Mostra Movimento Armorial 50 estreia no Museu de Arte Popular da Paraíba no dia 18 de maio

Mostra Movimento Armorial 50 estreia no Museu de Arte Popular da Paraíba no dia 18 de maio
3 de maio de 2023

A Onça Caetana já começou a bater suas magníficas asas com destino ao Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande. Isso porque é essa figura, tão presente em mitos sertanejos e na obra do grande mestre Ariano Suassuna (1927-2014), que receberá o público na Mostra Movimento Armorial 50. A iniciativa conta com uma grande exposição, encontros musicais e rodas de conversa. Tudo isso com acesso totalmente gratuito, no período de 18 de maio a 20 de agosto.

A alegoria cenográfica da imponente Onça – que dispõe de quase quatro metros de comprimento – é só uma das muitas surpresas preparadas especialmente para o evento, ainda inédito no Nordeste, mas que já encantou mais de 250 mil pessoas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A Onça, confeccionada pelo artista bonequeiro, Agnaldo Pinho, passeou por todas essas cidades, aterrissando no MAPP, que se preparou completamente para recebê-la, assim como a toda exposição. Nesse sentido, várias adaptações foram feitas no Museu para que ele se tornasse o receptáculo perfeito para a Mostra, ajustando-se totalmente à proposta criativa dela.

A exposição – que abre o ciclo de eventos da iniciativa, no dia 18 de maio – conta a história desse importante movimento que nasceu no Recife, em 1970, sob o comando do professor, escritor, pintor e dramaturgo Ariano Suassuna. O objetivo era ousado, mas bem ao estilo desafiador e provocante do seu mentor: fazer surgir uma arte erudita, a partir das mais autênticas e tradicionais manifestações artístico-culturais populares do Nordeste e de outras regiões do país.

Assim, o visitante poderá conferir 140 obras de artistas importantes para a arte Armorial, como do próprio Ariano, Miguel dos Santos, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga, Zélia Suassuna e Lourdes Magalhães. A maior parte das obras pertence a colecionadores particulares e a instituições – como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Museu da Arte Moderna Aluísio Magalhães e a Oficina Brennand – e nunca haviam saído do Recife. Para a etapa Campina Grande, a exposição trará mais uma novidade: a coleção de cordéis do acervo do MAPP e da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida da UEPB.

Com patrocínio do Ministério da Cultura e Petrobras, idealização e coordenação da produtora Regina Rosa de Godoy, curadoria de Denise Mattar, consultoria de Manuel Dantas Suassuna e Carlos Newton Júnior, a exposição conduzirá o público a uma viagem única, lúdica e inspiradora por três galerias no MAPP. A exposição Armorial 50 também vem celebrar os 10 anos do Museu, transcorridos no final do ano passado – o equipamento cultural foi a última obra de Oscar Niemeyer, no Nordeste, tendo sido inaugurado oito dias depois da morte dele, em dezembro de 2012.

Um presente
O diretor do MAPP, professor José Pereira da Silva, assinala a importância de o Museu sediar a Mostra Movimento Armorial 50 Anos, e, além disso, o fato de Campina Grande ser a primeira cidade fora do eixo Sudeste/Centro-Oeste a ter esse privilégio. “A Universidade Estadual da Paraíba se destaca nesse cenário por ser uma instituição pública exibindo a retrospectiva desse movimento artístico, absolutamente essencial para a história da criatividade em nosso país. Ficamos também muito felizes pela exposição contemplar o período junino, abrilhantando ainda mais Campina e presenteando os visitantes com uma das mais lindas manifestações culturais do Brasil”, disse.

Pereira lembra, também, que a voz de Ariano sempre ressoou na cidade e várias iniciativas do Movimento tiveram como sede a Paraíba, uma vez que o próprio escritor era paraibano. “Integrantes do Armorial, inclusive, fixaram residência em Campina. Nosso município, assim, se alegra e tem sua arte igualmente fortalecida através dessa Mostra, que é de relevância nacional e contempla várias atividades, ações educativas e de caráter musical. Vale mencionar que o MAPP passou por uma série de adaptações para melhor exibir a Mostra e que elas permanecerão para receber as próximas exposições”, pontuou.

