Na próxima terça-feira (3), às 19h, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, sediará o lançamento do livro “Passagem das Espinharas”, escrito por Vanderley e Erik Brito. A entrada é gratuita. Na obra, passado e presente dialogam e se unem, tecendo fina teia a nos recordar o quanto estamos ligados por sutis e invisíveis cadeias históricas. A entrada é franca.
O livro mistura personagens reais e fictícios, compondo um romance histórico. Possui 261 páginas, sendo o prefácio assinado pela presidente de honra do Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG), Maria Ida Steinmüller. Todo o processo de pesquisa e impressão foi financiado pela Prefeitura de Passagem.
A trama é dividida em dois atos. No primeiro, muita aventura e misticismo dão o tom do enredo. Escrito por Vanderley de Brito, que também responde pelas ilustrações do livro, ele remonta ao período colonial, narrando a saga dos Oliveira Ledo no processo de conquista dos sertões. Nesta altura, os principais personagens são Antônio de Oliveira Ledo, Gaspar Pereira de Oliveira, Theodósio de Oliveira Ledo e Antônio Martins Pereira – figuras reais na história paraibana. Além destes, há personagens indígenas que são fictícios. O segundo ato, escrito por Erik Brito, é ambientado no contexto contemporâneo, precisamente em 2017, e narra o livro em si, a pesquisa efetivada para escrevê-lo, tendo como protagonistas os próprios escritores e o prefeito da cidade de Passagem, Magno Martins.
Toda a obra é perpassada por um misterioso feiticeiro indígena e uma profecia anunciada, tratando de um cometa carregado de maus presságios que cruzou os céus em 1682, deflagrando guerras e genocídio. Cabe aos personagens de 2017, descendentes diretos dos personagens coloniais, a “missão genética” de consertar os erros de outrora.
“Confesso que esse é um dos trabalhos que mais gostei de compor. O mais interessante é que enquanto eu delineava a história colonial, simultaneamente Erik montava a dele e toda vez era preciso negociar, pois nossas partes deviam se interligar”, explicou Vanderley.
Conforme os autores, o objetivo da publicação é tornar os eventos mais interessantes, fazendo o leitor se envolver no romance ao passo que aprende História. “A ideia é que ele retenha na memória imagens que enriquecem a narrativa e assimile inúmeras particularidades antropológicas, etnográficas, genealógicas, cenográficas, linguísticas, culturais e comportamentais dos recortes históricos trazidos pela obra”, acrescentou.
Para a execução do livro, Vanderley e Erik fizeram dezenas de viagens ao município de Passagem, esquadrinharam todos os recantos da cidade e da zona rural, subiram serras, percorreram riachos, visitaram sítios e entrevistaram os habitantes. Ao final, o trabalho deles era de conhecimento de toda a cidade, ao ponto de ganharem a alcunha de “os professores barbudões”.
Vanderley de Brito é historiador e arqueólogo e Erik Brito é historiador e cineasta. Ambos nasceram na Rainha da Borborema e são membros do IHCG e da Sociedade Paraibana de Arqueologia. São pai e filho e já têm outros livros publicados.
Passagem por quê?
A cidade de Passagem fica exatamente na desembocadura do Vale, à base da majestosa Serra do Firmiano, cujo umbral forma Boqueirão com a serra oposta, a chamada Serra do Abra, e abre caminho aos horizontes sertanejos, por isso, desde tempos coloniais, o nome do lugar é “Passagem”, explanaram os autores.
A cidade é pequena, teve seu desenvolvimento atrofiado quando a velha rodovia (atual BR 230), que antes seguia o Vale do Farinha, nos tempos da implantação de sua cobertura asfáltica, foi desviada por interesses políticos para descer a Serra de Santa Luzia. “Poderíamos dizer que essa arbitrariedade de interesses coronelísticos de certa maneira favoreceu o lugar, pois as cidades do Vale do Farinha estagnaram no tempo, de modo a manter sua originalidade histórica e suas formações naturais”, contaram.