Comissão realiza capacitação para formação de novos integrantes das bancas de heteroidentificação
Devido à ampliação das políticas de cotas raciais implantadas na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e visando garantir o acesso ao curso superior um maior número de pessoas negras, a Comissão de Heteroidentificação da Instituição, e o Grupo UEPB Inclusiva, promoveram na manhã desta quinta-feira (26) o curso de capacitação para banca de heteroidentificação. O treinamento, realizado no Gabinete da Reitoria, no Câmpus I, aconteceu nos formatos presencial e não presencial, e reuniu 10 servidores da Universidade.
O curso teve como facilitadoras a professora Ivonildes da Silva Fonseca, vice-reitora da UEPB, e as professoras Melânia Farias e Terlúcia Silva. Durante o curso, foram feitas reflexões e leituras de textos e após a leitura, houve uma aula dialogada para aprofundamento de textos, apresentação de vídeos, slides e a capacitação sobre os procedimentos de heteroidentificação.
Esta atividade, conforme observou a professora Ivonildes Fonseca, é decorrente da necessidade de continuar o processo resultante da ampliação da política de cotas na UEPB, nas quais são reservadas vagas para as pessoas negras, e estas devem ter, enquanto candidatas, a autodeclaração aferida para que o controle social, na forma de procedimento de heteroidentificação, garanta o acesso livre de fraudes. A vice-reitora enfatizou que o objetivo do curso é justamente possibilitar que os participantes venham compor as bancas que estão funcionando desde o início deste ano. Ela adiantou que esta mesma capacitação será realizada nos demais câmpus da UEPB, a depender da combinação da agenda da Direção dos Centros.
A professora Ivonildes considerou importante essa capacitação e enfatizou que a UEPB deu um passo muito grande com a reformulação da política de cotas já existentes. “Nós tínhamos na UEPB a política de cotas sociais e este ano de 2002, ela foi reformulada para cotas que acolham pessoas de grupos historicamente excluídos, a exemplo de pessoas negras, ciganas, indígenas, quilombolas, trans e pessoas com deficiências”, destacou. Ela ainda acrescentou que dentro desta política de cotas, existem as pessoas altodeclaradas negras. Para essas pessoas, é exigido um procedimento de aferição dessa autodeclaração, que é feita por uma Banca de Heteroidentificação, composta por servidores capacitados para o trabalho. “Nós estamos fazendo uma formação com as servidoras da UEPB para que elas possam estar aptas a participar dessas bancas, não apenas na UEPB, mas em outras instituições”, acrescentou.
Uma das facilitadoras do curso, a professora Melânia Farias, explicou que a iniciativa tem grande importância devido ao movimento vivido pela UEPB, com a ampliação das novas modalidades de cotas para ingresso ao ensino superior na Instituição. “Com a ampliação dessa política de cotas, é necessário que a gente capacite servidores da UEPB, sejam eles docentes ou técnicos administrativos que possam somar e contribuir na composição das bancas de heteroidentificação”, explicou.
Integrante da Comissão de Heteroidentificação e uma das facilitadoras da capacitação, a professora Terlúcia Silva, explicou que a heteroidentificação é um procedimento complementar à autodeclaração, que consiste na percepção social de outras pessoas sobre a autoidentificação étnico-racial. Ela explicou que o procedimento é simples e se baseia praticamente na observação dos aspectos fenótipos visíveis dos candidatos, como a cor da pele, a textura do cabelo e os traços da boca, nariz, entre outros, que formam um conjunto de elementos, que indica se a pessoa é negra e apta para acessar a política de cotas. “É importante destacar que a política de cotas é para as pessoas pretas e pardas”, observou.
Podem compor as bancas, pesquisadores, pessoas ativistas dos movimentos sociais e que atuam em defesa de uma política antiracista, não sendo necessariamente pessoas negras, mas de diversos gêneros e credos religiosos.
A professora Dalila Gomes, do curso de Letras em Espanhol em Monteiro, participou da capacitação e avaliou como enriquecedora a experiência. Como professora universitária, ela considerou importante o curso, que vai permitir que mais pessoas negras tenham acesso à universidade. “Participar dessa capacitação é uma identificação pessoal, por ter sofrido preconceitos durante toda a vida. Para mim essa iniciativa é fundamental porque eu vivi toda a minha graduação e os meus estudos com essa ideia de ser discriminada por ser negra. Aqui eu tive acesso à informações que não conhecia”, disse.
A capacitação, que também contou com o apoio do Observatório do Feminicídio da Paraíba Bríggida Rosely, teve ainda como objetivo aprofundar a compreensão sobre as relações raciais no Brasil, bem como, discutir sobre o acesso ao ensino superior e ampliar a reflexão sobre as políticas de ações afirmativas na modalidade de cotas raciais e compreender a necessidade das bancas de heteroidentificação e os procedimentos de aferição da autodeclaração racial. Na UEPB, as primeiras bancas começaram a funcionar este ano, sendo compostas basicamente por pessoas da sociedade que já tem experiência neste campo.
Texto: Severino Lopes
Fotos: Hipólito Lucena
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