Em mais um ano sem as comemorações juninas presenciais, devido à pandemia da Covid-19, a saudade do São João vem para todos, seja para aqueles que participam da construção da festa, seja para os espectadores que têm verdadeiro amor por essa época. A ausência dos festejos, contudo, impacta principalmente a realidade dos artistas paraibanos, que vivem essencialmente das suas apresentações nesses eventos. Por isso, pensando em ajudá-los, está sendo desenvolvida a campanha “Quem tem fome, tem pressa”. A iniciativa é realizada em uma parceria entre a Pró-Reitoria de Cultura (PROCULT) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o Fórum Nacional de Forró de Raiz (FNFR), o Fórum Nacional da Rota do Forró e a página Nordeste Cultural Online.
Visando arrecadar alimentos para os trabalhadores da cadeia produtiva da cultura, a campanha terá como pontos de coleta os postos de vacinação contra a Covid-19. A ideia é que as pessoas que estão sendo vacinadas levem itens não perecíveis até esses locais. Caberá a PROCULT proceder com a coleta, armazenamento e a organização desses alimentos em cestas básicas, dispondo, em seguida, da distribuição, que será feita no Centro Artístico Cultural (CAC) da UEPB – situado na Avenida Presidente Getúlio Vargas, 44, no Centro de Campina, precisamente por trás dos Correios.
Segundo um dos idealizadores da atividade e coordenador do Fórum de Forró de Raiz na Rainha da Borborema, Alfranque Amaral, o objetivo é estender a ação para toda a Paraíba e que a UEPB possa ser parceira nas cidades onde houver campus da Universidade. “Mas o nosso desejo é congregar todas as instituições que quiserem nos auxiliar”, explicou.
Para agilizar e planejar a logística, a comissão organizadora da Campanha está buscando apoio e levantando as informações necessárias junto às prefeituras, bem como mobilizando a imprensa, associações, ativistas culturais e quem mais estiver disposto a se engajar. “Contatamos a Prefeitura Municipal de Campina Grande e aguardamos uma resposta, mas temos urgência, uma vez que muitas pessoas estão passando fome nesse momento”, destacou Alfranque.
Duas pandemias ou sobre como surgiu a ideia da Campanha
Através de uma parceria entre o Fórum Nacional do Forró de Raiz e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foram obtidas 270 cestas básicas. “Foi justamente a demora da licitação para a aquisição das cestas, pelo Governo do Estado, e para a entrega delas, que nos despertou para a realização da Campanha. Ainda estamos esperando, as cestas não chegaram, mas aí todos os dias algum dos cadastrados entra em contato comigo. Em mim e em meus amigos isso gerou uma angústia enorme, então vimos que era preciso fazer alguma coisa, rapidamente”, disse Alfranque.
Ele ressaltou que a vida financeira da maioria dos artistas, mesmo em tempos “normais”, é sobremodo difícil. “Temos inúmeros relatos nesse sentido. Há quem trabalhe num dia, para comer no outro. Com a crise sanitária, ficou praticamente impossível viver de arte, pois eles estão parados em decorrência do fechamento dos espaços de lazer, nos quais a maioria trabalha. Uma grande parte desses artistas enfrenta duas pandemias, uma da Covid-19 e outra da mais completa estagnação na renda. Muitos estão se desfazendo de seus já parcos bens, incluindo instrumentos musicais e outras ferramentas de trabalho, para terem dinheiro e poderem se alimentar. A pandemia chegou e escancarou as fragilidades desse setor”, finalizou.
Outras informações podem ser obtidas por meio do telefone (83) 98104-3548.
Texto: Oziella Inocêncio