“,Eu!”, de Maiakóvski: Museu de Arte Popular recebe lançamento de livro traduzido por Astier Basílio

4 de julho de 2024

Neste sábado (6), às 16h, em Campina Grande, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), que tem como mantenedora a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), recebe o lançamento do livro “,Eu! + poemas anteriores”, de Vladimir Maiakóvski. A obra, até então inédita para o público brasileiro, foi traduzida por Astier Basílio. O evento contará com um bate-papo com o tradutor sobre o escritor russo. A entrada é franca.

A publicação sai pela editora Arribaçã, de Cajazeiras (PB), e dispõe de 140 páginas. “,Eu!” é o livro de estreia de Maiakóvski e data de 1913, quando ele tinha 20 anos. “A coincidência é que o lançamento ocorreu alguns meses depois do ‘Eu’, do paraibano Augusto dos Anjos. O livro de Maiakóvski é composto de um longo poema em quatro partes. Além dele, toda a produção do autor, publicada em revistas, também foi traduzida”, explanou Astier.

O prefácio, bem como os demais textos presentes na edição, são todos de Astier e procuram contextualizar o leitor na época em que Maiakóvski surgiu no cenário literário russo, conforme ele explicou. Assim, figuram no livro, igualmente, trechos de “A Nuvem de Calças”, de Maiakóvski, e escritos de outros autores com os quais ele manteve uma relação intertextual, a exemplo de Aleksandr Blok, Igor Sievieriânin, Innokenti Ânienski e Anna Akhamátova.

“Maiakóvski é um fenômeno na cultura brasileira. Nem na Rússia é tão amado como aqui. Ele foi citado no discurso de despedida da presidente Dilma Rousseff. Só isso diz da relevância dele. Traduzi-lo, em seus poemas iniciais, foi uma forma de oferecer ao público a oportunidade de contemplar o processo do jovem Maiakóvski em busca de sua voz”, apontou Astier.

Ele acrescentou que praticamente em todos os movimentos de vanguarda no Brasil, o poeta russo é citado: no Modernismo de 22, na Poesia Concreta e na Tropicália. “Ele está presente no teatro, nas artes plásticas, na música e no nosso cinema, além da literatura, é claro. Maiakóvski é mais amado no Brasil, que o considera o maior poeta russo do século XX, do que na Rússia. Lá, ele é querido sobretudo pelos mais jovens”, detalhou.

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“O senhor da metrificação”
A obra possibilita ao leitor compreender a evolução do autor, ao optar por trazer todos os 14 primeiros poemas de Maiakóvski. “Inicialmente, ele compunha poemas seguindo os princípios da versificação e aos poucos introduziu novos elementos e abriu rupturas”, pontuou Astier.

Ele destacou que o sistema poético russo é diferente do nosso, em língua portuguesa. “Aqui, contamos as sílabas, lá eles contam os pés, ou seja, a combinação entre sílabas átonas e tônicas. As investigações que ele fez neste aspecto, portanto, não são possíveis de serem transpostas. A característica que chega para nós, da radicalidade dele, se dá com a quebra das linhas dos versos. Maiakóvski é um poeta de intenso poder sonoro e rítmico. Senhor do ofício da metrificação, que procurava subverter a partir de suas linhas. Além de propor uma série de rimas novas a partir de encontros de palavras, por exemplo”, ressaltou.

No prefácio de “,Eu! + poemas anteriores”, Astier narra sua experiência como mestre em literatura russa pelo Instituto Púchkin e como doutorando pelo Instituto de Literatura Maksim Górki – ambos situados em Moscou, na Rússia – expondo, igualmente, as conversas que teve com poetas contemporâneos relacionadas ao legado de Maiakóvski e sua importância naquele país, nos dias de hoje. “Constam também, nessa parte do livro, observações acerca do Modernismo Russo, período chamado de Era de Prata, que engloba correntes literárias diversas e não apenas a vanguarda futurista, em que Maiakóvski se insere. Um fato pouco conhecido, apontado na publicação, é a influência de Walt Whitman na fase pré-revolucionária de Maiakóvski”, revelou.

Foram traduzidos, ainda, trechos de críticas e depoimentos sobre Maiakóvski, de nomes como Maksim Górki, Lili Brik, Malevich e David Burliuk, na perspectiva de ampliar a aproximação do leitor, em relação ao universo criativo do gênio russo.

Ano que vem, Astier informou que deve lançar um livro do poeta russo Boris Rýji [1974-2001], com tradução sua. Graças a “Sudno”, da banda Molchat Doma, que viralizou no Tik Tok, Boris ficou ainda mais conhecido, inclusive entre jovens do Brasil. A música é feita em cima do poema dele.

Mais sobre Astier Basílio
O campinense Astier Basílio mora na Rússia desde 2017. Mantém uma coluna semanal no jornal A União, na qual escreve a respeito da poesia russa. Ao todo já traduziu mais de 60 poetas. Editou, em forma de cordel, suas traduções de Óssip Mandelstam (“Sal no machado”), de Maiakóvski (“A palavra de vocês é o camarada Mauser”), além de “Escrevendo no escuro”, uma micro antologia do underground soviético.

Teve traduções publicadas nas revistas Continente, Piauí, Rascunho, Correio das Artes e no suplemento Estado da Arte, do jornal Estado de São Paulo. Publicou 11 livros de poesia, entre os quais Funerais da Fala (Prêmio Novos Autores Paraibanos) e Finais em extinção (Prêmio Nacional Correio das Artes). Vencedor do prêmio nacional de dramaturgia da Funarte, em 2014, com a peça Maquinista, também foi finalista do prêmio Sesc de Literatura, na categoria romance, com “Supermercado Brasil Novo”.

Texto: Oziella Inocêncio
Foto: Divulgação (Arquivo Pessoal)