MAPP recebe exposição “Retratos de vidas e sonhos de mulheres”

A partir desta quarta-feira (12), às 18h30, a Galeria 3 do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, sedia a exposição “Retratos de vidas e sonhos de mulheres – O sentido da vida e convite a sonhar”, da artista francesa Hélène Albaladejo. O vernissage acontece com entrada franca.
A atividade é oriunda do Observatório de Prevenção e Enfrentamento às Violências contra as Mulheres Briggida Lourenço (OBL) e da Faculdade de Linguística, Letras e Artes (FALLA), compondo a programação especial de março, relativa ao Dia Internacional da Mulher. A Pró-reitoria de Cultura (PROCULT) e o MAPP são parceiros da iniciativa. “Retratos de vidas e sonhos de mulheres” traz aos visitantes 32 fotos analógicas, inéditas no Brasil, no tamanho 50/50cm, dividindo-se em duas partes: 26 da seção “O Sentido da Vida” e seis fotos do recorte “Convite para Sonhar”.
Como inspiração de Hélène para o projeto está a experiência “Al Andalus” (nome dado à Península Ibérica, a partir do século VIII, no período de dominação muçulmana), quando, por algum tempo, muçulmanos, cristãos e judeus, tiveram uma convivência de tolerância, com colaboração nas ciências, no comércio e intercâmbios culturais. A partir dessa motivação, a artista, visando contribuir para a promoção da paz e da busca das mulheres em defesa dos seus direitos, passou a fazer fotos de migrantes na França e na Espanha, pertencentes aos três grandes monoteísmos — Islamismo, Cristianismo e Judaísmo. “Há mais de mil anos, as culturas ligadas a eles conviveram em harmonia e, hoje, os conflitos tanto bélicos como por falta de respeito às mulheres, estão crescendo”, pontua Hélène, acrescentando que “Al-Andalus” não foi um mito ou uma lenda, mas uma experiência histórica e dela necessitamos para ter alguma esperança neste planeta.
Assim, a exposição apresenta mulheres que vivem em Marselha e Granada, com e sem véu na cabeça, tendo a maioria sofrido violência referente ao sistema religioso, jurídico e social ou, individualmente, por parte de homens, mas que, agora, como bem assinala o catálogo da mostra, sentem-se livres e dispostas a participar com suas fotos, em solidariedade às outras mulheres, em defesa da paz e pela liberdade de usar ou não usar o véu, como expressão de sua identidade pessoal e sociocultural.
Acerca disso, os trabalhos de Hélène deixam a reflexão de que a utilização do véu por elas é anterior à cultura muçulmana, cristã e judia, sendo usados antes, e também na atualidade, por mulheres de variadas religiões, ou não, em inúmeros momentos da história e em diferentes lugares do mundo. Por isso, considerar que toda mulher que usa o véu é submissa e deve ser “salva” pela cultura e civilização ocidental, parece tão violento quanto obrigá-la a usar tal vestimenta, como é o caso das mulheres no fundamentalismo curdo. Para a artista, o véu em si não subtrai o pensamento, e a ausência dele não significa autonomia.
Delinquência autorizada
Haja vista a realidade do mundo contemporâneo, Hélène acredita que é no fortalecimento do fundamentalismo religioso e na ascensão de movimentos fascistas de extrema direita, entre outros fatores, que residem as causas do aumento no número de feminicídios, posto que é como se tal contexto autorizasse implicitamente a delinquência.
“Sob alguns aspectos, a situação das mulheres em relação à violência machista não mudou muito. Quanto mais as mulheres se libertam, mais violentos certos grupos de homens se tornam. O estupro e o feminicídio sempre existiram, mas agora há uma defesa explícita do machismo e a propagação do ódio nas redes sociais, sob o pretexto de liberdade de expressão. Mais do que nunca, é preciso combater o machismo e o racismo, e promover o respeito”, destacou.
Nascida na França, de pai espanhol e mãe francesa, Hélène vive atualmente na cidade de Granada. Por parte de pai, descende de uma família de pintores catalães de Barcelona. Desenvolveu inicialmente a arte da pintura, integrando depois ao seu trabalho a arte da colagem e, em sequência, a fotografia. Em sua trajetória artística como fotógrafa, outro tema de sua predileção foi o patrimônio histórico de pontes e portos antigos, no sul da França, Espanha e Estados Unidos.
Texto: Oziella Inocêncio e Juliana Rosas