“Cenas e Poemas”: aberta a exposição de fotografias e poesias que retratam o cotidiano dos índios Potiguara
Os povos indígenas possuem uma herança de valor inestimável que tem se perpetuado no tempo e na história. A riqueza cultural, os costumes, a religiosidade, o manejo com a terra, a boa relação com a natureza fazem parte deste povo guerreiro e desbravador. Na Paraíba, parte dessa cultura, herdada dos índios Potiguaras, está instalada na Aldeia Galego, Alto do Tambá, na Baía da Traição, litoral Norte do Estado.
Parte desta história, com todo o seu valor cultural e riqueza de detalhes, pode ser vista na exposição fotográfica “Potiguara: Cenas e Poemas”, da jornalista e fotógrafa da Coordenadoria de Comunicação (CODECOM) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Paizinha Lemos, e da professora do Departamento de Educação, Normana Natália Passos.
A exposição foi aberta oficialmente nesta terça-feira (17), no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), com a presença das autoras, de representantes da tribo Potiguara, sob a liderança do pajé Antônio, e diversos professores da UEPB. A reitora Célia Regina Diniz, e da vice-reitora, Ivonildes Fonseca, também participaram da abertura.
A exposição faz parte da programação do MAPP e da 20ª edição da Semana dos Museus e pode ser vista pelo público durante todo este mês de maio. O trabalho, que nasceu do olhar sensível e peculiar de Paizinha em captar cenas de relevante valor histórico, e da pesquisa de doutorado da professora Normana Natália, traz à luz cerca de 30 fotos e 14 poemas que retratam o universo indígena Potiguara, a exemplo de sua lida cotidiana e vivências atuais, como as atividades de caça e pesca.
Antes da abertura oficial, a família de índios potiguara fez uma apresentação do Toré, uma dança do povo indígena. Pela primeira vez em Campina Grande, o pajé Antônio mostrou um pouco da cultura do seu povo, trazendo alguns elementos como a crença e a religiosidade. Poeta, o pajé recitou de forma improvisada algumas poesias e não esqueceu o gesto da UEPB em valorizar a tribo. Ele fez um agradecimento especial às autoras pela iniciativa.
Após as apresentações culturais, o público pode, enfim, visitar a exposição. A reitora Célia Regina classificou como importante a mostra, visto que conhecendo a história, as memórias e a cultura do povo indígena potiguara, é possível defender essa cultura tão rica. Ela lembrou que ao longo da história, os povos indígenas tiveram as suas terras invadidas, mas resistiram. “Os povos indígenas vivem o tempo todo tendo a ameaça de invasão de suas terras. Então, para nós da UEPB, é altamente relevante uma mostra como essa para reafirmarmos nossa posição de apoio ao povo indígena potiguara”, disse.
A vice-reitora, Ivonildes Fonseca, destacou que o registro da cultura potiguara na Paraíba tem dimensão significativa, no sentido da Universidade contribuir para o fortalecimento de uma luta histórica.
Visivelmente emocionada, Paizinha Lemos revelou que a exposição nasceu de sua proximidade e admiração com os Potiguaras, e pela relação com a cidade de Baía da Traição. “Esta ideia surgiu em 1991 quando eu conheci a Baía da Traição, e fiquei encantada com eles. Os índios são nossos amigos, e aprofundei essa amizade depois que eu conheci o pajé Antônio, que é uma pessoa muito boa, um educador nato, e poeta”, disse.
No trabalho, Paizinha tirou mais de 400 fotos, mas escolheu cerca de 30 para expor, enaltecendo os valores e cultura indígena do povo potiguara. A maior parte das fotos foi tirada no Dia do Índio em 2019, “Isso para eles é fantástico. Ficamos felizes em poder proporcionar esse momento a este povo que sofre tanto. Os nossos indígenas realmente são os donos daquela terra, mas não tem o valor devido”, observou. Paizinha tem 31 anos de profissão, sendo seu ofício bastante conhecido e valorizado na cidade, principalmente no registro das ações e atividades da UEPB. Ela começou a fotografar no curso de Comunicação Social e desde então, não parou mais.
A professora Normana Natália também não escondia a emoção em ver os seus trabalhos literários expostos, ao lado de fotos que retratam o cotidiano dos índios, e a paisagem do litoral paraibano. Ela desenvolve sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação de História Social da Universidade de São Paulo (USP), tendo como objeto de estudo a história recente deste povo indígena. Ela disse que em recente pesquisa histórica, descobriu que tem sangue potiguara. As poesias, segundo ela, foram surgindo ao mesmo tempo da escrita da tese.
“Eu sempre escrevi poesias desde criança. Agora essa escrita poética e etnográfica ao mesmo tempo veio surgir com o meu doutorado, porque eu desenvolvo um trabalho sobre a história atual deste povo”, relatou.
Presente no evento, o pró-reitor de Cultura, professor José Cristovão Andrade, destacou que o grande legado que a Universidade está construindo será a oxigenação e fortalecimento da cultura popular, referenciado com a presença da cultura indígena Potiguara. O diretor do MAPP, professor José Pereira, lembrou que a exposição está enriquecendo a Semana Nacional de Museus, que este ano tem como temática “O poder dos museus”. A exposição itinerante já ocorreu na Baía da Traição, onde obteve uma boa receptividade, principalmente por parte das escolas locais, segundo explicou Paizinha, e deve em breve ser levada para a USP.
Texto: Severino Lopes
Fotos: Givaldo Cavalcanti