Artigo de professora da UEPB destaca investigação do genoma de plantas usadas no chá ayahuasca
Um artigo com a participação da professora Simone Silva dos Santos Lopes, do Departamento de Biologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), foi publicado na PeerJ, respeitada e premiada editora internacional. A pesquisa, que investiga o genoma de plantas usadas no chá Ayahuasca, foi destaque em diversas reportagens da imprensa nacional.
O artigo publicado em inglês – The complete organellar genomes of the entheogenic plant Psychotria viridis (Rubiaceae), a main component of the ayahuasca brew, (Os genomas organelares completos da planta enteogênica Psychotria viridis (Rubiaceae), principal componente da bebida ayahuasca) – tem ganhado repercussão na comunidade científica. Foi escrito em co-autoria com o professor Francisco Prosdocimi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e professor Alessandro Varani, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A professora Simone Lopes destacou que o artigo foi fruto de um trabalho de pesquisa que está sendo desenvolvido desde 2020, referente ao sequenciamento completo de duas plantas da flora brasileira. Ela enfatizou que as duas plantas são utilizadas por indígenas brasileiros para a produção da bebida Ayahuasca e que o chá e sua utilização no tratamento de algumas doenças, como a depressão e a ansiedade, estão sendo estudado por outros cientistas.
A publicação é fruto de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em que cientistas de diversas universidades brasileiras trabalham no sequenciamento genético das plantas usadas no preparo da infusão Ayahuasca, também conhecido como chá vegetal ou Santo Daime. No primeiro produto do projeto, o artigo publicado na revista PeerJ, os pesquisadores analisaram os genomas organelares da chacrona. Mais precisamente, os genomas da mitocôndria (organela produtora de energia) e do cloroplasto (organela envolvida na fotossíntese) presentes na célula da planta.
O estudo compreende, em um primeiro momento, a interpretação e tratamento dos dados brutos do sequenciamento e, em um segundo momento, a análise e separação dos genes de interesse. As amostras da chacrona e do cipó mariri sequenciadas no estudo foram coletadas em um núcleo da União do Vegetal, uma das religiões brasileiras que usa o chá e que é parceira no projeto, na floresta da Cantareira, zona norte da cidade de São Paulo. O sequenciamento foi realizado em equipamentos de última geração localizados na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
Os cientistas já sabem que o efeito do chá é causado principalmente pela ação da dimetiltriptamina (DMT), encontrada nas folhas da chacrona, e de alcaloides presentes no cipó mariri, que prolongam e potencializam o efeito da DMT. O objetivo do projeto é, pela primeira vez, obter um sequenciamento detalhado do genoma de ambas as espécies, o que abre possibilidades para a produção de conhecimento aplicado a partir da flora brasileira. Uma vez estabelecido o perfil desse genoma, outras pesquisas podem vir a identificar quais genes da Psychotria viridis estão associados à produção de enzimas responsáveis pelas substâncias psicoativas.
A professora Simone Lopes afirmou que o trabalho ainda não foi concluído, mas quanto estiver totalmente pronto, terá grande importância para a biodiversidade e conservação dessas duas espécies e para gerar conhecimento e inspirar outros trabalhos semelhantes.
Na imprensa nacional, a pesquisa ganhou destaque em diversas publicações, como as revistas Galileu e Veja e no jornal Folha de S. Paulo.
Ayahuasca – No Brasil, o chá é utilizado por povos indígenas e diferentes grupos religiosos brasileiros. A grande diversidade de usuários explica a pluralidade de nomes pelos quais a bebida é conhecida. Entre os cientistas, padronizou-se o uso do termo ayahuasca – palavra em língua quíchua, usada pelos grupos do Peru, que significa “cipó dos mortos”.
Embora o chá ayahuasca possa ser preparado de diversas formas, uma das mais comuns é a adotada pelos grupos religiosos, que envolve o uso de duas espécies de planta. Segundo essa prática, o cipó Banisteriopsis caapi, também conhecido como jagube ou mariri, e a arbustiva Psychotria viridis, conhecida como chacrona ou rainha, são macerados e submetidos a um cozimento prolongado, que resulta na preparação da bebida.
Texto: Severino Lopes