Exposição “Campina Grande 160 anos” é aberta no Museu de Arte Popular da Paraíba
Dá para imaginar uma Campina Grande às escuras, sem iluminação elétrica, mesmo já consolidada como um poderoso centro exportador de algodão? Pois bem, pode-se dizer que até 1920 a Rainha da Borborema era só “trevas”, posto que a luz vinha apenas por meio de querosene, enquanto outras cidades, a exemplo de Guarabira, Itabaiana, Bananeiras e Mamanguape dispunham de luz elétrica.
Aí, naquele ano, João da Costa Pinto, vindo do Recife e autorizado pelo prefeito da cidade, Cristiano Lauritzen — que, dizem, de dinamarquês não tinha nada, pois sua alma era 100% campinense — adquiriu de uma firma de São Paulo um motor para a geração de luz elétrica. Detalhes do equipamento: fabricação alemã, dínamo de corrente contínua, 65 mil velas, pesava 3 mil quilos, custou 18 contos de réis, pagos à vista, no Banco de Londres — o intermediário da venda entre a firma paulista e a Prefeitura Municipal de Campina Grande. Essas e outras informações curiosas e interessantes estão na exposição “Campina Grande 160 anos – Arte, História, Devoção, Ciência e Tecnologia”, aberta no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), na noite da quarta-feira (9).
Cheia de fotografias, telas, esculturas, artesanato, textos, fotografias e gravuras, ela resulta do trabalho de 18 artistas e traz diversos recortes no cenário da cidade: momentos econômicos como a pecuária e a agricultura (século XVIII); marcos como a inauguração do Chafariz de Puxinanã, em 1927, que constituiu o primeiro serviço de água encanada de Campina; a inauguração do Paço Municipal (1879), como sede da Câmara e do Fórum; e a chegada da Estação Ferroviária (1907). Um dos destaques é a UEPB, posto que uma linha do tempo dela é apresentada, discorrendo acerca das maiores efemérides da Instituição, a saber, entre outros: a estadualização (1987); o reconhecimento pelo Ministério da Educação (MEC), que data de 1996; e a conquista da autonomia financeira (2004).
Integram a exposição artistas como Lili Brasileiro (in memoriam), que foi por décadas professora do Centro Artístico (CAC) da UEPB; o Coletivo Furne, com Carmen Sheilla, Antônio Albuquerque e Mariza Rodrigues; Alex Melo; Arnilson Montenegro; César de Cesário; Val da Costa; Zezé Nóbrega; Zilene Neiva; Socorro Moraes; Alexandre Filho; e Paulo Roberto.
Atração à parte é um mural do professor Chico Pereira, “um contemporâneo do futuro”, como bem lembra a exposição. O artista plástico que por muitos anos trabalhou na UEPB, estando à frente do MAPP, inclusive, disse que sua presença na exposição não é diretamente ligada aos 160 anos, mas se refere ao caráter que Campina tem de ser uma cidade sempre um passo adiante de sua época. “Participo com a reprodução de um painel que fiz para a antiga Urne e que sobreviveu ao tempo, contando mais de 60 anos. Ele foi encomendado pelo reitor, Edvaldo de Souza do Ó, inicialmente para o restaurante universitário. Eu tive a oportunidade de restaurá-lo na gestão de Marlene Alves”, revelou.
Quem desejar pode retirar os ingressos gratuitamente AQUI, de maneira antecipada. A visitação no MAPP acontece de terça a sexta-feira das 10 às 19h, e aos sábados e domingos das 14 às 19h. Outras informações podem ser obtidas pela rede social @museu.arte.popular.paraiba.
Solenidade
O mestre de cerimônias do evento foi o servidor da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT), Alberto Alves. A solenidade teve início com o hino de Campina Grande sendo interpretado por Adília Uchôa e Mano Marquez. Em seguida, deu-se a formação da mesa de abertura, composta pelo chefe de gabinete da Reitoria da UEPB, representando a reitora Célia Regina Diniz, professor Luciano Albino; o pró-reitor de Cultura, professor José Cristóvão de Andrade; o diretor do MAPP e pró-reitor adjunto de Cultura, professor José Pereira da Silva; o curador Angelo Rafael; o vice-governador do Estado, Lucas Ribeiro; e a representante da Secretaria de Educação (SEDUC) da Prefeitura Municipal de Campina Grande (PMCG), Giovanna Aquino.
