Nos campos de concentração nazistas, muitos prisioneiros optavam por assistir as apresentações artísticas, que raras vezes ocorriam, ao invés de comer, conta o psiquiatra austríaco Viktor Frankl [1905-1997], sobrevivente do Holocausto e autor do livro “Em Busca de Sentido”. Por estar alicerçada na presença física do público, a atividade cultural foi um dos primeiros setores afetados pela Covid-19. Contudo, tal é a necessidade da arte, o vírus não a impede de acontecer e seguir seu propósito de expressão, aproximação e de oportunizar alegria e leveza.
O Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, por exemplo, oriundo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), continua seus trabalhos de pesquisa coreográfica e tem participado de vários festivais de dança online. De acordo com o coreógrafo do Grupo, Roberto Almeida, são corriqueiras as reuniões com os integrantes, através da internet. “Até porque é essencial ouvir a opinião deles sobre os temas mais urgentes envolvendo o Acauã”, explicou. Além disso, nesse ínterim, o grupo vem exibindo seus espetáculos por meio de redes sociais como o Youtube, Facebook e Instagram.
“Estamos vivenciando adaptações e essas plataformas dão uma contribuição relevante para que permaneça o diálogo com grupos de outras cidades, estados ou países, possibilitando o intercâmbio entre artistas, a formação cultural e, inclusive, de público, mesmo que apenas online, por ora”, ressaltou Roberto. Dentre os eventos que o Acauã participou nas últimas semanas figuram o Festival do Folclore da Estância Turística de Olímpia (Fefol Digital), I Fest in Folk em Rede, Fest Folk Mundi in Rede, I Festival Folclórico de Pocinhos em Rede, Festival Internazionale del Folklore – Roccalumera (Itália) e o Festival Internacional de Folclore de Nova Petrópolis.
Assim, corpo e máquina se fundem para mediar a criação artística e fazê-la prosseguir, conforme enfatizou o diretor do Acauã, Agnaldo Barbosa. “Não dá para substituir o contato direto e esse formato é muito novo para todo mundo, mas é o que podemos praticar no momento. Tivemos que nos reinventar e encontrar outras maneiras de produzir, oferecer Arte e socialização para as pessoas, pois a vivência social é sobremodo fundamental nesse período. Uma grande parte disso é novidade para mim, mas é um aprendizado, uma ótima experiência e a resposta tem sido boa”, afirmou.
O Acauã segue estudando coreografias para inseri-las nas próximas apresentações, tão logo seja possível, informou Agnaldo. “Mantemos o ritmo das pesquisas, já que uma das nossas preocupações é sempre incrementar nossos espetáculos, trazer algo diferente e bonito para a plateia. Como componentes não só do âmbito artístico, mas de uma universidade, é ainda mais preciso que estejamos atentos às mudanças sociais e refletindo sobre elas. Para mim, por tudo que está fazendo pela sociedade, propondo e implementando soluções nessa situação inesperada, a UEPB está de parabéns”, finalizou.