Editora da Universidade Estadual homenageia Pavão Misterioso em duas recentes publicações
Romance nordestino centenário e atemporal, o Pavão Misterioso foi homenageado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB) em duas recentes publicações: “O Pavão Misterioso Recontado em Quadrinhas”, e “Os Voos do Pavão Misterioso — 100 anos de Encanto”. Saídas pelo Selo Latus, as duas obras estão disponíveis para baixar gratuitamente no site da EDUEPB.
A primeira contou com uma versão feita para o público infantojuvenil, é escrita pelo poeta cearense Stelio Torquato, e a intenção é que ela chegue às escolas de todo o Estado e, para além de suas fronteiras, com o propósito de alcançar novos leitores, especialmente aqueles que pouco acesso têm às obras da seara da oralidade nordestina e brasileira. A segunda, uma antologia, reuniu integrantes da Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB) e teve como organizadores a curadora da sala de Cordel do Museu de Arte Popular Paraíba (MAPP), professora Joseilda Diniz, e o poeta Josenildo Maria de Lima (Jota Lima Cordelista), também pró-reitor adjunto de Gestão de Pessoas da UEPB. De ambas as publicações, o ilustrador é o artista Jô Oliveira.
A coletânea é composta pelo trabalho dos poetas Alexandre Eduardo Araújo, Anne Karolynne Santos de Negreiros, Antonio Marcos Monteiro, Aparecida Cardoso, Arnaldo Mendes Leite, Bento Júnior, Claudete Gomes, Cristine Nobre, Dalmo Oliveira, Dalva Mendonça, Eduardo Nask, Fábio Mozart, Gilberto Baraúna, Gorrión da Rabeca, Juliana Soares, Márcio Bizerril, Merlanio Maia, Orlando Otávio, Thiago Alves, Palloma Brito e Verônica Adelino.
Vale ressaltar que as obras resultam, igualmente, da articulação do conselho editorial “100 anos do Pavão Misterioso”, cujos membros são a professora Joseilda; Jota Lima Cordelista; o professor José Itamar Sales (UEPB); a professora Maria Elizabeth Baltar (Universidade Federal da Paraíba – UFPB/ACVPB), o jornalista e pesquisador Fernando Moura (Fundação Casa de José Américo – FCJA); a professora Paola Tôrres (Universidade Federal do Ceará – UFC/Universidade de Fortaleza – Unifor); a professora Ria Lemaire (Université de Poitiers/ França); e Stelio Torquato (UFC).
Clássico dos clássicos
“O Romance do Pavão Misterioso é um dos maiores clássicos da Literatura de Cordel, o qual continua a influenciar gerações de artistas e, sobretudo, leitores e ouvintes, amantes da poética oral, cantada ou declamada. Em 2023 ele completou 100 anos de existência e, pensando nisso, através dessas publicações, nos reunimos para celebrar este que é um verdadeiro marco para a nossa cultura”, pontuou a professora Joseilda. Para ela, a execução desse trabalho, por meio da inspiração evocada em nossos poetas da atualidade, vem louvar do melhor modo essa obra rica em beleza e imaginação. “Deixamos o nosso obrigada aqui também à EDUEPB, pela sensibilidade e prontidão com este empreendimento literário sobremodo importante para nossos leitores e escritores”, arrematou.
Sobre atuar como um dos organizadores da antologia, Josenildo descreveu como uma honra, além de uma responsabilidade muito grande, posto que foi necessário realizar uma apurada seleção de poemas. “Cada um deles apresenta uma aventura diferente a partir da história original. Esperamos que os leitores aceitem o convite para embarcar nesse livro incrível, em formato de e-book, e que permaneçam encantados com esse romance que segue tão vivo”, acrescentou.
Uma das cordelistas de “Os Voos do Pavão Misterioso”, Verônica Adelino destacou que se sentiu privilegiada por fazer parte do grupo de poetas escolhidos para a coletânea. “O projeto significou para mim conhecimento e crescimento, enquanto uma simples aprendiz da literatura de Cordel. Participar dele confere maior peso à criação artística, passa a ser de forma profissional. Agora sou uma profissional da literatura. Agradeço mais uma vez e me coloco sempre à disposição da Universidade”, disse.
Já Stelio Torquato ressaltou que escrever as quadrinhas exigiu um mergulho profundo no universo mágico do Pavão Misterioso, para que pudesse extrair ao máximo o encanto dessa obra-prima para repassá-lo ao público infantojuvenil, alvo preferencial do trabalho dele. “Fiquei bastante honrado pelo convite da EDUEPB para participar, com a publicação da minha adaptação. Certamente é um momento relevante para a produção cordelística que desenvolvo, iniciada, aliás, em 2008 e que já ultrapassa 400 obras”, assinalou.
Também acerca do “Pavão Misterioso Recontado em Quadrinhas”, Jô Oliveira explicou que tudo começou com uma conversa entre a professora Joseilda, Stelio Torquato e ele. “Sempre quis ilustrar uma versão em quadras, dirigida para as crianças. As ilustrações da presente edição são desenhos que venho fazendo ao longo dos anos. Essa publicação digital, na verdade, seria uma prévia, pois pretendemos lançar uma edição física para divulgar as aventuras do Pavão Misterioso nas escolas”, informou. Jô recordou, ainda, de um de seus mais importantes trabalhos tratando do tema: um selo postal lançado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em 1996, aludindo ao Pavão, na XI Exposição Filatélica Luso-Brasileira no Rio de Janeiro (RJ), que teve uma tiragem de mais de dois milhões de exemplares.
O Pavão tem dois pais, ou tragam o DNA do Pavão
Muitos mitos e indagações circundam o Pavão Misterioso, especialmente quanto a quem de fato criou a história. “Embora o Romance tenha sido publicado pela primeira vez pelo poeta e cantador João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933), tudo indica que a obra foi inicialmente uma criação do também poeta e cantador José Camelo de Melo Rezende (1885-1964)”, disse a professora Joseilda.
Ela apontou que, segundo vários depoimentos, José Camelo já apresentava a história em suas apresentações, como cantador de viola. “Ao ouvi-la na voz de outro cantador, João Melchíades teve a ideia de colocá-la no papel, vindo a publicá-la em 1923, de acordo com o depoimento do prefaciador de ‘O Pavão Misterioso Recontado em Quadrinhas’, Arievaldo Viana (in memoriam)”, endossou a pesquisadora.
“O Pavão ganhou, assim, dupla paternidade, cujos autores eram paraibanos e possuíam vasta atuação no campo da poesia e cultura populares. Nosso intento é louvar o quanto esses dois foram iluminados e criativos, compondo uma obra que atravessou um século, sem um vinco sequer em sua poética, exceto em suas polêmicas agruras de autoria”, concluiu.
Texto: Oziella Inocêncio
Ilustrações: Jô Oliveira (Divulgação)
Você precisa fazer login para comentar.