Não teve confete, nem serpentina, só mascarados. Em decorrência da pandemia da Covid-19, o Bloco da Cinquentinha e as agremiações da Rainha da Borborema não puderam desfilar este ano. Mas, na tarde desta quinta-feira (11), o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), reuniu nomes expressivos do Carnaval de Campina Grande. Promovido em formato de “live” e transmitido via Facebook pela página UEPB Oficial e pelo canal Rede UEPB no YouTube, o evento obedeceu aos protocolos sanitários vigentes e foi realizado pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult).
A iniciativa contemplou uma exposição trazendo itens usados por diversos grupos da cidade, que acompanham o Bloco desde o começo. O objetivo era agradecê-los e celebrar os seis anos do Cinquentinha. Presentes à ocasião estavam o pró-reitor de Cultura da Universidade, José Cristóvão de Andrade; o pró-reitor adjunto de Cultura e diretor do MAPP, José Pereira da Silva; a diretora do Centro Artístico (CAC) da UEPB, Patrícia Lucena; o coordenador de comunicação, Hipólito Lucena; o diretor do Bloco Jacaré do Açude Velho, Flávio Cândido Freire; e a professora Eneida Agra Maracajá, diretora do Festival de Inverno e fundadora do Bloco da Saudade.
Para representar a família de Zé Neto, ativista cultural dos folguedos campinenses, homenageado in memoriam, foi convidada a filha dele, Waleska Alexandre. Compareceram, ainda, integrantes do movimento carnavalesco de Campina, a exemplo de Shamon Gonçalves, oriundo do Unidos do Quarenta e Ricardo Santos, proveniente do Boi Racionais, além do coreógrafo Mauro Araújo. O evento teve, igualmente, a participação de professores do CAC, a exemplo de Caio César, Brunno Giovanni, Chico Oliveira, Erivan Ferreira, Roberto Almeida e Sueudes Porto, bem como da equipe do MAPP, tendo à frente Cíntia Camila, Laert Pinheiro, Sandrinho Dupan e Ramon Lima, entre outros.
A Orquestra Jovens da Borborema procedeu com a execução de várias marchinhas. Em um estandarte podia-se ver, pintado, o rosto do idealizador do Cinquentinha, o professor José Benjamim Pereira Filho, laureado na oportunidade. A arte foi feita pela professora de Desenho e Pintura do CAC, Lili Brasileiro, especialmente para o momento, e também dispunha do tema abordado na atividade, “Vacina Já: uma dose de esperança”.
“Nas minhas raízes socioculturais estão as manifestações populares, entre as quais as festas do povo. Guardo nas profundezas da memória o som e as danças do São João, dos pastoris, dos carnavais. Tenho muito respeito e carinho pela arte e a educação popular, as quais considero elementos dinamizadores da vida social. Daí participei da criação do Bloco da Cinquentinha, em menção aos 50 anos da UEPB. Propunha vincular o meio século da Instituição aos clarins das ações populares e democratizantes que a Universidade construía”, apontou o professor Benjamim, agradecendo a homenagem.
Em sua fala, o pró-reitor de Cultura traçou um panorama histórico do Cinquentinha, perpassando os marcos do bloco e alinhando-os ao contexto dos folguedos tradicionais no município. “É uma alegria estarmos aqui juntos hoje, mesmo que não da maneira habitual, recordando e debatendo esse tópico tão relevante para Campina”, explicou Andrade. Já o pró-reitor adjunto destacou a importância desse registro para a cena artística e a comunidade. “É um dia especial para marcar o carnaval e dar visibilidade a nossa trajetória”, pontuou Pereira. Ambos externaram admiração pelo Bloco da Saudade, que celebra 30 anos em 2021.
Revitalização
Em Campina, o Carnaval teve uma retomada expressiva principalmente nos últimos anos, posto que inúmeras agremiações surgiram, costurando praças e alamedas com a espontaneidade peculiar à época. Blocos como o Jacaré do Açude Velho, que estreou em 2011, por exemplo, estão na proa do processo de revitalização do carnaval de rua do município, puxados pelo Bloco da Saudade, fundado em 1991, um dos mais antigos da cidade. Nessa dobra do tempo, a coletividade só ganhou força, enfatizando quão valiosa é a memória, mas também atenta às novas configurações nas formas de fazer e desfrutar os festejos de Momo.
“O Jacaré é parceiro do Cinquentinha desde o começo e o Cinquentinha nos prestigia em nosso desfile. Ficamos muito felizes com a criação do Bloco da Universidade e satisfeitos com essa união”, detalhou Flávio Cândido Freire.
Eneida Agra Maracajá, que inclusive já foi homenageada pelo Cinquentinha, afirmou que o Bloco da UEPB dá uma contribuição enorme para toda a sociedade. “É a cultura garantindo ao povo a vivência do passado, no hoje, para o fortalecimento da nossa identidade. Juntos, temos mostrado que Campina tem, sim, seu Carnaval e parabenizo a UEPB pela presença ativa nesse contexto”, concluiu.
Caldo Cultural
Anualmente, o CAC, situado no Centro da cidade, passa por uma verdadeira transformação, ganhando uma decoração multicolorida para receber os foliões do Cinquentinha. Os professores do local, oriundos das áreas de música, dança, teatro e pintura, e o Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, sempre participam das festividades, conferindo diferentes performances à ocasião. Os alunos, igualmente, integram o evento em grande número, caso, por exemplo, das turmas do Curso de Dança de Salão.
“Infelizmente, esse ano não foi possível nos encontrarmos. Ficamos tristes, em especial pelas pessoas que se alegram tanto com a saída do Bloco, mas que elas saibam que estão em nosso pensamento”, explanou a diretora do CAC, Patrícia Lucena.
Outro ponto alto do Cinquentinha é o entusiasmo trazido pela Universidade Aberta à Maturidade (UAMA) da UEPB, que todos os anos honra o Bloco com a sua aparição. São dezenas de estudantes com sombrinhas em cores vivas, maquiagens divertidas, fantasias variadas e adereços que eles mesmos confeccionam para entrar no clima da comemoração.
Engrossando a efervescência desse caldo cultural, seja no trio ou no palco montado ao lado do CAC, medalhões da música fazem questão de tomar parte no Bloco, somente por simpatia à causa, ou seja, sem receber nenhum cachê por isso, a exemplo de Biliu de Campina e Baixinho do Pandeiro. Some-se a isso, o engajamento de moradores dos bairros Rosa Mística, Santa Rosa, Liberdade e José Pinheiro, entre outros, de algum modo ligados às práticas carnavalescas do município. É o caso de Shamon Gonçalves, do Unidos do Quarenta. “Para nós, é motivo de muito contentamento o convite para estar no Cinquentinha e desejamos longa vida ao Bloco da UEPB”, ressaltou.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Hugo Tabosa