“Cordel no Museu” tem edição em formato de “live” com homenagem ao centenário de José Alves Sobrinho
Na última quinta-feira (28), o projeto “Cordel no Museu” realizou uma edição em formato de live, homenageando o poeta José Alves Sobrinho. A iniciativa, que resulta de uma parceria entre a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através da Pró-Reitoria de Cultura (PROCULT) e do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), junto com a Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB), contou com uma maciça participação dos bardos. A transmissão se deu pela Coordenadoria de Comunicação (CODECOM) da Instituição, por meio do Canal Rede UEPB, no YouTube.
Presentes à live estavam o pró-reitor de Cultura da UEPB, José Cristóvão de Andrade, o presidente da ACVPB, Marconi Araújo, além dos curadores da área de Cordel do MAPP, professora Joseilda Diniz e Alfrânio de Brito, e o jornalista e pesquisador Xico Nóbrega. Dentre os poetas participantes, pode-se citar Jota Lima, Kydelmir Dantas, Raniery Abrantes, Fábio Mozart, Manoel Belizário, Orlando Otávio e Neto Ferreira.
A ocasião foi aberta pelo professor Andrade, que, em sua fala, pontuou a importância do “Cordel no Museu” para o intercâmbio entre os que compõem a cadeia produtiva do gênero. O pró-reitor de Cultura também elencou as outras homenagens da noite: a João Theotônio de Carvalho (conhecido como “Seu Théo”, decano da ACVPB, falecido recentemente) e Paulo Freire. Ainda nesse sentido, como houve a passagem do Dia do Servidor na mesma data da live, o poeta Jota Lima, que também é pró-reitor adjunto da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP), declamou um de seus escritos em homenagem à categoria.
A apresentação da live foi feita por Marconi Araújo. “Externo aqui minha alegria em nome da ACVPB, por essa parceria tão fecunda com a Universidade. O resultado dessa atividade se traduz em algo imprescindível que é o estreitamento de laços entre os poetas e o público. Isso vai refletir na divulgação, na comercialização, ajudando o gênero a florescer cada vez mais, preservando-o, além disso, em sua vivacidade e criatividade”, assinalou.
Marconi também ressaltou que, após um período difícil no que se relaciona à pandemia da Covid-19, o “Cordel no Museu” terá de volta seu caráter periódico. Ele informou que os próximos eventos ocorrerão no dia 25 de novembro, com uma homenagem a José Lins do Rego, e em 16 de dezembro, saudando os chamados “poetas da educação”, como Almira Araújo e Lourdes Ramalho.
A live obteve significativa audiência. Passaram por ela a vice-reitora da UEPB, Ivonildes Fonseca, o pró-reitor adjunto de Cultura e diretor do MAPP, José Pereira da Silva, a escritora Maria Valéria Rezende, o poeta Silas Silva da Paraíba, a poetisa Aparecida Pinto, a comunicóloga Juliana Marques, a servidora Marlúcia Almeida, e a poetisa Maria Ilza Almeida, entre outros.
Narrativas com José Alves Sobrinho
Natural de Pedra Lavrada (PB), José Clementino de Souto (1921-2011), que foi obrigado a adotar o nome artístico “José Alves Sobrinho” – porque seu pai tinha vergonha de ter um filho repentista – é considerado um mestre na arte da cantoria, desde cedo demostrando sua vocação para o verso e para a viola. É dele (e de Átila Almeida, em coautoria) um dos maiores marcos da publicação, quando se trata da pesquisa em cordel: a monumental obra “Dicionário Bio-bibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada” (1978).
Durante a live, várias foram as narrativas envolvendo José Alves, contadas por gente que conviveu com ele, a exemplo de Joseilda Diniz e Xico Nóbrega. “Ele me ensinou sobre as coisas da nossa terra e do nosso povo. Minha fala sobre José Alves será sempre de emoção, saudade e gratidão. Todas as homenagens são poucas para definir quão relevante foi o papel dele e de seu legado aos pesquisadores, poetas, cantadores e ativistas culturais. A vida de José Alves foi definidora para a constituição de nossos saberes em torno das poéticas orais”, detalhou Joseilda.
Já Xico Nóbrega acompanhou de perto a gênese do livro “Cantadores com quem eu cantei”. “Conheci José Alves por intermédio da minha atividade como jornalista e repórter de cultura em Campina. Cheguei a participar de um curso de iniciação em Literatura Popular, ministrado por ele. Posteriormente tivemos um contato mais direto, quando foi ventilada a possibilidade de uma reedição de seu famoso dicionário. Tempos depois, passei a frequentar sua casa e sua biblioteca e ele me disse que tinha um manuscrito de suas memórias, mas que não dispunha de habilidade com o computador”, afirmou.
Xico, então, deu um apoio a José Alves nessa parte de digitação. “Eu ia na casa dele algumas vezes por semana. Foi assim que tive o privilégio de testemunhar o relato de sua vida, desde a infância, a fuga de casa aos 15 anos, até o convívio com grandes cantadores e a crescente valorização, por parte da Academia, às obras dele. Era uma pessoa admirável e esse livro em particular mostra claramente como era a vida de um cantador de viola nos anos 30, 40, no Nordeste do Brasil, é muito interessante”, explanou.
Texto: Oziella Inocêncio