“Cartas a uma Negra”: clube de leitura promove debate sobre violência de gênero contra imigrantes
Neste sábado (26), às 15h, o “Leia Mulheres” volta ao Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande. Desta vez, o livro abordado é “Cartas a uma Negra”, de Françoise Ega. O clube de leitura tem o objetivo de promover um espaço de diálogo e vivências, a partir da literatura feminina. O evento é gratuito e começa às 15h.
Conforme uma das mediadoras, Renata Oliveira, na obra, Françoise, por meio de uma narrativa epistolar, denuncia as violências cotidianas enfrentadas por mulheres negras imigrantes, que trabalham como empregadas domésticas, na França dos anos 1960. São cartas dirigidas à escritora brasileira Carolina Maria de Jesus, mas nunca entregues, e o texto se desenvolve de forma que o livro pode ser lido como um romance.
“Temos alcançado o objetivo de divulgar e valorizar obras de autoria feminina, especialmente, explorando a diversidade de nacionalidades, gêneros literários e textuais, culturas e etnias trazidas por elas. Ao longo destes quase 10 anos de iniciativas do clube, lemos mais de 90 autoras de 25 países. Como as sugestões podem ser feitas por quaisquer participantes, ao final dos encontros, terminamos conhecendo muitas autoras de fora do mainstream literário, por indicação, assim foi com Françoise Ega, escritora martinicana radicada na França”, informou.
Renata detalhou que “Cartas a uma Negra” surgiu a partir do contato de Ega com trechos do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, reproduzidos na revista Paris Match. “Este contato foi tão impactante que provocou um sentimento instantâneo de identificação, e Françoise começou a escrever cartas, que jamais foram enviadas para Carolina. Nelas, é descrita sua realidade e a de vários imigrantes antilhanos com trabalhos precarizados, em Marselha. Se, atualmente, o Ministério do Trabalho ainda encontra pessoas em condições análogas à escravidão, se continua havendo relutância por parte de empregadores para reconhecer e respeitar os direitos trabalhistas, principalmente aqueles que constam na lei complementar nº 150/2015, conhecida como Lei das Domésticas, imagine a violência da exploração, naquela época”, destacou. Como acrescentou Renata, mulheres antilhanas, negras, empobrecidas desde sua origem nas colônias, chegavam à França devendo às suas patroas três anos de seus honorários, e quanto mais trabalhavam, mais deviam.
“A perspicácia, criticidade, consciência de classe e generosidade concederam a Françoise uma visão inovadora de como pessoas subalternizadas deveriam se posicionar ante seus empregadores. Dada nossa herança também colonial e patriarcal, somos mais vítimas da violência quanto mais marcadores intersecionais estão envolvidos, enquanto mulheres, mulheres negras, mulheres negras pobres, mulheres negras pobres imigrantes, e assim vão se acumulando os alvos da violência. Felizmente, mesmo diante desse contexto adverso, temos algumas vitórias a comemorar, leis que nos protegem, mudanças na educação, modificações culturais que vêm nos favorecendo”, ressaltou.
Texto: Oziella Inocêncio
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