Isolamento social para crianças e adolescentes durante a pandemia é objeto de pesquisa na UEPB
Iniciado em 2020 por estudantes do mestrado em Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), sob a coordenação da professora Terçalia Vaz de Lira, o projeto de pesquisa intitulado “A proteção social à infância em tempos de pandemia: o isolamento social e suas implicações”, traz à tona reflexões sobre o período pandêmico e o impacto das medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na vida de crianças e adolescentes. O projeto é vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da UEPB, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com a professora Terçalia, o objetivo do trabalho é estudar as implicações do isolamento social utilizado para o enfrentamento da covid-19 na infância e adolescência. “Buscamos levantar o cenário de enfrentamento à pandemia, por meio de um estudo bibliográfico da conjuntura atual, econômica e política. Verificamos quais os decretos que saíram nesse período e quais afetam a realidade de crianças e adolescentes, sobretudo no que se remete à sua proteção social. Nesse contexto, levantamos a quantidade de procura por serviços de assistência social, benefícios eventuais oferecidos pelas instituições da assistência social, e as denúncias de violência realizadas junto aos Conselhos Tutelares de Campina Grande”, pontuou a docente.
Muitas famílias brasileiras sofreram impactos com o isolamento social, é o que afirma a dona de casa Rosely Nascimento. “Antes da pandemia o meu filho passava praticamente o dia todo na creche, fazia a maior parte das refeições por lá, mas quando a situação (da pandemia) começou a apertar, eu, ele e meu marido passamos mais de dois meses isolados dentro de casa. Foi um período bastante complicado, os gastos com a alimentação dobraram e infelizmente tivemos muita dificuldade para passar por esse momento”, relembra.
Entre os dados coletados no projeto de pesquisa, pôde-se observar um aumento de 2.500% de pessoas procurando pelos benefícios sociais da Secretaria de Assistência Social do município. Cesta básica, auxílio funeral e kit enxoval estavam entre os mais solicitados, de acordo com a pasta. A porcentagem elevada chama atenção para a quantidade de famílias em situação de vulnerabilidade que buscam nos programas sociais uma saída para a sobrevivência durante as dificuldades encontradas no período pandêmico.
Iniciada no momento mais crítico da pandemia, a pesquisa está caminhando para as etapas finais e deve ser concluída até junho de 2022. Segundo a coordenação do projeto, um dos objetivos finais é que o estudo seja transformado em livro e disponibilizado para toda a comunidade acadêmica no ano de 2023. Com isso, que possa chegar até as instituições que fazem parte da rede de proteção de crianças e adolescentes de Campina Grande, para que elas desenvolvam ações de políticas públicas que amenizem os danos causados pela pandemia, tanto na questão educacional e de saúde, quanto na parte social.
A pandemia para crianças e adolescentes
A vida de muitas crianças mudou durante o isolamento social devido à covid-19. Os efeitos desencadeados pela pandemia foram diversos, desde o prejuízo educacional, afastamento do convívio familiar, estresse, ansiedade, depressão e até violência física por parte dos responsáveis, segundo apontou o projeto de pesquisa. Tais efeitos necessitam de uma atenção especial, principalmente por parte de políticas públicas voltadas para diminuir esses aspectos na vida das crianças e adolescentes e da família de um modo geral.
De fato, a pandemia gerou repercussões econômicas consideráveis na escala global. A pesquisa “Impactos Primários e Secundários da covid-19 em Crianças e Adolescentes”, realizada pela UNICEF, em outubro de 2020, aponta que a renda das famílias com crianças e adolescentes caiu, causando o aumento no número de famílias que não conseguiram se alimentar adequadamente devido à falta de recurso.
No quesito educação, o formato das aulas on-line apresentou desafios e inseguranças para estudantes e famílias, conforme atesta a mãe do adolescente Marcelo Augusto, Leiliany Silva. “Meu filho se formou no Ensino Médio técnico, mas, eu não sei se ele realmente aprendeu, foram dois anos de aula remota. Eu entendi que ele não conseguiu se adaptar ao novo formato, é tudo diferente, sem contato com os professores e colegas de turma. Ele concluiu durante na pandemia, mas eu sei que não foi proveitoso para ele no sentido de aprendizagem, será que ele absorveu tudo que foi ensinado on-line da melhor maneira?”, indagou Leiliany.
Para além disso, o cenário de educação remota foi ainda mais desafiador para estudantes que não tiveram acesso à internet e nem aos aparelhos tecnológicos para acompanhar as aulas. Na UEPB, como forma de amenizar os danos decorrentes deste panorama, em julho de 2020, através da Resolução 0327/2020 do Conselho Universitário (Consuni), foi criado o Programa Auxílio Conectividade nas modalidades “Acesso à internet em caráter emergencial”, que concede bolsa mensal no valor de R$ 100 para aquisição de serviço de internet enquanto durar as atividades remotas; e “Aquisição de equipamentos”, que concede bolsa em cota única, no valor de R$ 1 mil, para aquisição de equipamento adequado ao acompanhamento das aulas.
Texto: Laysa Mayara (Estagiária)