MAPP recebe lançamento do livro “O Reino do Baião: personagens, obra e o Nordeste”

Nesta sexta-feira (24), às 19h, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), recebe o lançamento do livro “O Reino do Baião: personagens, obra e o Nordeste”, do jornalista Xico Nóbrega. A obra é publicada pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (Eduepb), sob o patrocínio do selo Cultural Unimed de Campina Grande. A entrada é franca.
Compõem a programação da noite, o cantor Caio Czar e trio, além da cantora Taynãna Flor do Campo. O livro, que conta 320 páginas, traz 28 artigos temáticos, tratando de figuras exponenciais na vida e obra gonzagueana, percorrendo a sua longa carreira artística, evidenciando seu talento como solista da sanfona, as músicas em homenagem aos familiares, os seus compositores e seguidores fundamentais. “Alguns clássicos são historiados e detalhamos, também, a curiosa influência da música jovem da década de 1960, na trajetória dele, o cantar do artista aos estados do Nordeste, de Sergipe ao Piauí, e mais um artigo final sobre o que é essencial para ler e conhecer o imortal cantador da Asa Branca”, explicou Xico.
Segundo o escritor, embora Luiz Gonzaga tenha começado a gravar discos 78 rotações em 1941, ele fora menino prodígio tocador de fole de oito baixos desde os 8 anos de idade. “Aos 14, adquiriu o seu instrumento próprio, daí a sua longuíssima carreira, evocada no título do seu disco ‘Luiz Gonzaga 70 Anos de Sanfona’, de 1983. A obra instrumental gonzagueana, lançada no período de 1941 a 1944, dos gêneros valsa, choro, marcha, polca, mazurca, e outros, é bastante considerada. Ele só vai afirmar-se como cantor a partir de 1945, quando passa a fazer parcerias com compositores fluminenses. A produção de Gonzaga focada na inspiração nordestina, que aborda a seca e outros temas dessa região, só vai acontecer quando ele conhece os dois compositores basilares do baionismo: o cearense Humberto Teixeira e o pernambucano Zédantas”, afirmou.
Xico pontuou que o artista faz menção, em suas músicas, a vários familiares: ao pai Januário, a exemplo do baião “Respeita Januário”, à mãe Santana, às tias maternas Nova e Baía, à esposa Helena Gonzaga, que é a Madame Baião, aos irmãos Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, aos próprios filhos Rosinha e Gonzaguinha, e à neta Mariana.
De acordo com Xico, a influência de Luiz Gonzaga segue extremamente relevante na música popular brasileira. “Ele tem dois artistas que são considerados seus seguidores maiores: Dominguinhos e Marinês, em especial a Rainha do Xaxado. Não é à toa que dedico um capítulo a ela no meu livro, intitulado ‘a Luiz Gonzaga de saia’. Ela é maravilhosa. É muito maior que a Rainha do Baião Carmélia Alves”, afirmou.
Artigos reveladores
O livro considera, igualmente, o rico repertório junino gonzagueano, cujas obras mais conhecidas são “Olha Pro Céu” e “Noites Brasileiras”. Além disso, traz artigos reveladores acerca de músicas imortais: o baião “Paraíba”, oriundo de um jingle político, lançado na campanha política paraibana mais violenta do século XX, em 1950; “A Triste Partida”, ouvida por Luiz Gonzaga, pela primeira vez, em Campina Grande, interpretada por um cantador de viola; e “Asa Branca” — o leitor fica sabendo, por exemplo, que a música não só foi alvo de piadas no estúdio de gravação, como houve um cordel escrito contra ela, no Nordeste.
“Um período singular da carreira do artista acontece na década de 1960, quando ele ficou praticamente fora da mídia no eixo Rio-São Paulo, tendo em vista o domínio da Jovem Guarda, embora Luiz Gonzaga continuasse reunido milhares de fãs em apresentações públicas pelo interior do Brasil, principalmente no Nordeste. Curiosamente ele tirou proveito dessa crise, decorrente do auge de Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, e outros astros jovens, com êxitos musicais como ‘Pronde Tu Vai Baião’, ‘Xote dos Cabeludos’ e ‘Hora do Adeus’. O Tropicalismo resgataria o Rei do Baião”, acrescentou Xico.
O jornalista explanou que os anos de 1960 também revelaram dois compositores importantes da fase intermediária da carreira do artista, após a influência arrasadora de Humberto Teixeira e Zédantas. São eles: Rosil Cavalcanti e José Marcolino. Ambos foram responsáveis por grandes sucessos do artista, naquela década — “Ô Véio Macho”, “A Festa do Milho”, “Tropeiros da Borborema”, “Cacimba Nova”, “Caboclo Nordestino”, “Sala de Reboco” e “Cantiga de Vem Vem”.
“Em meu livro constam artigos comentando a sátira gonzagueana ao comportamento andrógeno, reunindo um repertório de músicas de gracejo, ironizando o homem afeminado e a moda juvenil, a exemplo de ‘Xote dos Cabeludos’. Comparo Luiz Gonzaga, que canta o sertão rural mais conservador, a Jackson do Pandeiro, mais urbano, sendo da zona da mata canavieira, enaltecedor da mulher que vai a Hollywood fazer operação de mudança de sexo, retornando toda poderosa”, analisou Xico.
Os penúltimos sete artigos de “O Reino do Baião: personagens, obra e o Nordeste” versam a respeito da relação do artista com Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, através das músicas, mencionando lugares, personagens e muitos outros aspectos desses estados nordestinos. O texto final da obra trata de livros básicos para se aprofundar no universo de Luiz Gonzaga. Informações adicionais podem ser adquiridas pelo telefone (83) 9659-3839 ou pela rede social @xiconobrega1.
Mais sobre o autor
Francisco Antônio Vieira da Nobrega, o jornalista de Cultura Xico Nóbrega, nasceu no município do Paraú, no Rio Grande do Norte (RN), há 66 anos. Vive há décadas na Rainha da Borborema, onde se formou em Comunicação Social, pela UEPB.
Exerceu a sua carreira de jornalista de Cultura, na sucursal campinense do jornal A União, onde estreou com a reportagem mais marcante de sua vida, aquela que traçaria definitivamente os rumos da sua atividade jornalístico-cultural, que foi a cobertura do sepultamento de Luiz Gonzaga, em Exu (PE), no dia 4 agosto de 1989.
Desde então, Xico se dedicou a escrever sobre a Cultura Nordestina em geral, especialmente acerca da vida e da obra do criador da “Asa Branca”, através de reportagens publicadas no jornal A União. Por bastante tempo, foi assessor de imprensa do extinto Museu Luiz Gonzaga, de Campina Grande. Há anos, Xico presta serviços de assessoria na Pró-reitoria de Cultura (Procult) da UEPB.
É autor de dezenas de reportagens gonzagueanas publicadas em A União, além de um ensaio destacando o baião “Paraíba”, que saiu em um livro coletivo, tendo como veio os 80 anos da Revolução de 1930. A cobertura fotográfica de Xico, relativa ao sepultamento do Rei do Baião, foi publicada na monumental obra “Luiz Gonzaga 110 Anos de Nascimento”, organizada por Paulo Wanderley.
Xico Nóbrega é autor também de outras obras, ainda inéditas, detalhando a musicografia e os compositores gonzagueanos; percorrendo 200 composições do Rei do Baião; de um ensaio ampliado acerca do baião “Paraíba”; e de mais outro livro tendo por base 150 obras gonzagueanas comentadas.
Fotos: Divulgação