Estudantes do curso de Relações Internacionais debatem o direito à educação de meninas afegãs

7 de junho de 2024

“Quero abrir a boca, mas para cantar o quê? Cantar não muda nada se nestes tempos sou desprezada (…) Solitária, emoldurada pelo pesar e pela perda, nasci em vão e a minha boca está selada…”. Esse trecho é de um poema da afegã Nadia Anjuman, que fez parte de um grupo de mulheres que estudavam literatura clandestinamente e foi assassinada pelo marido aos 24 anos de idade. Essa realidade é o retrato de muitas meninas e mulheres do Afeganistão, que desde 2021 estão proibidas de frequentar escolas e universidades.

Essa conjuntura foi discutida na mesa “O direito à educação de meninas e a agenda 2030: (in)aplicação no Afeganistão pós-2021 como mecanismo de legitimação do regime Talibã”, realizada nesta quarta-feira (4), na sala Marielle Franco, no Câmpus V. O evento contou com a participação da mestre em Direito Internacional, Anna Carla Lopes; do pesquisador afegão visitante no Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais, Juma Rauli; e da professora de Literatura que é afegã, Bigom Karimi. Além destes convidados, que participaram do evento de forma presencial, também foi transmitida uma mensagem em vídeo da ativista política e candidata às eleições para o parlamento afegão, Armaghan Chamkanai.

De acordo com a professora Adriana Torres, o evento foi idealizado como uma atividade do componente curricular “Direito Internacional Público em Relações Internacionais”, mas, diante do interesse de outros estudantes pela temática, a ação passou a receber interessados na temática.

“Esse evento surgiu da necessidade de articulação entre o que é estudado em sala de aula e a vivência cotidiana. Então trouxemos a professora Anna Carla, que é estudiosa da agenda 2030 proposta pela ONU e ratificada por muitos países no que diz respeito à educação, com foco na educação de meninas no Afeganistão, a questão da aplicabilidade ou inaplicabilidade no regime Talibã. E aí, nesse contexto político e educacional, se pensou na figura da candidata a deputada afegã, Armaghan Chamkanai, que gravou um depoimento acerca das vivências dela que vive exilada; e do professor Juma e sua esposa, ambos afegãos, que apresentaram um recorte de vivências”, explicou professora Adriana.

Governado pelo grupo fundamentalista islâmico Talibã desde 2021, o Afeganistão é um país marcado por iniciativas que cerceam o direito, sobretudo, de mulheres que vivem numa conjuntura de opressão e violência. Uma dessas iniciativas que atingem as mulheres do país é a proibição de frequentar escolas e universidades. Segundo dados da UNESCO, em 2021, antes do Talibã estabelecer o controle no país, o número de mulheres a frequentar o ensino superior era superior a 100 mil. Além disso, dos 29 milhões de habitantes do Afeganistão, mais da metade vive diariamente as consequências de conflitos militares; 36% da população foi realocada internamente, fugindo ou sendo forçada a deixar sua casa e região de origem, diante de uma crise social e humanitária que se estabeleceu.

Texto: Juliana Marques
Fotos: Divulgação