O pró-reitor de Cultura da UEPB, professor José Cristóvão de Andrade, endossa que o Movimento Armorial é motivo de orgulho para o Brasil e para o Nordeste. “Ficamos lisonjeados pela nossa Campina, a UEPB e o MAPP serem palco dessa exposição. A Instituição abraça essa Mostra que tanto tem a ver com a Arte regional, que tanto dialoga com as nossas tradições, celebrando o nosso jeito não só de criar, mas de estar no mundo. É um marco, sem dúvida, para a cidade e para a UEPB”, enfatizou.

Cabe salientar que a exposição Armorial 50 segue padrões de acessibilidade e inclusão. A mostra conta com audioguia bilíngue e com recursos do aplicativo Musea, plataforma de conteúdo voltada para exposições, que permite uma melhor inserção das informações, com audiodescrição e visita em libras, além de curiosidades e visitas virtuais.

Universo mágico
A produtora Regina Rosa de Godoy informa que desde sua idealização, em 2019, a Mostra foi pensada como uma grande exposição, agregando outros elementos que pudessem dar uma ideia do significado do Movimento Armorial. O propósito era também retratar a efervescência cultural do período e o encontro dos artistas. “A gente sempre quis trazer para o Nordeste. Normalmente os eventos começam no ponto de origem e depois ficam itinerantes. Nós fizemos o contrário. E o apoio da Petrobras foi decisivo para que a Mostra fizesse esse caminho de volta para o Nordeste, onde tudo começou. Estrear aqui, justamente na Paraíba, terra de Ariano Suassuna, é realmente uma grande emoção”, conta Godoy. Ela destaca, ainda, que Armorial 50 é uma referência às cinco décadas de lançamento do movimento, comemorados em 2020, ano em que a Mostra deveria ter sido efetuada. O projeto, no entanto, precisou ser postergado por conta da pandemia da Covid-19. No Sudeste e no Centro-Oeste, o evento estreou, respectivamente, em 2021 e 2022.

Ao aceitar o convite e o desafio de resgatar a trajetória do Movimento Armorial, através da exposição, a curadora Denise Mattar traçou cuidadosamente, espaço por espaço, recortes da história que retrata as riquezas dos saberes e fazeres culturais nordestinos, impregnados em várias formas, cores e ritmos na arte Armorial – seja através da música, da pintura, da dança, da xilogravura, da contação de muitos causos na literatura de cordel e tantas outras expressões culturais.

Com cenografia multicolorida de Guilherme Isnard e identidade visual elaborada por Ricardo Gouveia de Melo, a exposição, segundo a curadora, é fiel às ideias de Ariano Suassuna, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade e às tradições, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica e plena de humor. “Um humor que faz pensar”, afirma Denise.

Galeria 1: preciosidades, experimentalismos e iluminogravuras
Logo depois de receber as boas-vindas da Onça Caetana, o público irá encontrar, na Galeria 1, uma preciosidade. São os figurinos criados pelo artista plástico pernambucano Francisco Brennand (1927-2019), para o filme A Compadecida. Baseada na peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, a película, produzida em 1969, com direção de George Jonas, foi filmada no município de Brejo da Madre de Deus, Agreste de Pernambuco. Além de 12 desenhos em nanquim aquarelado, a mostra apresenta os figurinos de cinco personagens marcantes da história: o Palhaço, o Diabo, João Grilo, a Compadecida, e Emanuel – o Cristo Negro, recriados especialmente para a exposição pela figurinista Flávia Rossete.

A seguir, o visitante irá mergulhar na Fase Experimental do Movimento Armorial, compreendida entre 1970 e 1974 e que marcou o início de tudo. O período estará representado pela Música, através de instrumentos e de imagens do Quinteto Armorial, e nas Artes Plásticas, por obras de Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Fernando Barbosa e Lourdes Magalhães, com destaque para a Gilvan Samico (1928-2013), que, desde 1970 até os trabalhos mais recentes, sempre esteve alinhado com a temática e a estética Armorial.

Ainda no mesmo espaço, o público irá descobrir que, além de escritor, Ariano Suassuna era um ótimo artista plástico. No núcleo Armorial Segunda Fase, período que vai de 1975 a 1985, são apresentadas iluminogravuras e pinturas do autor, além de obras de sua esposa Zélia, de seu filho Manuel Dantas e de artistas como Romero de Andrade Lima.

