Museu de Arte discute possibilidades e experiências de acessibilidade
Na tarde da sexta-feira (27), o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, promoveu a palestra “Museus, Acessibilidade e Inclusão — Discutindo possibilidades e experiências”, com a arte-educadora e gestora de projetos de mediação cultural e artes visuais, Edna Y. Onodera. A iniciativa se deu em formato virtual, pelo Canal Rede UEPB, no Youtube, e fez parte da 18ª edição da Primavera dos Museus, realizada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), em todo o País.
Edna foi a responsável pela formação educativa da Exposição Armorial 50 anos, que esteve no MAPP, ano passado, e contou nesta equipe com 18 alunos da UEPB. Também tem atuado na supervisão dos projetos de educação patrimonial, há 13 anos, no Museu da Cidade de São Paulo. Graduada em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com especialização em Gestão de Projetos Culturais, pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), ela abordou diversos tópicos em sua preleção, que teve o acompanhamento do intérprete de Libras Gabriel Carvalho. A palestra foi aberta pelo diretor do MAPP, professor José Pereira da Silva, explicando brevemente a Primavera dos Museus e divulgando a programação dos próximos dias do evento.
Edna começou apontando que todos somos agentes para que a acessibilidade aconteça. Em seguida, foi apresentada uma sequência de slides, percorrendo questões que envolvem a acessibilidade atualmente, como a luta anticapacitista, a conscientização e defesa dos direitos constituídos, a representatividade, o reconhecimento da produção artística de quem tem deficiência e a cultura do acesso.
Outro ponto abordado por Edna foi o “tokenismo” – termo que vem de token, que significa símbolo – quando é feita por uma empresa ou entidade uma falsa inserção de grupos minoritários, com o objetivo de ter uma imagem de que ali é um espaço igualitário, justo. Assim, é uma inclusão simbólica, superficial. “Não há grandes esforços para que a inclusão ocorra de verdade, não é uma ação real”, como explicou Edna.
Ela lembrou, ainda, de uma experiência ocorrida na Exposição Armorial, no MAPP. “Ao final, quando já estávamos dominando completamente o conteúdo da exposição, propomos uma experiência tátil, através de um material educativo, com crianças deficientes visuais. Foi muito gratificante perceber a alegria delas. Uma educadora tomou a iniciativa e o grupo foi confeccionando o material”, recordou.
Outra temas elencados por ela foram os públicos dos museus de arte e como fazer a acessibilidade acontecer. Nessa parte da palestra, Edna citou alguns programas desenvolvidos em São Paulo, como o “Igual Diferente”, do Museu de Arte Moderna (MAM), em que as exposições têm recursos de acessibilidade comunicacional e disponibilização de mídias acessíveis, e a Pinacoteca, que possui uma galeria tátil de esculturas, entre outras ferramentas. Ao final, a educadora deixou várias indicações de leitura sobre o tema.
Finalizando a preleção, o professor Pereira pontuou que acessibilidade está intrinsecamenteligada à humanidade, ao respeito e à empatia. E, referindo-se a uma fala de Edna, que assinalava a importância do esforço conjunto das instituições, o diretor do Museu detalhou uma visita recente de 40 alunos da Educação de Jovens Adultos (EJA), na faixa etária dos 60 anos, que compõem a Escola Municipal de Ensino Fundamental Amaro da Costa Barros, de Campina. “A professora da escola tentou conseguir o transporte, eles vieram, e estendemos o horário do MAPP para recebê-los. Nosso Museu fecha às 19h, mas conversamos com os arte-educadores e ficamos até às 21h com o MAPP aberto para esse público”, disse.
Pereira informou que o MAPP já dispõe de rampas quando se fala em acessibilidade física e possui cadeiras de rodas. Ele lembrou que as últimas exposições do Museu tiveram conteúdo em braile e audiodescrições. “Nossa maior dificuldade, enquanto espaço de uma universidade pública, continua sendo orçamentária. Não temos a melhor acessibilidade, mas estamos caminhando nesse sentido e sempre atentos a isso. Creio que cursos, uma formação específica treinando as equipes, seriam igualmente bem-vindos”, finalizou.
Programação segue até domingo
Vale destacar que no período da manhã de sexta-feira (27), o Jardim Botânico da UEPB compôs a programação, com a entrega aos visitantes de variadas espécies de plantas e uma discussão sobre questões ambientais. Já no turno da noite, o MAPP recebeu a Cia Raízes, com seu espetáculo “Dos Terreiros ao Palco” e o Grupo Chorata, adaptando o projeto Palco do Choro à Primavera dos Museus. Os eventos ocorreram na parte inferior do MAPP, em uma estrutura com palco e mesas, especialmente montada para os visitantes e a exibição dos artistas.
Além disso, até o domingo (29), haverá uma feira colaborativa, das 16h às 20h, na parte inferior do Museu, envolvendo livros dos escritores da Academia Campinense de Letras (ACL) e inúmeras peças de artesãs da Rainha da Borborema. As atividades de avaliação/encerramento da Primavera dos Museus no MAPP ocorrem no mesmo dia, às 19h.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Gustavo Lima