Centro Artístico Cultural recebe pesquisas sobre saúde dos idosos na contemporaneidade

10 de junho de 2024

Dois projetos de pesquisa voltados à saúde vêm mudando a dinâmica das aulas do Curso de Violão, realizadas no Centro Artístico Cultural (CAC) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande: “Atividades Artístico Culturais — Repercussões sob os aspectos biopsicossociais e qualidade de vida em pessoas idosas”, da fisioterapeuta Ana Caroline Mamede, e “Ecopsicologia — Influência da conexão com a natureza sobre a percepção da qualidade de vida de pessoas idosas”, do professor do Departamento de Biologia da UEPB, Sérgio de Faria Lopes.

Ambos são mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde (PPGPS) e orientandos da professora Carlúcia Ithamar Fernandes Franco. Ana Caroline pontuou que as pesquisas são efetuadas em parceria e paralelamente. “No caso do projeto que desenvolvo, estão sendo analisados a percepção da qualidade de vida dessas pessoas idosas, cognição, funcionalidade e estado emocional, assim como de que maneira as práticas do CAC modulam esses domínios. Conhecemos o Centro Artístico ainda na graduação, por meio de um projeto do qual eu fazia parte, tendo à frente também a professora Carlúcia, e vimos o enorme potencial que o local tem para a execução de pesquisas, sendo que nada nesse sentido havia sido feito lá ainda”, revelou.

Todos os instrumentos de pesquisa utilizados são validados para o Brasil e, especialmente o de funcionalidade, área de atuação da Fisioterapia, provém da Organização Mundial de Saúde (OMS). Tal ferramenta avalia as funções e de que modo esses déficits interferem na vida diária, podendo nortear as intervenções, como pontuou Caroline. “Referente à cognição, são analisadas as funções mentais superiores, especialmente memória e aprendizagem. E, no que trata do estado emocional, observamos os sintomas de ansiedade e depressão. Havendo necessidade, a pessoa pode ser encaminhada para um profissional/serviço para uma escuta capacitada”, acrescentou.

Ademais, segundo Caroline, o projeto avalia como as atividades que ocorrem no CAC colaboram na melhora dos sintomas depressivos/ansiosos. “Através desse rastreio, sabemos como anda a saúde deles, até para que no futuro possam ser realizadas políticas de intervenção, seja pela UEPB, seja pelo próprio Sistema de Saúde. É uma forma também de dar visibilidade ao CAC, além de fazer ciência”, assinalou.

Ela enfatizou que quatro alunos da iniciação científica compõem as iniciativas: Maria Gabriela Pereira da Silva (Psicologia); Maria Clara Takemoto (Psicologia); Thamires Vitória Figueiredo Nunes (Fisioterapia); e Sara Rainara Almeida Andrade (Fisioterapia). Vale mencionar que os dois projetos foram submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa da UEPB e apenas após o parecer favorável iniciou-se a coleta dos dados.

“Banho de Floresta”
O professor Sérgio destacou que já havia feito um mestrado em Ecologia — campo de ênfase de seus estudos — e optou pela segunda pós-graduação para trabalhar com a denominada “Ecopsicologia”, unindo assim estes dois mundos. “É uma área considerada recente, principalmente aqui no Brasil. Ela surge de outra esfera do conhecimento, chamada Psicologia Ambiental, mas apresenta uma ramificação um pouco mais específica, que contempla as relações que nós temos ao contato com a natureza, ou seja, a conexão com ela e seus benefícios”, explanou.

Sérgio contou que estudos no País e principalmente fora do Brasil, notadamente na China e nos Estados Unidos, atestaram que há um forte vínculo entre saúde e visitas a parques e áreas verdes, o também chamado “Banho de Floresta”, e como ele possibilita a diminuição de emoções negativas, restaurando a mente da fadiga de atenção, principalmente atrelada ao estresse em áreas urbanas, e melhorando quadros clínicos de depressão e ansiedade.

“Nossas pesquisas no CAC são focadas em quem tem mais de 60 anos e, sobre o trabalho desenvolvido, o objetivo é entender melhor se existe esse elo entre bem-estar, qualidade de vida e como isso se interliga à natureza, analisando a questão em pessoas que possuem uma conexão maior com ela, vieram da zona rural, por exemplo, ou dispõem de contato com a natureza por meio de animais de estimação, plantas, jardinagem, entre outros”, explicou.

O professor informou, ainda, que o Instituto Brasileiro de Ecopsicologia (IBE) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinaram um Acordo de Parceria para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação previsto para acontecer até 2026, para não apenas introduzir o “Banho de Floresta” no País, como torná-lo uma política pública oferecida dentro das Práticas Integrativas e Complementares (PICs) pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Recepção positiva
As pesquisas foram muito bem recebidas pelos estudantes do Curso de Violão do CAC, como explicou o professor Caio Czar. Atualmente, há duas turmas de ensino do instrumento e as preleções acontecem às terças e quintas-feiras, das 14 às 17h, reunindo em média 30 alunos cada uma.

“Esses projetos são bem oportunos, porque possibilitam o acompanhamento psicológico em uma faixa de idade em que há bastante predisposição à depressão, como variadas pesquisas já apontaram. Os alunos que têm mais de 60 anos gostaram demais dessa novidade, ficaram totalmente à vontade para responder as perguntas e falarem um pouco do seu cotidiano, das suas emoções”, disse.

Caroline Mamede explicou que tão logo sejam abertas as inscrições para novos cursos no CAC, eles serão igualmente incorporados às iniciativas. “Por enquanto, as pesquisas abrangem apenas idosos, mas no futuro a previsão é que ocorram outros tipos de pesquisa, para outros públicos”, afirmou.

Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Divulgação