MAPP encerra Semana de Museus com mesa debatendo papel social destes equipamentos

MAPP encerra Semana de Museus com mesa debatendo papel social destes equipamentos
19 de maio de 2025

Na noite da última sexta-feira (16), o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, concluiu a programação que desenvolveu para a 23ª Semana Nacional dos Museus. O evento ocorreu no Museu de Arte e Ciência de Campina Grande (MAC), no bairro do Catolé. Norteada pelo tema “O futuro dos museus em comunidades em rápida transformação”, a Semana foi proposta nacionalmente pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

À frente do evento estavam o diretor do MAPP, professor José Pereira da Silva; Angelo Rafael Bezerra de Farias, da gerência dos museus municipais de Campina Grande; e o gestor do MAC, Lucas Olles. A mediação foi do coordenador de Comunicação da UEPB, igualmente produtor cultural e curador, Hipólito Lucena. Na plateia, figuravam artistas e interessados na cena artística da Rainha da Borborema, a exemplo da artesã Socorro Moraes, o artista e o criador do bloco Cangerê, Gleydson Virgulino, a professora e escritora Mirtes Waleska Sulpino, e a designer e fotógrafa Adrielle Amorim.

Questões culturais, sociais, tecnológicas, arquitetônicas e referentes a de que modo os museus podem ser agentes mais ativos na vida da comunidade, perpassaram a ocasião. “Falar da nossa aldeia também é falar do que acontece no mundo e nesse sentido Campina sempre foi muito bem abastecida, sendo um polo importante de criação artística, com uma produção centrada em beleza e originalidade. Porém, sobretudo em tempos de inteligência artificial, a transformação é cada vez mais acelerada, só que nada avança sem o pensamento direcionado, a análise, o planejamento e as ações naquele contexto, por isso a relevância de iniciativas como esta”, disse Hipólito.

Em sua fala, o professor Pereira detalhou os desafios e perspectivas relacionados à gestão daquele espaço museal. “O MAPP hoje é uma referência, é um dos principais cartões postais da cidade. Especialmente pelo elemento arquitetônico, todo mundo quer conhecer. Nesses quatro anos de experiência museal, há o nosso esforço para aprender cada vez mais e entender melhor as normativas dos museus. Buscamos trazer novidades e temos conseguido alcançar com êxito a promoção de atividades para além das exposições. Não queremos ser herméticos, fechados, mas que as pessoas saibam que é um local aberto à participação”, pontuou.

Eventos atrelados a datas como o Carnaval e São João, bem como feiras de artesanato e lançamentos de livros, segundo elencado pelo diretor, representam uma constante na agenda anual do MAPP. “Nosso entendimento é que ele não poderia ficar somente como uma peça bonita, criada pelo gênio de Niemeyer, e nesses quatro anos nos tornamos bastante conhecidos por receber os eventos na cidade, tanto que diariamente há solicitações das pessoas para que sejam efetuadas as mais diversas ações no local. Elas querem expor, se apresentar, trazer espetáculos de dança e teatro, livros, então isso tem sido feito, na medida do possível, tendo em vista que por ser um museu da Universidade, existem alinhamentos, tratativas, alguns ajustes a serem realizados dentro dessa proposta”, afirmou.

Outro ponto abordado pelo diretor foi que hoje o MAPP é receptáculo de muitas iniciativas vindas de projetos artísticos, que foram contemplados com as leis de incentivo. “Estas ações de estímulo são imprescindíveis e oportunizaram um contexto todo diferenciado para a arte, os artistas locais e o público. Nos últimos dois anos foram mais de 10 exposições, por exemplo, financiadas pela Lei Paulo Gustavo. São ações que ficamos felizes em abraçar no MAPP”, explicou.

Entre as perspectivas desenhadas para o Museu, conforme o diretor, um dos planos é conseguir integrar melhor a academia ao MAPP, tendo mais pesquisas, mais professores, mais discentes inseridos nas atividades.  “E o desafio principal, o objetivo que nunca muda para a gente, é trazer para o Museu não só as pessoas que já gostam de arte, mas aquelas que jamais iriam, que nunca planejaram ir a um museu”, assinalou.

Roteiro de museus

Um roteiro turístico abrangendo os museus de Campina, foi uma das ideias colocadas por Angelo Rafael. “O visitante pode sair de uma visita a nossa Catedral, por exemplo, passando pelo Museu Histórico, em seguida pelo Museu de Arte Assis Chateaubriand (MAAC), depois vai ao Sesi Museu Digital, conhece o MAPP e o Museu do Algodão, posteriormente vem ao MAC aqui no Catolé, tudo a partir de uma programação pensada para atrair as pessoas, criando dinâmicas ricas em saber e lazer”, destacou.

Alinhado ao que disse Angelo, Lucas Olles sugeriu a fundação de uma rede de museus na cidade. “Precisamos somar esforços, principalmente no que trata de compreender melhor o público. Hoje em dia a gente concorre com a Netflix, com as telas em geral e se torna premente que os museus sejam esse ambiente criativo, que chama a atenção da sociedade de modo permanente. O museu não pode ser depósito, só guardar algo, precisa comunicar, abrir possibilidades, formar um público consumidor de cultura e arte. O papel do museu é tão importante porque ele armazena a identidade, não é à toa que foram espaços visados, especialmente pelos regimes totalitários, cientes de toda simbologia e força que têm esses lugares”, explanou.

Cangerê e Brincantes no MAPP

Concluídas as falas iniciais da mesa de diálogo, a participação da plateia foi aberta, e o diretor do Bloco Cangerê, Gleydson Virgulino, falou sobre sua experiência em atividades no MAPP. “Eu pensava que seria maravilhoso ter um evento nosso lá. O Cangerê aconteceu no Museu em 2020 e eu sentia falta desse tipo de evento, mais focado na arte da periferia, que é rica em cultura popular. Temos folguedos com a nossa cara, o nosso boi, por exemplo, é totalmente contemporâneo e foge muito dos estudos atuais em se tratando de folclore brasileiro. Para se ter uma ideia, nosso boi de carnaval se chama ‘torcida’, como ‘Torcida do Fera do Bairro do Jeremias’. Então havia essa necessidade minha de ver isso no Museu e fico feliz porque, especialmente após essa ação, hoje aquele espaço é bem mais movimentado”, finalizou.

Adrielle Amorim enfatizou o que disse Gleydson. “Fotografei o Campina de Brincantes e foi muito bonito ver o MAPP agindo para preservar o Carnaval. Como sugestão para os museus, eu diria ser fundamental observar como eles transmitem suas ideias e iniciativas, e como isso chega nas pessoas, nas comunidades, para que seja de modo mais efetivo. Hoje mesmo há poucas pessoas nessa discussão, então são caminhos que devem ser pensados, em de que maneira ampliar essa mensagem e fazer com que ela chegue”, concluiu.

Durante a Semana, o MAPP recebeu 190 estudantes oriundos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em atividades que envolveram as escolas municipais Raymundo Asfora, Williams de Souza Arruda e José de Almeida Junior. Os alunos visitaram a exposição “Os Sertões que nos atravessam” e tiveram o acompanhamento de Juliana Gomes, uma das artistas da mostra. Além disso, foram realizadas sessões de contação de histórias com a atriz Joana Marques, a partir do tópico “O que tenho a dizer do meu Sertão”. A faixa etária dos estudantes que estiveram nas práticas realizadas pelo MAPP era variada, indo até os 84 anos, de acordo com o professor Pereira.

Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Danielle Flor/Ascom MAC