Galeria 2: Ariano Suassuna, Vida e Obra
Na sequência, ocorre o momento reservado ao visitante para explorar o núcleo Ariano Suassuna, Vida e Obra. A trajetória pessoal e artística do ilustre paraibano é retratada através de uma completa cronologia ilustrada com fotos raras, além de capas de livros, manuscritos do autor e imagens das Ilumiaras.

No mesmo espaço, também poderá ser vista a terceira fase do Movimento Armorial, chamada de Arraial, com a apresentação de vídeos das famosas e divertidas aulas-espetáculo de Suassuna, figurinos e fotos do Grial – grupo de dança criado por ele e Maria Paula Costa Rêgo. Nesse momento, também se sucedem adaptações para televisão e cinema, de extraordinário sucesso, a exemplo de O Auto da Compadecida e Lunário Perpétuo, de Antonio Nobrega.

Galeria 3: as muitas referências armoriais
Depois de atravessar o universo mágico de Ariano, é a vez de conhecer na Galeria 3 a Sala Armorial – Referências, que explora toda a beleza das xilogravuras e cordéis, assinados, entre outros, por J. Borges, Mestre Noza e Mestre Dila. Parte deles é integrante do acervo do MAPP e da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida da UEPB, que compõem a Sala 3 do Museu, contando com curadoria da professora Joseilda Diniz e do poeta Alfrânio de Brito.

Para fechar o circuito, o visitante encontrará referências a folguedos populares como o Maracatu, o Reisado e o Cavalo-Marinho, por meio de objetos como máscaras, trajes, fotos, vídeos, estandartes e muitos adereços.

Para quem quiser viajar no tempo e realmente entrar no clima, a exposição oferece um outro presente. O visitante poderá fazer todo o percurso ouvindo duas horas de música Armorial acessando os QR Codes localizados em pontos específicos. A playlist, já disponível no Spotify da R.Godoy, é um convite ao espectador para, desde agora, entrar no universo múltiplo e encantador do Movimento Armorial e pode ser conferida clicando aqui.

Eventos paralelos
Os Encontros Petrobras de Música e os Diálogos Petrobras de Arte Armorial – que integram os eventos paralelos – serão realizados, respectivamente, de 26 a 30 de julho (a partir das 19h) e de 9 a 13 de agosto, no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande.

Nessa etapa da Mostra, a imersão na arte Armorial se amplia, tornando-se ainda mais envolvente. Os eventos musicais contarão com convidados especiais. Nas conversas, especialistas vão compartilhar com o público seus olhares e saberes sobre o movimento, refrescando a memória de quem já conhece o Armorial e abrindo uma frente de novas experiências para os mais jovens.

Mais sobre Denise Mattar e Regina Godoy
Denise Mattar é uma das mais premiadas curadoras da atualidade. Exerceu o cargo de diretora técnica de instituições culturais como o Museu da Casa Brasileira (1985-1987), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (1987-1989) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1990-1997). Desde 1997, atua como curadora independente, tendo recebido ao longo dos anos quatro prêmios da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e dois prêmios ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte). Aceitou o convite de Regina Godoy para este desafio de retratar o Movimento Armorial, com toda sua pluralidade.

Idealizadora da mostra Movimento Armorial 50 Anos, Regina Rosa de Godoy marca com esta exposição 30 anos de atuação na gestão e produção cultural, e 20 anos da parceria com a curadora Denise Mattar. Especializada na realização de iniciativas de importância para a arte brasileira, viabiliza ações criativas e transformadoras nas mais diversas linguagens, atendendo expressivas instituições do segmento no país. Tem realizado, ao longo de 15 anos, eventos nas áreas de dança, música, teatro, palestras sobre Filosofia e arte e exposições de arte.

– Eventos Paralelos
Teatro Municipal Severino Cabral – Campina Grande (PB)
– Encontros Petrobras de Música
De 26 a 30 de julho
A partir das 19h
– Diálogos Petrobras de Arte Armorial
De 9 a 13 de agosto
A partir das 19h
Ingressos disponíveis em breve AQUI.

Texto: Oziella Inocêncio com Capibaribe Conteúdo
Fotos: Cláudio Gerber, Cris Dias, Diogo Cantareli, Daniela Nader, Diego Rocha