Cursos de sanfona do Centro Artístico Cultural contribuem para inserção de novos profissionais no mercado
Nem só nos cursos de graduação, mestrado e doutorado ofertados pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) moram o sucesso profissional e a satisfação pessoal. Nem apenas a eles, igualmente, estão restritas as oportunidades na hora de escolher e desenvolver uma profissão. Repetida à exaustão pelos gurus da felicidade, a máxima preferida do século, “ame o que você faz, faça o que você ama” costuma, contudo, excetuar os ofícios que têm a arte como essência, usualmente enxergados apenas como “hobbies”. Nesse sentido, o Centro Artístico Cultural (CAC) da Instituição vem desmitificando tal equívoco, notadamente com as atividades centradas na sanfona.
O campinense Gabriel Sousa, 19 anos, estudou durante dois anos o curso “A Sanfonada”, com o professor Edglei Miguel. Quando iniciou na atividade, Gabriel tinha alguma noção sobre a prática e o conteúdo, mas afirmou que as aulas fizeram com que sua desenvoltura melhorasse significativamente. “Em especial os exercícios me ajudaram bastante”, disse.
Em 2017, Gabriel estava se apresentando com a turma “A Sanfonada” e postou um vídeo em uma rede social. Não deu outra: vários elogios ao desempenho dele surgiram e também um convite para integrar a Banda Som e Louvor. Respeitado e famoso no meio gospel, o grupo foi formado no Pará há 25 anos, faz shows no país inteiro e atualmente dispõe de contrato com a gravadora nacional Som Livre. Com a Som e Louvor, Gabriel já figura em um CD e um DVD.
Ainda no curso, ele trabalhou nos principais estúdios de Campina e esteve na gravação de mais de 70 CDs. Dentre as funções que desempenha na atualidade está a de produtor musical e professor. Além disso, executa gravações online para inúmeros músicos, mediante encomendas. Ele planeja, em um futuro não muito distante, criar suas próprias canções.
Já Janício Silva, 20 anos, frequentou por três anos o curso “Sivuquiando”, ministrado pelo professor João Batista. “Eu sempre achei bonito quem toca sanfona, era um sonho antigo aprender, por isso comprei o instrumento, mas não tinha o objetivo de me profissionalizar, enxergava como uma diversão”, explicou. Janício se matriculou e, de acordo com ele, “começou do zero”. “Então fui gostando e resolvi me dedicar mais. Além de estar no curso, passei a ter aulas particulares com o mesmo docente”, destacou.
Hoje, Janício tem sua própria banda e dois CDs gravados. O primeiro, voltado para o forró pé de serra, é denominado “Nossa Canção” e conta com a participação de Deda Silva (ex-integrante dos Três do Nordeste) e Capilé. O segundo, “Quem não queria”, é direcionado ao forró de vaquejada e contou com a presença de Luan Estilizado. “Sobrevivo da música e recentemente fiz minha primeira canção autoral. Uma das coisas que mais gosto é conhecer pessoas que admiro e promover parcerias com elas, porque muito dá para ser assimilado assim. O aperfeiçoamento é contínuo”, finalizou.
Sobre os cursos
Atualmente, o Centro Artístico contempla três cursos na área, todos gratuitos: o Sivuquiando, A Sanfonada e o Curso de Fole de Oito Baixos, com Luizinho Calixto. Juntos, eles detêm aproximadamente 100 estudantes de diversos pontos de Campina e de outras cidades, a exemplo de Esperança, Barra de Santana, Riacho de Santo Antônio, Fagundes, Olivedos, Soledade, Pocinhos, Puxinanã e São João do Cariri. A faixa etária abrange desde os 15 até os 75 anos.
O Sivuquiando foi implantado em 2012, o Curso de Fole de Oito Baixos no ano seguinte e em 2014 iniciou-se A Sanfonada. Estima-se que 700 pessoas já foram beneficiadas desde que essas preleções começaram a ser oferecidas pela UEPB.
Luizinho Calixto ressalta que por meio da Universidade e das aulas conferidas por ele, o Fole, que corre o risco de ser extinto, dado que são poucos os instrumentistas no segmento, está ganhando popularidade e sendo alvo de maior interesse. “A sanfona de oito baixos compreende mais de 200 anos de existência, possui uma afinação toda especial e diferente. Foi pensando nisso que tive a ideia de criar o único manual que existe para esse fim, com o intuito de colocar o interessado apto a tocar. É uma realização para mim quando penso que há 10 anos não existia professor e nem escolas que ensinassem esse instrumento, pois sou consciente de que, na hora em que Deus me chamar, as sementes que plantei estarão prontas para germinar”, explanou.
Edglei Miguel assinalou que o trabalho social efetivado pela UEPB é motivo de admiração em todos as regiões do Brasil. “Anualmente faço de sete a oito oficinas em várias localidades e não encontramos, em nenhuma Universidade, coisa parecida. Com frequência as pessoas perguntam como é possível haver isso em nosso Estado e mantido por uma instituição pública de ensino superior. Somos o maior curso de Acordeon do Brasil e o nome da Universidade tem muito peso, muita força. Eu me sinto feliz, porque isso foi tudo que eu sonhei em trabalhar um dia. Meu pai, Edmar Miguel, fez algo semelhante na década de 90 e eu queria demais ter essa experiência também”, mencionou.
Para João Batista, a maior satisfação encontrada em ser professor de sanfona é acompanhar a evolução dos estudantes. “Quando observo um aluno que não tem experiência alguma com o instrumento e chega a se profissionalizar é emocionante. E, como há turmas para os níveis iniciante, intermediário e avançado, existe uma troca de conhecimento enriquecedora. Na minha concepção, com esse curso a UEPB zela diretamente pela Cultura do Estado e pelo patrimônio que a sanfona simboliza para os paraibanos”, apontou.
Outras informações sobre os cursos de sanfona do Centro Artístico Cultural da UEPB podem ser obtidas pelo telefone (83) 3310-9719, ou na sede do CAC, localizada na Avenida Getúlio Vargas, 44, no prédio da antiga Faculdade de Administração da UEPB, no Centro de Campina.
Foto: Arquivo Procult