Pró-Reitoria de Cultura da UEPB celebrará centenário de Jackson do Pandeiro até o final do ano

30 de agosto de 2019

Neste sábado (31), festeja-se uma grande data para a Música do país, em especial aquela forjada no Nordeste: o centenário de Jackson do Pandeiro. Contudo, as homenagens não se esgotam com a passagem do aniversário do artista. Acompanhando a proposta do Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), que instituiu 2019 como o Ano Cultural do Rei do Ritmo, a Pró-Reitoria de Cultura (Procult) e a Instituição seguem comemorando a efeméride com a execução de variadas atividades temáticas.
O Centro Artístico Cultural, por exemplo, que anualmente efetua eventos de culminância das oficinas de Desenho e Pintura, Teatro Infantil, Teatro Adulto, Percussão, Ballet, Violão, Canto Coral, Acordeon, Sanfona de Oito Baixos, Dança de Salão, e Filarmônica, junto com os respectivos estudantes, já está preparando espetáculos que abrangem a vida e a obra do Rei do Ritmo.
O Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, proveniente da UEPB, também elaborou uma sequência de Coco tendo Jackson do Pandeiro como ponto de partida, conforme contou o diretor Agnaldo Barbosa. A coreografia é de Roberto Almeida, com canções de Zé Jack, segundo acrescentou.
“De setembro a novembro, a Procult desenvolve o 3° Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos e o carro chefe será Jackson”, afirmou o pró-reitor de Cultura da UEPB, José Cristóvão de Andrade. Ele lembrou que este ano inúmeras práticas capitaneadas pela Procult tiveram o artista como cerne, a exemplo do Bloco da Cinquentinha, do Forró da Resistência e do Cordel no Museu, além da exposição no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) denominada “Jackson é Pop”. “São lançamentos de livros, cordéis, intervenções, diversas exibições artísticas, todas direcionadas a celebrar aquele que tanto orgulha a Paraíba e o Brasil. Elas congregam tanto a comunidade acadêmica quanto o público em geral”, destacou.
Andrade apontou, igualmente, eventos como o Festival de Artes e Participação Social (FARPAS), efetivado pelo Campus V, em João Pessoa e “O CH no Ritmo de Jackson do Pandeiro”, idealizado pelo Campus III, em Guarabira. “A Universidade aderiu completamente à ideia e as ações se multiplicam em todos os lugares onde ela está. Nossos artistas têm se empenhado, ensaiado, buscado músicas e inspiração no legado dele… É algo bonito de se ver. Ganham com isso todos aqueles que estão de alguma forma envolvidos com a UEPB e também o Estado inteiro é beneficiado por essa atitude louvável da Instituição, afinal nossos artistas devem ter o brilho sempre lustrado para que seu patrimônio criativo continue ecoando no nosso povo e influenciando as próximas gerações”, enfatizou.
O que sobre Jackson já se falou
Conheça mais sobre o autor de “Sebastiana”, através de falas extraídas da biografia “Jackson do Pandeiro: O Rei do Ritmo”, de autoria de Antônio Vicente e de Fernando Moura, este último um dos curadores da área de Música do MAPP. Nas citações abaixo, artistas de renome discorrem sobre Jackson e arte dele.
“Ele era uma pessoa que estudava o que fazia. Ele não improvisava demais. Era cada coisa no seu lugar. Muito exigente. Um por um, cada músico que tocava ele sabia o que fazia e sabia o que queriam que fizessem. Era uma pessoa que tinha consciência de toda orquestração ao seu redor. Era um homem de orquestra. Para mim, ele foi um mestre”. [Geraldo Azevedo]
“Com Jackson, aprendi a dividir melhor, a cantar com mais ritmo, a valorizar as palavras, inflexões, a quebrar… Essa coisa do ritmo foi o convívio com Jackson. (…) Depois dele, comecei a cantar mais forró, porque antigamente eu pegava minha música e colocava muito rock dentro. Claro que era música de raiz, totalmente nordestina, mas os ataques e a bateria eram pesados demais, não cabendo muito suingue. A partir dele, veio o suingue da minha música”. [Alceu Valença]
“Logo que comecei a gravar, conheci o Jackson pessoalmente. Já era sua fã, desde os velhos tempos de forró em Campina Grande. Sabia da sua fama e ouvia suas músicas nos programas, no rádio em que meu pai mantinha ligado todo dia. Ele e Almira arrasavam. Adoro sua parceria com Rosil Cavalcanti. Bom, nos primeiros trabalhos como cantora, Jackson sempre comparecia. Tocava pandeiro em todos os forrós e me dava muitas dicas, sempre preocupado com o ritmo, como dividir, se tornando, enfim, um grande amigo. (…) Jackson, nosso pequeno grande gênio, era um homem muito simples, mas de força e caráter surpreendentes. Humilde no seu jeito de ser e compartilhar a vida e a música, não ostentava nenhuma vaidade ou egocentrismo. Era simples mesmo, normal, humano”. [Elba Ramalho]
“Eu estava acostumado a tocar com pandeiristas, mas com Jackson foi uma coisa diferente. Foi o primeiro pandeirista que realmente me impressionou”. [Sivuca]
“Ele é uma pessoa que vai estar eternamente na minha cabeça e na do povo brasileiro. Enquanto eu estiver vivo, vou levar o nome dele”. [Hermeto Pascoal]
“Jackson foi um cara que a natureza favoreceu, né? Ele ultrapassou a barreira do som. Eu nunca vi aquilo, não. Era um gênio, um fenômeno, ultrapassou o limite… E ele não gostava de humilhar ninguém, era um cara muito humilde, procurava ajudar a Deus e o mundo”. [Bezerra da Silva]
“Não conheci ninguém que tivesse o ritmo, a afinação, o carisma e a cara do Nordeste que ele tinha. Ele era muito nordestino. Demais”. [Chico Anísio]
“Excepcional e originalíssimo”. [João Gilberto]
“Aprendi muito com o jeito dele cantar. Foi um dos meus professores. (…) Tinha um suingue incrível”. [Gal Costa]
“Pela parte que me toca, por aquilo que o tropicalismo significava para mim, significou para mim, inclusive essa coisa de chamar a atenção para a discussão da música estrangeira em geral, essas coisas todas no Brasil, nesse sentido para mim, o Jackson poderia muito bem ser um pré-tropicalista”. [Gilberto Gil]
“Acredito que Jackson foi o mais tropicalista de todos os compositores de nossa MPB, porque não tinha medo das informações externas e, embora conhecesse muita coisa de música estrangeira, via sempre uma predominância da música brasileira sobre as outras. Para ele, o coco era uma espécie de célula-mãe de todos os outros ritmos”. [João Bosco]