Inovatec solicita nova patente por processo de obtenção de extrato resultado de pesquisa do PPGCF
A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), por meio da Coordenadoria de Inovação Tecnológica (Inovatec) solicitou nova patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O pedido foi protocolado sob o número BR 10 2023 014999 5 e a inovação está em um novo Processo de Obtenção de Extrato, Uso e Material Orgânico-Inorgânico Incorporado.
Os inventores responsáveis pela patente são: João Augusto Oshiro Junior, professor do Departamento de Farmácia e Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF); Camila Beatriz Barros Araújo, então mestranda e hoje egressa do PPGCF e José de Oliveira Alves Júnior, estudante do 6º período do curso de Farmácia e participante do Programa de Iniciação Científica.
A promissora inovação resulta em um extrato com alta concentração de ativos secundários, reconhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias. O material obtido será aplicado como Insumo Farmacêutico Ativo Vegetal (IFAV) e possibilitará a elaboração de diferentes formas farmacêuticas com variações na liberação e vias de administração.
O diferencial do processo é a obtenção de ativos específicos que revelam um potencial anti-inflamatório notável. A rota extrativa otimizada, além de econômica e prática, apresenta resultados promissores, permitindo a utilização de concentrações baixas de ativo nas formas farmacêuticas desenvolvidas. Isso abre novas perspectivas para formulações transdérmicas e outras aplicações terapêuticas. É importante destacar que a inovação tem o potencial de impulsionar o desenvolvimento econômico de regiões tropicais, uma vez que se baseia em recursos comuns dessas áreas.
Transcurso da pesquisa
O professor João Oshiro explicou que a pesquisa que resultou na inovação começou há cerca de cinco anos. Seu grupo de pesquisa estava desenvolvendo um sistema transdérmico e perceberam que uma das plantas menos exploradas no Programa era a Annona muricata, que, popularmente, são as folhas da graviola. Além de serem típicas da região, também há relatos de suas propriedades anti-inflamatórias na literatura. “Quisemos usar a planta, típica da região e que não era tão explorada, para desenvolver um medicamento para atividades anti-inflamatórias utilizando um sistema transdérmico, para colocar na pele do paciente e liberar essas substâncias”, resumiu o professor João.
O pesquisador explicou que a inovação da pesquisa consiste de duas tecnologias. Primeiramente, ele explicou que o uso de IFAV à base de Annona muricata para tratamento de inflamação não existe de forma otimizada com altas concentrações do principal metabólito que exerce esta atividade farmacológica. “A gente já sabia da propriedade anti-inflamatória, já está relatado na literatura, não é novo. Mas não existe nenhum medicamento pronto. Geralmente, as pessoas preparam chás com a folha da graviola”, disse.
Uma parte da pesquisa consistiu em reconhecer, entre os 212 fitoconstituites identificados na planta, quais possuíam atividade anti-inflamatória e constataram que os flavonoides são os principais. A inovação da primeira etapa esteve em otimizar a extração dos flavonoides. Por meio dos testes em laboratório, conseguiu-se obter a concentração de 10 vezes mais flavonoides no extrato seco. Consequentemente, logra-se diminuir a resposta inflamatória com seu uso.
“Quando testamos em animais vivos em laboratório, comprovamos isso. Comparado a um medicamento comercial, a resposta do nosso produto em diminuir a inflamação é muito melhor e mais prolongada em seu efeito”, explicou João Oshiro. “Foi observado, na prática, os resultados, onde os animais tratados com o sistema híbrido apresentaram 100% da inflamação cessada. Já no grupo controle tratado com uma pomada comercial, não foi observado este efeito, além do tempo de início da atividade ter sido maior e não sustentado”, acrescentou Camila Araújo, participante da pesquisa e hoje mestre pelo PPGCF.
A segunda inovação esteve em associar uma forma farmacêutica, o transdérmico, mas que usa um material hibrido, que consegue incorporar mais IFAV e liberar o ativo de forma controlada e não de uma vez. Com isso, a troca do filme transdérmico ocorre somente após um tempo maior de uso. “Isso é muito benéfico, especialmente para pessoas com inflamações crônicas, como artrite, por exemplo”, exemplificou o professor João. Ele deu o exemplo do contraceptivo adesivo, já comercialmente usado, que libera substâncias de forma regular na corrente sanguínea por semanas.
O próximo passo da pesquisa será o teste em humanos e estudar seus efeitos em pessoas com artrite e artrose, enfermidades comuns e que atingem parte considerada da população. O pesquisador relata que, atualmente, os medicamentos utilizados nestes tratamentos tendem a causar vários efeitos colaterais.
Pesquisa institucional
O professor João Oshiro enfatizou a pesquisa conjunta que resultou no atual pedido de patente. “Essa foi uma pesquisa que chegou até o estágio em animais. Tivemos que desenvolver o filme, testar em células e em animais. E isso não dá para fazer sozinho. Tivemos que utilizar a instalação de vários laboratórios do PPGCF. Agradeço ao Biotério e extensivamente à UEPB enquanto instituição. Sem isso, não teríamos desenvolvido e chegado aos resultados que chegamos. Avançamos nossas pesquisas em animais no ano passado graças à inauguração do biotério. Neste projeto, não tivemos nenhum fomento externo, diferentemente do outro, que tivemos apoio da Fapesq e CNPq. Este foi feito com recursos inteiramente da Universidade”, relatou o pesquisador.
O professor se referiu a outro recente depósito de patente, que pode ser conferido aqui.
Texto: Juliana Rosas
Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal
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