Conscientização do Transtorno do Espectro Autista: UEPB expõe projetos e pesquisas com a temática
As palavras do professor Peter Mittler segundo o qual “a inclusão é uma estrada a ser viajada. O viajante precisa superar as barreiras e obstáculos, pois incluir é um processo e não o destino”, poderiam ser utilizadas na data em que é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Transtorno do Espectro Autista, para exemplificar o caminho desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) com o objetivo de proporcionar a inclusão de todas as pessoas no processo educacional.
Com a missão de realizar um atendimento sociopedagógico que possa garantir o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social de estudantes com deficiência, Transtorno Global do Desenvolvimento e Altas Habilidades o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) é um dos espaços de acolhimento e apoio para as práticas inclusivas desenvolvidas na UEPB.
No âmbito da pesquisa, um exemplo dessas iniciativas é o trabalho do Grupo de Pesquisa Saberes da Educação Geográfica (GPSEG/UEPB) que publicou, recentemente, o artigo “Formação do professor de geografia e inclusão: um olhar a partir das lentes do estágio supervisionado curricular na UEPB”, que trata da importância da inclusão diante da formação de professores e das ações dos Estágios Supervisionados considerando a percepção de pessoas múltiplas que compõem a sala de aula, dentre elas, as neurodiversas.
O GPSEG é liderado pela professora do Departamento de Geografia do Centro de Humanidades e do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores da UEPB, Juliana Nóbrega de Almeida, que também é mãe atípica e busca proporcionar informação e superar preconceitos por meio da educação.
“Como uma mãe atípica e pessoa que luta e pesquisa a inclusão, peço a todos que busquem o conhecimento correto, se libertando de atitudes que são carregadas de preconceitos, julgamentos e exclusão. Precisamos ver além das estereotipias e crises das pessoas com TEA. Temos muitos testemunhos de famílias atípicas que batalham para vencer a exclusão e preconceito com seus filhos. A cada conquista dos seus filhos, essas famílias vivenciam a alegria de ver que, em cada ato de persistência, coragem, fé e esperança, temos a oportunidade de aprendizagem, clarear as sombras dos achismos de quem possui discursos maldosos, com ideias como: está na moda ser autista”, declara a docente
O papel transformador do esporte na vida das pessoas no espectro autista
Também com a perspectiva inclusiva voltada a pessoas com TEA, o Programa Laboratório Pedagógico, Saúde, Esporte e Lazer (LPSEL), popularmente conhecido como Escolinha do Departamento de Educação Física (DEF) têm estimulado a prática da atividade física para o desenvolvimento social e inclusão desse público. Esse tipo de iniciativa, de acordo com o especialista em Educação Física Adaptada, Edson Silva, configura-se como uma importante ferramenta para promover a inclusão e o desenvolvimento e contribui para o aprimoramento das habilidades sociais, concentração e coordenação motora.
“Com um acompanhamento adequado, o exercício físico vai garantir o desenvolvimento motor da pessoa que pratica. No caso particular de pessoas com TEA, vai garantir que outros aspectos do desenvolvimento – mental e socioafetiva – sejam trabalhados em conjunto. Isso vai oportunizar a autonomia funcional da pessoa, para que não seja dependente da ajuda de outros na vida cotidiana”, afirma Edson.
Segundo uma pesquisa conduzida pela empresa editorial holandesa Elsevier, as principais características observadas em pessoas no espectro autista concentram-se em três áreas: dificuldades na interação social, habilidades de comunicação comprometidas e desafios na coordenação motora. A pesquisa aponta que a prática regular de exercícios físicos pode auxiliar essas pessoas no desenvolvimento das habilidades sociais, estimulando o trabalho em equipe e a lidar com diferentes situações sociais. Além de contribuir para o desenvolvimento do equilíbrio, força muscular e coordenação motora.
Iniciativas como a Escolinha do DEF, desempenham um papel fundamental nesse processo, fornecendo um ambiente inclusivo de suporte e oportunidades. Para o graduando em Educação Física pela UEPB, Italo Gabriel, que atendeu cerca de cinco crianças com TEA através do Programa, a chave para a inclusão em suas aulas reside numa combinação de estratégias. Elementos como comunicação visual, rotinas claras e previsíveis, reforço positivo e instruções claras foram fundamentais para manter uma participação consistente das crianças ao longo das atividades. “Ao decorrer do tempo se sentiram mais confortáveis e confiantes com os professores e colegas”, declara Italo.
A Escolinha do DEF, é uma iniciativa que proporciona aulas gratuitas para a comunidade de Campina Grande. Com uma variedade de atividades, como natação, futsal, ginástica, lutas, musculação e dança, o Programa visa promover a prática correta e orientada de atividades físicas, além de oferecer dinâmicas voltadas para a inclusão da pessoa com deficiência e pessoas com TEA.
Sobre o TEA
Estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo tem o objetivo de disseminar informações, visando diminuir a discriminação e o preconceito contra pessoas que vivem com o TEA, que é um Transtorno Global de Desenvolvimento neurológico, não uma doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o TEA afeta e compromete cada indivíduo de maneira diferente, pois nenhuma pessoa com o Transtorno é igual à outra. Em alguns casos, o TEA pode ocasionar limitações em quatro áreas: cognitivas, na fala, no desenvolvimento sensorial e social.
Importante para a implementação de políticas e serviços adequados para pessoas com TEA, os dados que retratam a realidade do Transtorno ainda são limitados, sobretudo no Brasil que possui poucos estudos sobre essa temática. Uma pesquisa do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão de saúde americano, revelou um aumento significativo nos casos de TEA nos Estados Unidos. Em 2000, a taxa era de um caso a cada 150 crianças observadas. Contudo, em 2020, esse número chegou a um caso para cada 36 crianças.
Desde 2023 a atenção à pessoa com TEA consta na Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência (PNSPD) do Governo Federal, implementada pelo Ministério da Saúde. A nova política pode contribuir para o diagnóstico precoce e o tratamento correto que, segundo especialistas, podem ser a chave para garantir uma melhor qualidade de vida para quem tem TEA.
Texto: Juliana Marques
Foto: Divulgação