Do Encontro participaram os professores e alunos do CAC, especialmente aqueles oriundos dos cursos na área, a exemplo de Edglei Miguel, João Batista e Luizinho Calixto. Alunos do professor Erivelton da Nóbrega também integraram o evento. As apresentações tiveram, ainda, a participação do docente da Oficina de Percussão, Erivan Ferreira.
A exemplo da primeira edição do Encontro, em 2017, a etapa Campina teve como presença marcante as crianças. Entre elas, exibiram-se Raí Bezerra, de 9 anos, e Laís Moreira e Henrique Diniz, de 7. Infantes oriundos da Escola de Música da Prefeitura Municipal de Remígio também se apresentaram. No espetáculo dado pelas crianças do Encontro, o repertório era essencialmente composto por ícones da música tradicional nordestina, com destaque para os clássicos de Luiz Gonzaga.
As declamações ficaram por conta do professor da Oficina de Poesia Popular e Cordel do CAC, Iponax Vila Nova e de Neto Ferreira. Um dos pontos altos da programação foi a apresentação dos repentistas Gilmar de Oliveira, natural de São José de Piranhas (PB) e de Felipe Pereira, de Natal (RN).
O homenageado do evento, Zé Calixto, foi lembrado durante toda a oportunidade. Ausente devido a problemas de saúde, e também pelo fato de residir no Rio de Janeiro (RJ), Zé teve como representante o irmão, o também sanfoneiro João Calixto, que tem acompanhado de perto todas as atividades do Encontro, desde o início. “É uma grande honra, para ele e para toda a nossa família, vê-lo ser reverenciado pela Universidade. Ficamos gratos demais. A carreira de Zé Calixto foi construída com muito suor, com esforço, dedicação e ter essa recompensa traz muito contentamento não só a ele, mas a todos que gostam dele e do trabalho que desenvolve”, explicou.
O professor da Oficina de Violão, Caio César, dois dos curadores da área de Cordel do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), Alfrânio de Brito e Joseilda Diniz, a diretora do Centro Artístico, Patrícia Lucena, o sanfoneiro Marcelo Calixto e o assessor da Procult, Agnaldo Barbosa, entre outros, também compuseram o evento.
Forró da Resistência
O Forró da Resistência contemplou diversas exibições musicais, a exemplo do 3B de Coco e Coletivo Tirinete, de João e Marcelo Calixto, de Anildo e Forró Show, dos emboladores Canário e Caboclo, do Trio Forró Coqueado, do Trio Acauã e do Forró Rabecado. Tendo como veio criar um ambiente fundamentado na Cultura Nordestina, o evento dispôs, igualmente, de comidas típicas e artesanato.
Para o reitor da UEPB, Rangel Junior, o Forró da Resistência configurou-se como uma iniciativa de grande importância, tendo em vista que congregou tanto a comunidade universitária quanto a externa à UEPB, além de diversos segmentos que trabalham com a criatividade em Campina, abordando um tema tão urgente: a resistência cultural. “Nosso desejo é que o evento se fortaleça e possa seguir assim, colaborando para o debate de um jeito inventivo, fecundo e propondo cada vez mais espaço para as expressões do talento da nossa gente”, disse.
O pró-reitor de Cultura, José Cristóvão de Andrade, lamentou o fato de muitas searas culturais de raiz estarem perdendo força atualmente. “Eu, que trabalhei com quadrilhas em Campina Grande por muitos anos, só para dar um exemplo, sei que a realidade delas é difícil e que caiu bastante o número desses grupos na cidade, por falta de incentivo, de valorização, o que as leva a não conseguir competir. Esse evento é uma maneira de darmos uma resposta, uma forma de dizer que estamos atentos e podemos enfrentar esse contexto de maneira comprometida, com ações efetivas”, apontou.
Presente ao evento, a presidente do Instituto Solidarium e criadora do Festival de Inverno de Campina Grande, Eneida Agra Maracajá, explanou que, com o Forró da Resistência, a UEPB mais uma vez mostra sua sensibilidade para com a as manifestações populares de caráter autêntico. “Parabenizo a UEPB pela atitude louvável, pela preocupação com a distribuição gratuita dos bens culturais. Apenas aqui no Centro Artístico há mais de 900 estudantes favorecidos. A UEPB está em boas mãos, tendo à frente um reitor que é músico, poeta, compositor e tem total adesão à causa”, finalizou.
Mais sobre Zé Calixto – O Mestre dos Oito Baixos
Jackson do Pandeiro já dizia: “Vixe como tem Zé, Zé de baixo, Zé de riba, (…), Como tem Zé lá na Paraíba”. E José Calixto da Silva nasceu no dia 11 de agosto de 1935, em Campina Grande. Como o alagoagrandense Zé Jack, mais um Zé célebre por estas paragens. Filho do sanfoneiro João de Deus, conhecido como “Seu Dideus”, Zé cresceu junto aos oito irmãos e começou a tocar o fole de oito baixos aos 8 anos.
Depois de muito arrasta-pé pela região, apresentando-se em eventos os mais variados, não apenas com forró, mas com choros, valsas e sambas, o artista estreou nas rádios do Recife em 1959, fazendo parte do trio Mata Sete e seu Conjunto, formado por Antônio Barros. No mesmo ano casou-se com Dona Ritinha, parceira em toda a sua trajetória e com quem tem quatro filhos.
Em seguida, tendo recebido um convite de Antônio Barros foi para o Rio de Janeiro (RJ). Zé deixou a esposa e viajou oito dias de ônibus, voltando três meses depois para buscá-la e mudando-se em definitivo para a cidade maravilhosa. Contudo, o grupo de Antônio Barros não conseguiu se estabelecer no Rio e sem dispor de muita chance para trabalhar, Zé tornou-se afinador de vários sanfoneiros.
Logo viria uma oportunidade de ouro: gravar para a Phillips. Foi através dela que lançou seus primeiros álbuns. Já conhecido em 1960, quando veio se apresentar na Rainha da Borborema, o artista não acreditou quando viu diversas de suas canções compondo o repertório das festas do Nordeste.
O primeiro long play intitulou-se “Zé Calixto e sua sanfona de oito baixos”, com 12 faixas. Depois dele, vieram 26 álbuns individuais oriundos de várias gravadoras. Participou também de coletâneas, a exemplo de “O Fino da Roça”, feita por Jackson do Pandeiro na década de 70. Conheceu, igualmente, Luiz Gonzaga, com quem dividiu o palco muitas vezes e que, mais tarde, seria padrinho de sua filha Neide.
Aclamado como o “Mestre dos Oito Baixos”, Zé Calixto viajou por todo o Brasil, é dono de uma obra expressiva, e permanece uma autoridade quando o assunto é o instrumento, inspirando toda uma geração de novos sanfoneiros.
Fotos: Hugo Tabosa, Alberto Alves, Uirá Agra e Lisiane Almeida