Cateter capaz de evitar infecção urinária é desenvolvido por docente da Universidade Estadual da Paraíba
Um cateter capaz de evitar infecção urinária foi desenvolvido pela professora do Departamento de Farmácia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Patrícia Meira de Freitas e Silva, e deve auxiliar equipes médicas na luta contra infecções adquiridas em ambiente hospitalar. O produto é fruto do Doutorado em Biotecnologia que a docente cursou na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob orientação do professor Fábio Sampaio, e foi produzido no Laboratório de Biologia Bucal da instituição federal e no Laboratório de Microbiologia da UEPB.
A inovação rendeu à professora o prêmio Delby Fernandes de Medeiros de Inovação Tecnológica e gerou patente registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Patrícia explica que as infecções urinárias de pacientes em uso de cateteres urinários ocorrem com frequência de aproximadamente 40%, aumentando a morbidade e, inclusive, a mortalidade de pacientes em função da infecção generalizada desencadeada pelo uso prolongado do cateter.
Com o novo produto, esse índice deve cair significativamente, uma vez que o cateter é impregnado com antibióticos capazes de agir sobre microrganismos presentes no próprio indivíduo e impedir a formação de biofilme bacteriano, dificultando o desenvolvimento de infecção urinária. O dispositivo também pode ter eficácia contra infecções generalizadas.
Ela ressalta que o cateter foi criado, principalmente, para atender a uma necessidade hospitalar premente, que seria a diminuição de infecções urinárias e generalizadas em pacientes que fazem uso prolongado de cateteres urinários, sem administração oral ou venosa de antimicrobianos, uma vez que essa administração dispersa aerossóis no ambiente e aumenta o risco de as bactérias desenvolverem resistência aos antimicrobianos.
Os antibióticos utilizados nos testes para a pesquisa foram um químico e outro de origem natural. Foram utilizadas a tradicional ampicilina e uma substância natural extraída da planta Malvácea, o sal de criptolepina, que também tem ação antimicrobiana. Sobre a escolha dos antibióticos utilizados na pesquisa para desenvolvimento do cateter, a docente frisa que o uso em pesquisa de antibióticos de origem natural, com plantas, tem sido uma tendência no âmbito dos estudos em Farmácia, considerando a elevada resistência das bactérias aos antibióticos com formulações químicas atualmente comercializados.
“Com base em estudos anteriores, percebi que alguns antibióticos comerciais que tiveram sua ação diminuída, devido à resistência das bactérias, poderiam ter sua ação potencializada com a associação de algumas plantas medicinais. Então, escolhemos alguns antibióticos comerciais e os associamos com várias plantas medicinais até encontrar uma combinação ideal. Assim, encontrei a potencialização da ação da ampicilina quando associada ao sal de criptolepina”, detalha a professora.
Dessa forma, a pesquisa conseguiu resgatar um antibiótico clássico e barato, a ampicilina, que já não tinha praticamente ação sobre algumas bactérias, principalmente as de importância hospitalar que apresentam elevada resistência ao medicamento. Associado ao sal de criptolepina que, quimicamente, tem características de uma indoquinolona, a ampicilina voltou a ter ação antimicrobiana sobre bactérias temidas no ambiente hospitalar como Pseudomonas aeruginosa e seus biofilmes, quase instransponíveis aos antibióticos clássicos.
“Fizemos vários testes para verificar a toxicidade do sal de criptolepina e averiguar se os dois antibióticos associados teriam ação sinérgica ou antagônica. Depois, impregnamos a associação de antibióticos em cateteres urinários e testamos se os antibióticos seriam liberados em concentração suficiente para impedir o desenvolvimento de biofilmes bacterianos na superfície do cateter, o que impediria o desenvolvimento de infecções urinárias em pacientes cateterizados”, conta Patrícia.
Estudos sobre bactérias e antibióticos na prática hospitalar
A professora conta que sempre se interessou pelo estudo das bactérias, vírus e fungos e foi daí que resolveu desenvolver estudos da área. Ela pretende, em pós-doutoramento, dar sequência a esta pesquisa que, ao ser testada em animais e humanos, pode gerar um uso comercial. Para Patrícia, trabalhar com infecção hospitalar é uma forma direta de trabalhar com bactérias e antibióticos na prática hospitalar e laboratorial. “Identificar bactérias causadoras de infecções relacionadas e os antibióticos aos quais elas são sensíveis ou resistentes viabiliza a cura mais rápida e efetiva de pacientes, evitando que uma infecção se torne mais grave e até se dissemine pelo organismo, levando a mortes que podemos chamar de mortes silenciosas, pois dificilmente torna-se explícito que a causa foi infecção hospitalar”, explica a professora.
Patrícia entende que, com esse tipo de estudo, os pesquisadores podem ajudar os hospitais a economizar recursos financeiros com a compra e uso de antibióticos adequados a cada paciente. “Estima-se que, nos Estados Unidos, os hospitais têm gasto anual de 100 milhões de dólares com infecções hospitalares. Nos dias atuais, diante da crescente resistência das bactérias aos antibióticos, o uso responsável destes para uma infecção tem que ser obrigatoriamente precedido de um exame, que é a cultura com antibiograma, para se certificar a quais antibióticos uma bactéria é efetivamente sensível”, exemplifica.
A professora conta que, atualmente, trabalha com alunos do Curso de Farmácia em projetos de iniciação científica relacionados a esse tema e que, há alguns anos, desenvolveu um projeto de extensão relevante através de uma parceria da UEPB com o Hospital da FAP, em Campina Grande, na qual mantinha um laboratório de controle de infecção hospitalar no interior do hospital e os alunos realizavam seus trabalhos de pesquisa e de conclusão de curso. Em contrapartida, o hospital recebia os exames microbiológicos dos pacientes e seu perfil de sensibilidade aos antibióticos.
A própria docente treinou funcionários e alunos para a viabilidade desse projeto que, conforme ela, foi um sucesso, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), onde ocorre grande parte das infecções hospitalares. “O projeto foi posteriormente descontinuado, porém, recentemente, o hospital nos solicitou a realização de um projeto, hoje em andamento, objetivando verificar a contaminação de superfícies hospitalares das suas UTIs e a resistência das bactérias lá isoladas aos antibióticos”, revela Patrícia.
Patrícia Freitas trabalha na UEPB há 23 anos, onde atua no Departamento de Farmácia e no Laboratório de Imunologia e Microbiologia Clínica. Possui doutorado pelo Programa em Biotecnologia – Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), na UFPB; mestrado em Ciências Biológicas (Microbiologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pesquisa desenvolvida também na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e graduação em Farmácia Bioquímica pela UFPB.
Texto: Juliana Rosas
Fotos: Arquivo pessoal
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