no último ano, 100 pessoas foram beneficiadas, segundo Bruno.
Atualmente o curso conta com 20 integrantes regularmente inscritos, entre veteranos e novatos. A maioria é oriunda do próprio Santa Rosa e arredores, porém, não existe restrição de endereço para se tornar aluno. No que trata da faixa etária, a idade mínima é de 10 anos. Quanto à idade máxima, não há limite. As aulas acontecem às segundas e quartas-feiras, das 14h às 15h30.
“Fazer parte disso me traz orgulho e gratidão. Orgulho de estar sendo um vetor de cultura para o bairro e dar continuidade ao trabalho feito pelo professor Jomar. Gratidão por contribuir positivamente para a sociedade. O projeto tem um impacto imenso na comunidade do Santa Rosa, fazendo com que crianças, adolescentes e adultos estejam próximos da cultura e da música”, ressaltou Bruno.
Em 2017, o pró-reitor de Cultura José Cristóvão de Andrade idealizou estender o projeto para o bairro do Quarenta, com o curso de Violão, e a Reitoria da UEPB concedeu total apoio. De acordo com o professor Caio César, de lá para cá 200 alunos estiveram nas práticas. Hoje há 25 estudantes matriculados. Para compor o curso basta ter a partir de 8 anos.
As aulas acontecem na sede da Sociedade de Amigos do Bairro (SAB), todas as segundas-feiras, das 14h às 17h.  “Para mim este projeto é muito importante porque, além de ser de grande alcance social, mostra como a UEPB acredita no poder transformador da cultura e oportuniza isso para qualquer pessoa que tenha realmente o interesse em aprender”, enfatizou Caio.
 
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos:
Arquivo Procult