MAPP inicia nova monitoria e amplia sua atuação como espaço de Extensão

Moradora da cidade de Queimadas (PB), Maria Ilza Francisca da Silva, de 52 anos, jamais esqueceu a ideia de conquistar a tão sonhada graduação. Planos concretizados — na atualidade, ela cursa Serviço Social na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) — Ilza conta que a Instituição vem trazendo muitas surpresas positivas. Isso porque, ela, que já trabalhou em diversos setores, inclusive na indústria, exercendo por 12 anos várias funções, nunca pensou em ser monitora de um museu. Ilza é parte da equipe do programa de extensão “Informação, cultura e sociabilidade no acolhimento ao público do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP)”, que começou suas ações neste mês.
Ela explicou que desde criança teve contato com artesanato, através de uma amiga da família. “Principalmente objetos em argila, sei como são feitos, acho muito bonitos, mas tenho aprendido bastante sobre outras formas criativas. Arte contemporânea, por exemplo, não conhecia, é bem diferente. Uma das exposições de que mais gostei até agora foi ‘Os Sertões que nos Atravessam’, pois é como se eu me sentisse em casa, ao ver aqueles ambientes, porque retratam a vivência nas cidades do interior”, apontou.
Ilza diz que algumas pessoas “chegam atrasadas na vida” devido às circunstâncias em que estão inseridas. O trabalho infantil, por exemplo, foi uma realidade difícil, enfrentada por ela, sendo empregada doméstica. “Nenhuma criança deveria passar por isso, é muito triste. Primeiro, era preciso sobreviver, depois vieram os filhos, toda a conjuntura me afastou da escola. Terminei o Ensino Médio com mais de 30 anos, o que representou uma grande vitória para mim. A UEPB abriu um novo cenário de possibilidades e a minha expectativa para os próximos meses é a melhor possível. Fiquei bastante curiosa quando surgiu essa oportunidade de monitoria e por isso quis participar. Talvez eu não esteja atrasada na vida como penso, e as coisas aconteçam na hora certa, pois agora tenho mais tempo para me dedicar, aproveitando melhor essa fase”, detalhou ela, que é mãe de três e tem uma neta.
O programa de extensão é coordenado pelo diretor do MAPP, professor José Pereira da Silva, tendo como mediadora da formação educativa a artista visual e curadora Rebeca Souza. São 12 monitores: 10 bolsistas selecionados e dois voluntários. Os estudantes dispõem de 12 horas semanais para o desempenho das atividades extensionistas, por meio de uma escala, segundo o diretor. “O programa se propõe a continuar o treinamento e acompanhamento sistemático de discentes dos cursos de graduação da UEPB para atender a demanda de visitação do MAPP. A seleção, treinamento e acompanhamento dos jovens graduandos já são feitas nesses moldes desde 2014. Nesse percurso, aconteceu também a inserção de alguns elementos, que se fizeram necessários ao longo da experiência de mais de 10 anos de funcionamento do Museu”, explanou.
Conforme o professor Pereira, a equipe é preparada no sentido de fornecer explicações a respeito do acervo, bem como orientar quanto à condução das pessoas no MAPP, levando-se em conta, sobretudo, as peculiaridades de faixa etária, área de interesse acadêmico-profissional, dentre outros fatores que justificam uma abordagem e uma atenção qualificadas àqueles que frequentam o local. “Tendo em vista a própria natureza da formação universitária, voltada a facilitar a interação do discente com pessoas de perfis diversificados, os estudantes são treinados e capacitados para que promovam a informação, trazendo conhecimento acerca da música popular, literatura de cordel e artefatos diversos, disponíveis no Museu”, destacou.
Entre os fundamentos do programa figuram proporcionar aos visitantes do MAPP e aos alunos das escolas públicas de Campina Grande, um suporte informativo/interacional que permita um usufruto qualificado dos itens artísticos do Museu e do espaço dele em geral.
Acolhimento e sensibilidade
De acordo com Rebeca Souza, o objetivo da formação é fazer com que os monitores sejam agentes de mediação cultural no MAPP, capazes de acolher o público, promover o diálogo com as obras e contribuir para a democratização do acesso à arte popular e à cultura. “A atividade busca desenvolver competências para que os monitores compreendam o papel educativo do Museu, exerçam escuta ativa e atuem de forma crítica, sensível e inclusiva. A ideia, além disso, é combater o que possivelmente dificulte o acesso ao saber museológico, destacando também os museus não como espaços neutros ou elitizados. Almejamos, ainda, preparar os monitores para atuarem com empatia, clareza e sensibilidade diante da diversidade do público. Temos sempre em vista que a monitoria é voltada para a transformação social, a valorização dos saberes locais e o fortalecimento da cultura”, informou.
Os conteúdos transmitidos aos participantes incluem, conforme Rebeca, o papel social e educativo dos museus; a função da mediação cultural; princípios como acolhimento e acessibilidade; a importância da sensibilidade sociocultural; a crítica à ideia elitista de museu como espaço restrito; a monitoria como prática de educação patrimonial e cidadania; e competências como comunicação clara, ética e domínio da política cultural do MAPP.
Escuta psicológica e história da arte
Eduardo Nathan Gomes de Andrade, 25, morador do Complexo Aluízio Campos, em Campina, cursa o 8º período de História e estava de olho na monitoria do MAPP desde o ano passado. “Minha vontade de trabalhar no Museu surgiu faz tempo, gosto muito do espaço e sei que aqui dá para abordar a História de diversas maneiras. Estava tão interessado, que no mês de junho de 2024 eu vim como voluntário, agora tive a felicidade de ser selecionado. Gosto de arte popular, sobretudo arte urbana, que é o tema do meu projeto de pesquisa”, contou.
Já Maria Letícia Medeiros Duarte, 19, que reside no Santo Antônio e Ana Mércia Alves de Lima, 20, moradora do bairro Novo Bodocongó, estudam, respectivamente, o 3º e o 5º período de Psicologia, e pretendem aplicar principalmente a escuta psicológica no MAPP. “Minha avó é cordelista e já conheço o universo do Museu e algumas atividades dele. Participei, por exemplo, do São João de Brincantes e também vejo o ambiente museológico como um local que se abre para a reflexão. No contexto da escuta psicológica, que em linhas gerais é ouvir o outro com atenção, objetivando compreender amplamente sua experiência e sentimentos, acredito que o MAPP é um ótimo lugar para tal, oportunizando um momento ainda mais acolhedor”, disse Maria Letícia. Acerca do tema, Ana Mércia acrescentou que a escuta psicológica relacionada às visitas guiadas, permitirá aos usuários que se sintam mais à vontade, expressando desse modo emoções e pensamentos, seja sobre as obras, ou mesmo envolvendo questões pessoais desencadeadas pela visita. “Esperamos, dessa forma, enriquecer a experiência cultural deles”, concluiu.
Além de Maria Ilza, Eduardo Nathan, Maria Letícia e Ana Mércia, integram o programa Maria Beatriz Campos de Medeiros, Jéssica dos Santos Brito, Janaína Canuto Campos, Bruna dos Santos Souza, Laura Rodrigues Martins de Almeida, Vagner Fernandes Gangorra, Maria Fernanda de Oliveira Lima e Heloisa Gabrielly Delgado Pereira.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Gustavo Lima e Tamaki PB (Divulgação)