Grupo de pesquisa estuda a paz como instrumento de transformação social e superação de conflitos
Já dizia Paulo Freire, “não se pode falar em educação sem amor”. Mas, como falar de amor em tempos tão adversos? A convivência com uma pandemia, que tem provocado mortes, repercussões sanitárias, econômicas e psicológicas sem precedentes, as relações estabelecidas entre as pessoas que passaram a ser permeadas pela violência, o antagonismo e o obscurantismo, elementos potencializados pelo poder das mídias sociais, são muitas as dificuldades para quem busca estabelecer vivências com base nos afetos.
Nessa direção, pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) destacam-se, nacional e internacionalmente ao desenvolver estudos nos quais as práticas de paz, sobretudo no ambiente educacional, são apontadas como alternativas para fomentar a reflexividade crítica, a emancipação das pessoas e a solidariedade para o enfrentamento de conflitos.
Criado em 2013, e com ações efetivas desde então, o Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial (GEPASM/UEPB) é coordenado pelo professor do curso de Relações Internacionais, Paulo Kuhlmann, e pelo professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Marcos Alan Ferreira, e reúne pesquisadores de diversas universidades que atuam vinculados a uma das linhas de pesquisa: arte, lúdico, cultura popular e paz, cultura de paz, emancipação e empoderamento coletivo, estudos de paz e conflitos e transformação, resolução e mediação de conflitos.
O grupo de pesquisa busca privilegiar os estudos de paz, com ênfase na construção da paz positiva e identificar interações entre o global, o regional e o local na construção da paz, considerando, inclusive, a violência urbana. Também é objetivo do GEPASM analisar teoricamente os estudos de paz e de resolução de conflitos, buscando dar ênfase nas áreas de construção de paz estratégica, segurança humana, reforma do setor de segurança, utilização de artes na construção de paz e identificar formas práticas de atuação, desde a localidade, até ao âmbito nacional, regional e global, com intuito de criar expertos em mediação, resolução de conflitos e construção de paz.
“O GEPASM surgiu da nossa preocupação com as comunidades periféricas e com a marginalização. Ao observar as escolas públicas do entorno, a gente começou a ver teorias, por exemplo, de estudos críticos de segurança, que embasassem intervenções. Então, o que a gente mais executa são estudos de caso ou pesquisa ação. Dessa forma, atuamos no sentido de pensar a segurança para além do sistema internacional, que pensa o relacionamento entre Estados. Buscamos estudar a transformação social a partir das relações estabelecidas entre as pessoas, no âmbito local, comunitário e individual”, explica o professor Paulo Kuhlmann.
Integrante da Rede de Pesquisa em Paz, Conflitos e Estudos Críticos de Segurança (PECS), da United Nations Academic Impact, iniciativa da Organização das Nações Unidas, do Consejo Latinoamericano de Investigación para la Paz (CLAIP), do International Peace Research Association (IPRA), da entidade Palhaços sem fronteira Brasil, dentre outras organizações no Brasil e no exterior, o GEPASM, por meio dos pesquisadores vinculados ao Grupo, tem empreendido diversas iniciativas, como o lançamento de livros, publicações de artigos, defesas de dissertações e teses, promoção de cursos e campanhas, todos com foco dos estudos de paz e segurança mundial.
GEPASM e Projeto Universidade em Ação: ações vinculadas
O GEPASM articula debates teóricos e ações práticas, sobretudo por meio do “Projeto Universidade em Ação (PUA): fortalecendo identidades, emancipando pela arte e construindo cultura e paz”, consecutivamente aprovado nos editais do Programa de Bolsas da Pró-Reitoria de Extensão desde 2011 e ativo até o presente o momento. O projeto de extensão reúne graduandos e mestrandos de Relações Internacionais, Ciências Biológicas e Arquivologia da UEPB, bem como alunos do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio José Lins do Rego. Articula-se ainda com a Rede Crer Ser, de escolas dos bairros Cristo e Rangel, como também com o Projeto de Extensão da UFPB MEDIAC, que trabalha com diversos tipos de mediação e de processo de resolução de conflitos. Além dessas articulações, tem feito esforços para trabalhar junto com a Rede Focolares, fundada por Chiara Lubich, movimento que tem fins pacíficos e integrativos.
O PUA já realizou diversas ações lúdicas em asilo, creche, escolas e praças nos bairros do Cristo e do Rangel, principalmente utilizando a linguagem clown, mas tem buscado expandir as formas de expressão artísticas cada vez mais. O objetivo é integrar uma rede de colaboradores, externos a comunidade, e internos a ela, sempre expandindo os vínculos e a dimensão do trabalho em prol da cultura de paz e promoção de valores democráticos em torno do conceito de justiça.
“A gente não consegue separar a extensão da pesquisa, é o que Marx chama de práxis. Pesquisamos formas de atuação, nos aprofundamos nelas e aplicamos, seja por meio dos grupos de teatro, de palhaçaria, mas, sempre utilizando a arte, a estética a partir de uma visão emancipadora. A nossa interferência ela chega de forma pragmática, e é esse o nosso objetivo e não simplesmente falar de uma paz de gratiluz, uma coisa que você não acessa”, explica o professor Paulo Kuhlmann.
Tanto o GEPASM como o PUA dedicam-se, por meio da teoria e prática, aos Estudos de Paz (paz positiva e negativa, emancipação, prevenção de conflitos, resolução e transformação de conflitos), bem como a conhecer, aperfeiçoar e praticar as ferramentas preventivas de construção de paz (círculo de diálogo, emancipação por meio da arte e da cultura, dentre outras) e as ferramentas de resolução e transformação de conflitos (mediação, justiça restaurativa), por meio de projetos, simulações e ações na comunidade.
Ambas as iniciativas possibilitam a integração entre os três pilares da universidade pública: a promoção de ensino de qualidade, combinada com pesquisas acadêmicas de impacto social e, a partir destes, a construção do terceiro pilar: a extensão que aproxima Universidade e sociedade possibilitando a atuação práticas de uma ciência libertadora.
Texto: Juliana Marques
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