Museu de Arte Popular recebe lançamento da publicação “Conflitos no Campo Brasil”

Museu de Arte Popular recebe lançamento da publicação “Conflitos no Campo Brasil”
11 de agosto de 2025

Acontece nesta terça-feira (12), no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), às 9h, o lançamento estadual da publicação “Conflitos no Campo Brasil 2024”. A atividade é realizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o MAPP da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), sendo aberta a todos os interessados.

A programação inclui um momento místico-religioso, uma mesa de análise dos dados com diversos participantes afins ao tema, e a “fila do povo” — espaço destinado aos relatos e reflexões de camponeses e camponesas. Estarão presentes na mesa Cecília Gomes, da coordenação nacional da CPT, e os docentes Luciano Albino (UEPB), Marcos Mitidiero (UFPB) e Ana Lia Vanderlei (UFPB).

O evento marca também os 50 anos de atuação da Comissão Pastoral da Terra no Brasil e os 10 anos da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, que chama atenção para o cuidado com a “casa comum”. Além disso, o 12 de agosto na Paraíba é dia de fazer memória à Margarida Maria Alves, sindicalista assassinada em Alagoa Grande, porque sua atuação política contrariava interesses econômicos dos latifundiários locais.

Esta é a 39ª edição da Conflitos no Campo Brasil, elaborada pela CPT por meio do seu Centro de Documentação Dom Tomás Balduino. Editado pela primeira vez em 1985, o escrito se tornou referência nacional e internacional, configurando-se como um instrumento relevante, no que se refere às denúncias acerca da violência cometida cotidianamente contra os povos do campo, das águas e das florestas no Brasil.

Na publicação, é possível encontrar dados sobre conflitos em relação à terra e à água, conflitos trabalhistas, trabalho escravo, tipos de violências contra a ocupação e a posse e tipos de violência contra a pessoa, como os assassinatos e as ameaças de morte. Também estão disponíveis diversos artigos e análises dos dados levantados. Outras informações podem ser adquiridas através do e-mail comunicacaocptne2@gmail.com e da rede social @cptne2.

Invasões de território crescem quase 900% na Paraíba

Os dados de 2024 revelam uma nova face da violência no campo paraibano: as invasões de território. Em apenas um ano, o número de famílias atingidas saltou de 383 para 3.708, um aumento de quase 870%. A maior parte desses casos refere-se ao avanço de parques eólicos em áreas de agricultura familiar, quilombolas e assentamentos da reforma agrária.

Sob o discurso de “energia limpa”, empresas se instalam sem consulta às comunidades, alterando radicalmente o dia a dia de quem vive e produz nessas regiões. Moradores relatam sintomas físicos e psicológicos causados pela proximidade das torres eólicas, fenômeno conhecido como “síndrome do aerogerador”, já pesquisado pela Fiocruz.

Número menor, impacto maior

Além das invasões, o relatório mostra que os conflitos vinculados à terra diminuíram em número, mas cresceram em impacto: menos ocorrências, porém mais famílias atingidas. Já os conflitos por água e trabalho escravo apresentaram queda, mas a CPT alerta que isso pode estar ligado à subnotificação e ao silenciamento das denúncias.

A publicação aponta o embate entre dois projetos de sociedade: o da concentração de terras e recursos, promovido por grandes empreendimentos, e os anseios dos povos do campo, que lutam por dignidade, território e justiça social.