Experimentação Teatral: Centro Artístico e MAPP recebem espetáculo “SomOs” e “O Censor Federal”
Estreou no sábado (18), no Centro Artístico Cultural (CAC) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o espetáculo “SomOs”. Já no domingo (26), às 18h, no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) acontecerá a estreia de “O Censor Federal”. Ambos são realizados pelo Núcleo de Formação, Pesquisa e Experimentação Teatral da UEPB e foram contemplados pela Política Nacional Aldir Blanc – Edital Biliu de Campina 2024.
“SomOs” aborda principalmente memórias e emoções, segundo o ator, diretor e professor Chico Oliveira, que coordena o Núcleo. “O espetáculo nasceu de um processo criativo iniciado há dois anos, motivado por uma decepção com um projeto anterior, que não deu certo. A partir desse triste fato, resolvemos fazer uma reflexão sobre a vida artística e as várias facetas dela. Então trazemos à cena questões como a parte positiva, a negativa, aquela que exige persistência. Basicamente fala do ato de ser e estar artista em Campina, enfrentando falta de apoio, preconceito, violência e homofobia, mas também reafirmando o amor pelo teatro. Tivemos dois amigos dessa área que foram assassinados na cidade e resolvemos inserir temas a respeito disso”, destacou. A estreia teve acesso restrito a convidados, mas o espetáculo voltará em novas apresentações, abertas ao público.
Já “O Censor Federal”, diferente do tom intimista de “SomOs”, foi uma montagem pensada para espaços alternativos e para a rua, embora possa ser igualmente apresentada em um palco convencional, conforme Chico. Nela, há 10 atores em cena, entre convidados e ex-alunos do Curso de Formação Básica do CAC, formados entre 2016 e 2020. “A peça, uma comédia escrita por Lourdes Ramalho, em 1983, é repleta do humor peculiar à escritora, cheio de ironias e senso crítico, tendo como foco a censura artística durante a Ditadura Militar. A trama se desenrola a partir de um grupo de teatro, em pânico diante da chegada de um censor, que era a figura responsável por decidir o que poderia ou não ser encenado. Na época da Ditadura, isso era de praxe. O desespero dos artistas se transforma em risadas, enquanto o público é convidado a pensar sobre a liberdade de expressão, assunto que segue atual em nosso País, diante das ameaças à democracia e da intolerância política. A atmosfera que pensamos para a peça é histriônica, exagerada, de modo a acentuar a comicidade”, explicou.
“SomOs” tem dramaturgismo de Anderson de Sá, Beto Rocha e Chico Oliveira. A encenação e direção geral é feita por Chico Oliveira, tendo como apoiador Pereira Beekman – o ator, professor da UEPB e diretor do MAPP, José Pereira da Silva. No elenco estão Anderson de Sá, Beto Rocha, Caio Vinícius, Chico Oliveira e Gabriel Tavares. A preparação corporal é de Regina Albuquerque. Marketing, adereços, maquiagem e design de som são assinados por Ellen Maria, Erinaldo Sousa, Flávia Monteiro e Caio Vinicius, respectivamente. A produção é de Chico Oliveira, Flávia Monteiro e Gabriel Tavares.
“O Censor Federal” dispõe da direção geral e encenação de Chico Oliveira. Integram o elenco, Anderson de Sá, Beto Rocha, Ellen Maria, Elio Penteado, Emilia France, Flávia Monteiro, Gabriel Tavares, Goreth Leitão, Marcos Motta e Thamys Lowrhah. A produção é de Chico Oliveira, Gabriel Tavares, Flávia Monteiro e Pereira Beekman. Respondem pela direção musical, música da trupe, e trabalho de mobilidade corpórea, Erivan Araújo, Jr. Terra e Regina Albuquerque, respectivamente. A execução da cenografia é de Haroldo Vidal e Cícero Alves, e assinam os figurinos Emilia France, Marcos Motta e Vera Lúcia. A maquiagem é realizada por Flávia Monteiro e Goreth Leitão. A peça conta, ainda, com o apoio da Cachaça Caranguejo.
O Núcleo em 2026
Já planejando 2026, um dos propósitos do Núcleo é estar especialmente em festivais universitários, representando a UEPB, por meio dos atores formados no CAC e pesquisadores do Núcleo, levando tanto o “SomOs” como “O Censor Federal”, além de outros espetáculos, de acordo com Chico. “Sempre ressalto que Campina carece de políticas públicas permanentes de cultura e que dentro desse universo que ainda é, boa parte das vezes, de escassez, a UEPB é um importante amparo institucional, pois oferece condições para que artistas possam criar e mostrar seus trabalhos. Temos aqui, através da Pró-reitoria de Cultura e do CAC, um espaço que é fundamental para o fortalecimento do teatro no município, até porque há um déficit na cidade em relação à formação de atores e atrizes”, disse.
Para Chico, o trabalho do Núcleo é principalmente voltado à formação artístico-humana. “Tem por base desenvolver o ofício do teatro na vida, mas é direcionado também ao crescimento da pessoa, à evolução dela, aproveitando a arte como veículo, como ponte para uma maior maturidade, inclusive para uma convivência cotidiana mais harmoniosa, buscando e suscitando questionamentos frente a um mundo possível, melhor do que este em voga. Acreditamos nisso e é o que desejamos, por meio da nossa arte estimular a consciência sobre o estado atual da humanidade. A gente aprende, com o teatro, como ser e estar nesse mundo, provocando reflexões para que ele melhore para nós e para as futuras gerações”, disse.
Texto: Oziella Inocêncio
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