Visivelmente emocionada, Cecéu agradeceu a UEPB pela oportunidade, enfatizando sua alegria pelo reconhecimento do trabalho da dupla. “É uma ocasião especial para nós. Tivemos muitas dificuldades em nossa carreira artística, mas eu costumo dizer que faria tudo de novo, do mesmo jeito, pois o resultado de todo o nosso empenho é essa felicidade que temos aqui hoje”, explicou. Antônio Barros disse se sentir honrado pela homenagem. “Somos gratos a Universidade e ao Museu por todo o carinho, por essa festa tão bonita que fizeram”, afirmou.
Para o reitor da UEPB, professor Rangel Junior, compreender a magnitude da obra de Antônio Barros e Cecéu, é entender a nossa própria história, a história do povo nordestino. “É vasto o ideário envolvido na criatividade deles. Não precisa observar bem para ver que em muitos aspectos do nosso cotidiano, do nosso jeito de estar no mundo, incluindo profissões e circunstâncias, há alguma coisa cantada e inventada por eles”, apontou.
O pró-reitor de Cultura da Instituição, José Cristóvão de Andrade, exaltou a importância da dupla e o quanto engrandece o MAPP e a toda a Universidade receber um pouco do brilho dela, bem como contribuir para a valorização da obra dos dois artistas. “O Museu é uma casa de grandes estrelas, do talento da nossa gente, onde realçamos a genialidade da cultura popular e, dentro disso, existe a imensidão de tudo que eles produziram”, concluiu.
A filha do casal, a cantora Maíra Barros, participou do evento entoando vários sucessos com a dupla, sempre acompanhada do grupo “Os Fulano”, que foi convidado por Antônio Barros e Cecéu para a oportunidade. Além disso, o reitor da UEPB, o sanfoneiro João Calixto, o professor do Centro Artístico Cultural, João Batista, o cantor Alexandre Tan e o Grupo Caactos, composto apenas por crianças, também tomaram parte no espetáculo, que teve como mestre de cerimônias o músico Sandrinho Dupan.
Verdadeiros hinos da dupla, a exemplo de “Bate Coração”, “É Proibido Cochilar” e “Procurando Tu”, fizeram o público cantar junto. Antônio Barros e Cecéu também deixaram a marca de suas mãos numa placa de argila fresca do MAPP, em um ato que visa “imortalizar” e enaltecer os artistas.
A professora da UEPB, Cássia Lobão, os idealizadores do Troféu Gonzagão, Ajalmar Maia e Rilávia Cardoso, o sanfoneiro Marcelo Calixto, o jornalista Astier Basílio, a servidora da UEPB, Marlúcia Almeida, a idealizadora do Memorial do Maior São João do Mundo, Cléa Cordeiro e o diretor do Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, Agnaldo Barbosa, eram alguns dos que compunham a plateia.
“O Barro: De Adão ao Artesão” na Sala 1 (Artesanato)
O visitante da Sala da 1 encontrará uma grande diversidade de artefatos. Peças da Comunidade Quilombola da Serra do Talhado, situada na zona rural de Santa Luzia, ladrilhos hidráulicos, itens advindos da fabricação de tijolos e cerâmicas fazem parte dela, assim como o trabalho de artesãos oriundos de várias regiões do Estado, a exemplo de Nevinha (Itabaiana), João Batista Barreto (Nova Palmeira) e de integrantes do Grupo Argilas (Dilson Rocha, Hermógenes Araújo, João Pedro, Ricardo Pereira e Silas Soares/Campina Grande), entre outros.
O coordenador de museus da UEPB e um dos curadores da referida sala, Chico Pereira, destacou que a argila sempre esteve no topo das matérias primas manuseadas pela humanidade. “Das panelas pré-históricas ao porcelanato das fachadas, dos abrigos aos templos, o barro é uma presença tão abundante na vida dos seres que chega a ‘desaparecer’ do olhar mais reflexivo, tornando-se comum aos nossos olhos, daí a necessária intervenção da arte de modo a ressaltar sua relevância”, disse. Compõem a curadoria, igualmente, Angelo Rafael, Fernando Moura, Talitta Uchôa e Hipólito Lucena.