Entre os participantes, na plateia, figuravam os representantes do Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG), Ida Steinmüller e Vanderley de Brito, cuja entidade contribuiu com algumas obras para a exposição; a diretora do CAC, Patrícia Lucena; a idealizadora do Festival de Inverno e presidente do Instituto Solidarium, Eneida Agra Maracajá; a vereadora Jô Oliveira; a representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE/UEPB), Priscila Rocha; e a presidente da Comissão de Combate ao Racismo e Discriminação Racial da OAB/CG, Deborah Henrique.
Luciano Albino começou sua fala rememorando um evento do qual participou, e alguém comentou ser curioso que existam cidades em que os moradores sabem e cantam o hino delas. “Aqui, inclusive, muitos de nós podem não conhecer o hino do Estado, mas o do município sim. Isso fala bastante sobre nós e a relação que temos com a cidade. Eu sou de Campina e ela sempre foi uma referência, protagonista no Nordeste, pelas indústrias, pelo trabalho, pelas universidades. Campina logo cedo despontou como uma cidade em que as coisas acontecem. Embora o Nordeste tenha sido estigmatizado de várias maneiras, em Campina esse rótulo de negatividade nunca pegou muito, porque o campinense sempre se mostrou orgulhoso de sua terra e sua gente. Então participar de um momento como esse vem nos lembrar que não existe projeto civilizatório sem memória, não dá para se pensar em futuro esquecendo como tudo foi construído, e o papel da UEPB nesse contexto, de articular artistas, intelectuais, pessoas engajadas em colaborar para o crescimento, é importantíssimo”, disse.
O pró-reitor de Cultura enfatizou as palavras do chefe de gabinete, ressaltando o quanto Campina e a UEPB estão interligadas. “Elas apresentam a marca da prosperidade, do conhecimento, da tecnologia, da busca pelo progresso através do saber. Ao mesmo tempo que essa exposição homenageia a cidade que tanto amamos, se sobressai também a nossa Instituição, que conta 58 anos, e como ela segue se inserindo de um jeito valioso na nossa comunidade”, pontuou Andrade.
Já o diretor do MAPP, contextualizou como a ideia da exposição surgiu. “A gente percebeu que o ano estava repleto de datas relevantes, como os 160 anos de Campina, os 75 anos da Diocese e os 170 anos do Dogma da Conceição. Essas datas nos inspiraram a pensar a respeito desse projeto, reunindo os temas. Angelo e eu tivemos um longo período de conversa e planejamento. Agradeço a toda nossa equipe técnica, pois essas últimas semanas foram de um trabalho extremamente intenso, desde a parte administrativa, a parte de limpeza, segurança, para que a exposição fosse entregue às vésperas do aniversário de Campina, pois não haveria sentido que fosse em outra oportunidade”, acrescentou. O professor Pereira ressaltou, igualmente, o fato da iniciativa reservar uma ocasião especial para a padroeira de Campina, Nossa Senhora da Conceição. “Provavelmente a exposição irá até o final do ano, combinando com essa celebração”, endossou.
Angelo Rafael, finalizando as falas da mesa, pontuou sua alegria ao receber o convite para integrar a realização da exposição. “Ela faz uma viagem sem ser muito cronológica e espero que os visitantes possam apreciá-la. É um projeto em que se unem várias mãos, feito com diversos artistas que se prontificaram a participar e hoje também componho esse grupo. Sabemos que o trabalho de uma curadoria envolve cada aspecto, a disposição das obras, a paleta de cores usada nas paredes, é praticamente uma ciência que vamos aprendendo no decorrer do tempo. Foi muito gratificante ser uma peça desse universo cheio de criatividade”, assinalou.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Filipe Chaves e Hugo Tabosa