UEPB promove “Roda de diálogo 100 anos de Paulo Freire” com homenagem ao professor Cícero Agostinho
Na tarde da última quinta-feira (29), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) promoveu mais uma roda de diálogos, tendo como cerne a vida e a obra de Paulo Freire, em comemoração ao centenário do educador. A ocasião também objetivava enaltecer o legado do professor do Departamento de Educação da UEPB, Cícero Agostinho Vieira, fundador do Grupo de Estudos Paulo Freire (GESPAUF). Poesia e música integraram o evento, realizado virtualmente e transmitido pela Coordenadoria de Comunicação (CODECOM) da Instituição, pelo canal Rede UEPB, no Youtube.
A iniciativa se deu através de uma parceria entre a Pró-Reitoria de Cultura (PROCULT), o GESPAUF, o Centro de Educação (CEDUC), a Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB) e a Comissão 100 anos de Paulo Freire.
Na oportunidade estavam a reitora da UEPB, professora Célia Regina Diniz; o pró-reitor de Cultura, professor José Cristóvão de Andrade; os docentes José Arlindo de Aguiar Filho e Margareth Melo, diretor e diretora adjunta do CEDUC, respectivamente; e o professor Afonso Celso Escocuglia, que dispõe de reconhecida atuação no campo do pensamento freiriano. A parte artística do evento coube a Caio César, docente do Centro Artístico Cultural (CAC) da UEPB e ao presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB), Marconi Araújo.
A família de Cícero Agostinho marcou presença, com as suas filhas Karla Nascimento Vieira e Kilma Sousa, sua irmã Margarida Brasil e a sobrinha Samyra Brasil. A data escolhida para a iniciativa, registrava um ano de falecimento do docente.
Também foram convidados a viúva do professor Cícero, Maria de Lourdes Vieira, e o Frei Alexandre de Lima, amigo com quem Cícero partilhava sua simpatia pela ordem franciscana, além de Elizabete do Vale, membro da Comissão 100 anos de Paulo Freire.
O evento contou com grande audiência online. Na plateia virtual figuravam Lenida Cordeiro, Karla Estrela, José Jakson Amancio, Marlúcia Almeida, Joseilda Diniz, Angela Albino, Edjane Oliveira, Joselma Lucia, Karina Meireles e Maria das Graças de Lima, entre outros.
A abertura dos trabalhos foi efetuada pela reitora. Em sua fala, Célia pontuou que em um tempo tão difícil, marcado pelo adoecimento físico e mental, e pela negação à ciência, discutir a obra freiriana é ainda mais relevante. “Paulo Freire sempre incentivou ações pedagógicas que contribuíssem diretamente para a construção de uma nova sociedade, rompendo com práticas conservadoras em que prevalecem o poder econômico, o machismo, o racismo e todo tipo de preconceito. A educação humanizadora, inclusiva, libertadora e que desperta o senso crítico nos estudantes é aquela em que nós acreditamos”, ressaltou.
A reitora também lembrou que o professor Cícero Agostinho foi seu professor de Metodologia Científica, quando ela cursava mestrado. “Era uma pessoa agradável, competente, dinâmica. Um docente zeloso e querido, é uma homenagem muito merecida”, explicou.
Para a professora Margareth, o ano Paulo Freire na UEPB intensificou a abordagem das ideias do educador, no convívio acadêmico da Instituição. “Essa comemoração vem nos questionar quanto do pensamento de Freire estamos usando em sala de aula. Ouvir o estudante, se colocar como aprendiz, dialogar, são aspectos intrínsecos à obra dele”, assinalou.
O pró-reitor de Cultura explanou que um dos maiores objetivos de Cícero Agostinho era que o centenário de Paulo Freire fosse celebrado na UEPB. “É uma satisfação para nós a promoção desse evento que une dois grandes professores. O mundo aplaude o gênio de Paulo Freire, e também aplaude Cícero, porque à frente do GESPAUF ele tinha em mente a aplicação das propostas de Freire. Era uma pessoa encantadora. Com a instituição do ano Paulo Freire na UEPB, pelo Conselho Universitário, nós temos dezenas de docentes envolvidos no ‘esperançar’ freiriano, em um contexto nacional em que isso é sobremodo necessário”, apontou.
O professor Arlindo acrescentou que em mais um ano cheio de especificidades, assolado pela pandemia, trazer o legado de Paulo Freire para o debate, de uma forma efetiva, configura-se como um momento estimulante. “É bonito ver os professores engajados, aprofundando seus conhecimentos nos escritos de Freire, discutindo continuamente a educação, questionando-a, como ele propunha. É animador”, concluiu.
Freire em cinco tempos
Estudioso da obra de Paulo Freire, o professor Afonso Celso Escocuglia rememorou sua amizade de 35 anos com Cícero Agostinho. “A admiração que ele tinha por Freire não era meramente retórica. Cícero tinha muitas características do pensamento de Paulo Freire, como a humildade e a bondade”, disse.
Em sua preleção, Escocuglia dividiu a vida e a obra de Freire em cinco tempos e enfatizou a atualidade das ideias freirianas. “Hoje, por exemplo, quando se debate a imigração, um tema dramático sobretudo na Europa, utiliza-se Freire como aporte”, afirmou.
A “linha do tempo” freiriana, feita por Afonso, abordou desde a prisão na Ditadura Militar e o posterior exílio, até a passagem de Freire por Harvard, nos Estados Unidos. Outro ponto perpassado por ela foi quando Freire integrou-se ao Conselho Mundial de Igrejas. “E quem não conhece esse grande elemento em sua biografia, esse trabalho social junto à igreja dos pobres e aos esfarrapados do mundo, não pode compreender a amplitude do saber dele”, salientou.
Texto: Oziella Inocêncio