“Naquele São João – Antônio Barros & Cecéu” na Sala 2 (Música)
Figurinos, comendas, discos de vinil, troféus, medalhas e instrumentos musicais, entre outros, integram a exposição que tem como cerne a vida e a obra de Antônio Barros & Cecéu. Os painéis contando a trajetória da dupla foram divididos em marcos históricos e lugares, sob os títulos “Queimadas – 1930”, “Campina Grande – 1943”, “Recife – 1952” e “Rio de Janeiro – 1957”. O painel que trata do encontro do casal ganha uma entonação maior com “Bate Coração – 1971”.
Conforme um dos curadores, o jornalista Fernando Moura, um levantamento recente feito pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) concluiu que há 708 gravações a partir das composições de Antônio Barros & Cecéu. “Apresentamos aqui uma obra volumosa, de qualidade poética e diversidade interpretativa. Ao menos 400 músicas já estão disponíveis para a audição no Museu de Arte Popular da Paraíba. São xotes, sambas, baiões e xaxados, eternizados nas vozes de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Flávio José, Elba, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Dominguinhos, Ney Matogrosso, Amelinha, Jorge de Altinho, Xangai, Gal Costa, Alcione e uma infinidade de outras estrelas”, acrescentou. Além de Fernando, fizeram a curadoria da Sala 2 Sandrinho Dupan, Chico Pereira, Hipólito Lucena, Talitta Uchôa e Ricardo Araújo.
“Paraíba – Berço da Poesia Popular” na Sala 3 (Cordel, Cantoria e Xilogravura)
“Paraíba – Berço da Poesia Popular” abrangerá, até o ano de 2019, os escritos de aproximadamente 300 poetas. A ênfase dada será ao trabalho de Manoel Monteiro, Zé Laurentino e Toinho da Mulatinha. A curadoria ressaltará também a escrita feminina, tendo como exemplo Maria das Neves Pimentel. Filha do conhecido poeta e editor Francisco das Chagas Batista, ela usava como pseudônimo Altino Alagoano, nome do marido. Segundo pontuou a professora e uma das curadoras da Sala 3, Joseilda Diniz, as representantes do gênero feminino estão na raiz da transmissão poética popular, como verdadeiras guardiãs das tradições orais, embora muitas hajam sido ofuscadas pelos rígidos padrões da época em que viveram, onde apenas ao homem era permitido escrever.
Publicações de Alfrânio de Brito, Josenildo Lima, conhecido como J. Lima, Bráulio Tavares, Silvino Pirauá, José Alves Sobrinho, Lua Nova, Antônio Lucena, Arnilson Montenegro, Josafá de Orós, Agostinho Nunes da Costa, Ugolino do Sabugí, Nicandro e Nicodemos, Lourdes Ramalho, Manoel Camilo dos Santos, entre várias outras, poderão ser conferidas no local. Objetos pessoais também estão lá, a exemplo dos óculos usados por Manoel Monteiro. “Nesta exposição o visitante terá a oportunidade de se aproximar desse fascinante universo, desses antigos e contemporâneos mestres da cultura popular, contemplar o trajeto dos saberes nordestinos e passear por sua cartografia identitária. Vemos a obstinação de cada um deles, a paixão genuína que dedicam ao ofício e, nesse sentido, posso destacar aqui, por exemplo, o trabalho de Toinho da Mulatinha, todo o sacrifício e desvelo com que encarava seu fazer artístico”, acentuou. Compõem a curadoria da Sala 3, além de Joseilda Diniz, Alfrânio de Brito, Xico Nóbrega, Jô Oliveira, Hipólito Lucena, Uirá Agra, Talitta Uchôa e Júlio César Gomes.
Fotos: Talitta Uchôa, Hugo Tabosa e Alberto Alves