Evento “As mulheres querem viver” reflete sobre o feminicídio e traz diálogo sobre combate e prevenção
Em alusão ao Dia Estadual de Combate ao Feminicídio na Paraíba, instituído pela Lei 11.166 de 2018, foi realizado na tarde da última quarta-feira (19), o evento “As mulheres querem viver”. A iniciativa, promovida pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), teve como sede o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), em Campina Grande.
Na composição da mesa figuravam a reitora da UEPB, Célia Regina Diniz; a vice-reitora e coordenadora do Observatório Bríggida Lourenço, Ivonildes Fonseca; a assistente social Terlúcia Silva; a coordenadora do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB) da UEPB, Fernanda Mirelle; a representante da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras, Durvalina Rodrigues; a integrante do Coletivo Rayssa de Sá, Aurélia Almeida; e Isânia Monteiro, que integra o Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes (Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana – SEMDH/PB). Na ocasião, a cerimonialista foi Priscila Rocha, também representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A iniciativa trouxe, além disso, Julia Alves declamando várias de suas poesias sobre o tópico.
Uma grande plateia esteve no evento, que contou, entre outras, com as presenças da diretora do Centro de Humanidades (CH), do Campus III da UEPB, localizado em Guarabira, professora Maria de Fátima de Souza Aquino; a pró-reitora de Gestão de Pessoas, Ana Paula Lima da Silva, bem como com o adjunto do setor, Josenildo Maria Lima; o pró-reitor de Cultura da UEPB, professor José Cristóvão de Andrade; o diretor do MAPP e pró-reitor adjunto de cultura, professor José Pereira da Silva; a assistente social da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP), Albertina Felix da Cruz; a diretora do Centro Artístico Cultural (CAC), Patrícia Lucena; e a curadora do MAPP, professora Joseilda Diniz.
“Hoje é um dia de combate e a Universidade vem fazendo esse trabalho educativo, de conscientização, porque através da educação conseguimos reverter uma série de problemas. O Observatório, conduzido pela professora Ivonildes Fonseca, nossa vice-reitora, junto com outras pessoas da comunidade acadêmica, traz capacitações, atualizações, diversas atividades nesse sentido, para que toda comunidade possa se apropriar dessas práticas e ser beneficiada por elas. A UEPB entende como é grave esse contexto e damos nossa contribuição, a partir do desenvolvimento de ações, para que haja o enfrentamento”, disse a reitora, abrindo o evento.
Ela acrescentou que ao longo dos anos, tais iniciativas já vinham sendo realizadas na UEPB, por meio da PROGEP e da Ouvidoria, e que isso se intensificou quando a UEPB passou a ter duas mulheres como gestoras. “Não podia ser diferente a nossa sensibilidade para o tema da violência contra a mulher, da desigualdade de gênero como um todo, da necessidade do respeito”, enfatizou. Vale lembrar que quando a professora Célia Regina ocupava o cargo de pró-reitora de Gestão de Pessoas, foi sugerido por ela ao então reitor, professor Rangel Júnior, que 50% dos cargos de gerência superior fossem destinados às mulheres, na Instituição. A ideia virou uma proposta que foi submetida ao Conselho Universitário (Consuni) e aprovada, posteriormente regulamentada pela resolução 0266/2019.
Em sua fala, a professora Ivonildes apontou que existem muitos problemas sociais no Brasil e um dos mais prementes é a violência contra a mulher. “É tão grave quanto a fome, quanto a violência urbana, e sabemos que o feminicídio é o auge dele, sendo o patriarcado o pilar que o sustenta. Igrejas, sindicatos, universidades, empresas, é necessário uma grande e contínua mobilização, e a UEPB desde 2021 vem marcando essa data, incentivando a reflexão, discussões e soluções. Hoje, recordamos ainda mais a professora Bríggida Lourenço, e as estudantes Rayssa de Sá e Saara Rodrigues, vítimas de feminicídio. Infelizmente, a gente traz à memória essas perdas tão grandes na nossa Instituição, tendo a consciência de tantas outras em nosso país. Isso nos lembra que nós, sociedade, instituições, precisamos nos unir, pois temos uma responsabilidade frente a esse problema social, para que não continuemos nessa linha crescente. Requer a atenção de todos, pois não é algo que as mulheres possam resolver, cada um deve pensar e realizar ações educativas, com o objetivo de mudar essa mentalidade perversa”, destacou.
Narrativas, livro e Biblioteca de Obras Raras
O evento contou com variadas narrativas e depoimentos das participantes, como o de Isânia Monteiro, cuja irmã, Izabella, foi uma das vítimas fatais da chamada “Barbárie de Queimadas”. O crime ocorreu em 2012 e, desde então, Isânia tem sido uma liderança no que trata de campanhas e ações, colaborando em diversas iniciativas que buscam evitar a violência contra a mulher, auxiliando também aquelas que já passaram por agressão.
Um dos pontos levantados por Isânia é que ainda há muita vergonha envolvida no assunto, além de culpabilização das vítimas. Priscila Rocha concordou com ela, afirmando que a violência começa em pequenos atos, no dia a dia dentro de casa, culminando no feminicídio. “A mulher sofre a violência e muitas vezes prefere esconder e suportar sozinha, temendo o julgamento das pessoas. Por outro lado, essa ideia de que não podemos opinar sobre o relacionamento e defender a mulher, faz com que sejamos omissos “, assinalou Priscila.
Terlúcia Silva acrescentou a relevância da data no sentido, igualmente, de oportunizar esse diálogo mais aberto e alertar a sociedade. “É uma forma de expressar a gravidade do problema e como é fundamental que sejam criadas iniciativas e que elas provenham de diferentes setores, para inibir as altas ocorrências de feminicídio”, pontuou.
Na oportunidade ocorreu, ainda, o lançamento do e-book “As Mulheres querem Viver… e Escrevem”. “A publicação reúne textos científicos, poesias, depoimentos e reflexões. É um chamamento, um jeito de enfatizar que as mulheres têm voz”, explicou Terlúcia.
E, falando em literatura, a coordenadora do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB) da UEPB, Fernanda Mirelle informou, na oportunidade, que a partir do acervo de cordéis da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida (BORAA) será feito um levantamento de todas as obras de cordel de autoria feminina. “Por meio desse estudo, teremos informações completas sobre as publicações, como o primeiro que foi escrito, quais os temas mais abordados, e poderemos disponibilizar esse material no nosso site, via repositório institucional, para que qualquer pessoa consiga ver e tenha acesso. Lembrando que precisamos respeitar os direitos autorais, mas mesmo que seja através de um serviço de empréstimo digital controlado, a gente espera democratizar esse material”, detalhou.
Finalizando a iniciativa, vários esclarecimentos úteis e outros dados passaram a ser projetados nas duas estruturas circulares do MAPP – os pandeiros do Museu. Entre o conteúdo figuravam também os números do feminicídio na Paraíba de janeiro a abril deste ano, bem como as ações empreendidas pelo Observatório.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Paizinha Lemos