Exposição “Retratos de vidas e sonhos de mulheres” é aberta no Museu de Arte Popular da Paraíba

O Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, recebeu na noite da quarta-feira (12), a abertura da exposição “Retratos de vidas e sonhos de mulheres – O sentido da vida e convite a sonhar”, de Hélène Albaladejo. O evento contou com a comunidade acadêmica da Instituição, além de um público variado, que foi conferir os trabalhos da artista francesa.
A atividade é oriunda do Observatório de Prevenção e Enfrentamento às Violências contra as Mulheres Bríggida Lourenço (OBL) e da Faculdade de Linguística, Letras e Artes (FALLA). A Pró-reitoria de Cultura (PROCULT) e o MAPP são parceiros da iniciativa.
Na composição da mesa, estavam a vice-reitora da UEPB, professora Ivonildes Fonseca; Hélène Albaladejo; o diretor do MAPP, professor José Pereira da Silva; a diretora da FALLA, Gilda Carneiro; e o professor Eli Brandão, que foi o curador da exposição, dispondo da direção artística de Angelo Rafael. O vernissage teve, ainda, a participação da Paraíba Dixieland e da Caravana Cia de Dança. Já a apresentação coube ao servidor da PROCULT, Alberto Alves.
O evento foi aberto pelo diretor do Museu e, em sua fala, o professor Pereira ressaltou a importância da exposição de Hélène Albaladejo, especialmente no mês de março, quando se reforça a luta pelos direitos das mulheres. “Temos aqui uma oportunidade valiosa de reflexão, para um tema que não se esgota. Além disso, é uma maneira do MAPP prestar homenagem a elas. Agradeço a colaboração e empenho de todos que tornaram essa exposição possível”, afirmou.
A vice-reitora apontou a relevância da efeméride para a defesa da igualdade de gênero. “Nessa noite, estamos fazendo alusão ao 8 de março, uma data relevante para o mundo, resultado da mobilização de mulheres, em prol de seus direitos, direitos estes que nos foram tirados. Nosso maior objetivo é que possamos viver em paz, seja no trabalho, na família, nos relacionamentos como um todo”, disse.
A professora Ivonildes também lembrou da professora Bríggida, que dá nome ao Observatório do Feminicídio. “Celebramos aqui a memória de Bríggida, que teve sua vida tirada, seus momentos de alegria roubados, aos 28 anos, simplesmente porque não queria mais continuar o relacionamento com o seu companheiro. Ressaltamos, igualmente, o propósito do Observatório, que é baseado na união da sociedade, sobretudo das mulheres, na prevenção e no enfrentamento deste gravíssimo problema social, para que não haja mais vítimas. A nossa meta é viver em paz, não sei conseguirei isso para mim, mas quem sabe conquistaremos esse feito para nossas filhas ou netas. O mundo como se apresenta hoje está pela metade, pois só há homens no comando, o ser humano precisa ser representado por inteiro. Não queremos um mundo em que as mulheres estejam acima dos homens, mas que eles não sejam os únicos mandatários, os únicos que pensam soluções para a sociedade”, finalizou.
O professor Eli Brandão detalhou como a ideia de trazer a exposição de Hélène surgiu, quando ele realizou estágio de pesquisa na Espanha, onde vive a artista. Eli acrescentou que uma constante nas obras expostas são menções à paz e à liberdade. “Sem dúvida, essas palavras fazem muito sentido para o contexto não só de outrora, mas do que vivemos atualmente. Elas assinalam uma necessidade urgente para as mulheres”, enfatizou.
Presentes ao vernissage, entre outros, estavam o pró-reitor de Cultura, professor José Cristóvão de Andrade; o coordenador de comunicação da UEPB, Hipólito Lucena; a artista Rebeca Souza; a servidora do MAPP, Guia Matos; o fotógrafo Aladim Monteiro; a curadora da sala de Cordel do MAPP, professora Joseilda Diniz; e o diretor do Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG), Wanderley de Brito. E, ainda, a pró-reitora adjunta da Pró-Reitoria Estudantil (Proest), Shirleyde Alves; Priscila Rocha e a professora Terlúcia Silva, do OBL; a ouvidora Laércia Medeiros; a professora Roberta Rosa, coordenadora do “Projeto Leituras Antirracistas para Crianças Quilombolas”; e a assistente social Juliana Grangeiro, uma das coordenadoras do “Projeto Cidadania é Liberdade”.
Um rosto como testemunho
A professora Gilda Carneiro fez a tradução da fala de Hélène. A artista disse que tudo começou quando ela passou a estudar a Idade Média espanhola, especialmente o filósofo Averróis. “Em minhas pesquisas, por exemplo, ficou claro de um modo chocante, que o papel da mulher era ser serviçal do homem, com fins adicionais de procriação, e o que me impressionou foi que isso não tinha absolutamente nada a ver com o que dizia o Alcorão”, explicou.
Para Hélène, cada rosto da exposição é um testemunho de coragem e generosidade. “É uma ponte feita entre a mulher da Idade Média e aquela dos dias atuais”, endossou. A artista contou que foi enfermeira em Marselha e conheceu pessoas oriundas de diversas partes do mundo — assim teve a oportunidade de pedir às mulheres para fotografá-las. Hélène finalizou sua participação na abertura com um agradecimento ao MAPP e à UEPB, por haver sido recebida “com muito amor, como uma rainha”.
A mostra reúne 32 fotos analógicas, tamanho 50/50cm, e se divide em duas seções. “O Convite para Sonhar”, por exemplo, traz seis fotos de uma mulher muçulmana chamada Sybel. Helene acompanha a trajetória dela desde que chegou à França, com o objetivo de construir uma nova vida. “Que expectativas pode desenvolver uma mulher, sob o controle do marido, patrão, irmão ou mãe? Para se libertar, Sybel teve que imaginar-se em outro mundo, com a liberdade de dizer sim ou não”, destacou.
Já em “O Sentido da Vida”, obra iniciada em Marselha em 2012 e que continua sendo realizada até hoje, Helene explanou que houve dificuldades com as mulheres mulçumanas na hora de tirar o véu da cabeça, tendo em vista o peso da tradição. “Nesta seção de fotos de mulheres, pertencentes às culturas religiosas dos três grandes monoteísmos, intenta-se estimular a reflexão acerca do sentido da existência das migrantes em Marselha e na Espanha, cuja maioria foi vítima da violência machista. Todos os trabalhos falam de liberdade, de respeito, de solidariedade, do direito de pensar por si mesmo, o direito de escolher a sua própria vida”, concluiu.
Mais sobre Hélène Albaladejo
Hélène Albaladejo é mestre em Ciências da Educação Aix, em Provence (2000), na França. Também estudou Desenho e Pintura na Escola Superior de Belas Artes, no mesmo local. Tem formação (2005) na Escola de Foto EFET, e em Arte Terapia, na Escola de Artes de Bordeaux (1998), na França. É enfermeira pela Escola Emilienne Robiney, igualmente em Bordeaux, desde 1980.
Entre suas exposições estão “Jogo”, de 2023, na Galeria Afogra Granada; “Santa Vitória”, no Museu da Fotografia Nijni Novgorod, na Rússia, em 2012; “Entre Dois”, na Galeria Fontaine Obscura Aix, em 2013; e “O Amor e a Vida das Mulheres”, na Galeria Fotoforum Innsbruck Áustria, no mesmo ano.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Paizinha Lemos
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