Jovens empreendedores: universidades impulsionam a inovação e o crescimento de startups na Paraíba

22 de maio de 2024

A inovação e o espírito empreendedor estão enraizados no DNA dos paraibanos. No cenário universitário, muitos estudantes com um olhar visionário do mercado e o sonho de explorar novos horizontes nos negócios, optam por lançar suas pequenas empresas durante a graduação. Eles aspiram ao sucesso. Entre aulas, pesquisas e projetos de extensão, eles conseguem retorno financeiro e veem suas vidas transformadas a partir de negócios promissores, ideias inovadoras e sonhos realizados.

As empresas juniores servem como porta de entrada no mundo dos negócios para muitos estudantes. Surgindo dentro das universidades públicas durante a graduação, elas envolvem estudantes de diversas áreas, especialmente os futuros economistas e administradores. As quatro principais universidades públicas da Paraíba, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) têm investido significativamente no estabelecimento dessas empresas.

Uma empresa júnior é uma associação civil regulamentada por lei e gerida por estudantes matriculados em cursos de graduação de instituições de ensino superior. Seu propósito é realizar projetos e serviços que contribuam para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos associados, capacitando-os para o mercado de trabalho.

Na UEPB, a Coordenadoria de Inovação Tecnológica (Inovatec) desempenha um papel fundamental no estímulo ao empreendedorismo. Atualmente, cinco startups estão operando com o apoio da Universidade. Além disso, graças ao programa “Acelera Aí”, outras dez foram criadas a partir de pesquisas conduzidas pelos discentes. Recentemente, a Inovatec promoveu uma consulta pública para revisar a resolução que regula as empresas juniores dentro da UEPB, alinhando-a com a Lei 13.267 de 6 de abril de 2016.

O professor Josemir Moura Maia, coordenador de Empreendedorismo da Inovatec, compartilhou insights sobre o funcionamento da agência e seu apoio às empresas juniores surgidas na Instituição. Ele destacou o papel da Inovatec no apoio aos estudantes e lembrou que as startups representam negócios com potencial de crescimento exponencial, impulsionados pela inovação em diversas áreas, visando impactar em comunidades com relevância socioeconômica.

Josemir Moura ressaltou que o programa tem como principal objetivo incentivar iniciativas que atendam às necessidades da comunidade universitária. Ele relatou que desde 2022 a Inovatec tem trabalhado na implementação da incubadora de negócios da Universidade, criando assim uma trilha empreendedora dentro da Instituição. “O primeiro momento de contato dos nossos estudantes com o empreendedorismo inovador é através de eventos de sensibilização”, completou o professor.

Desde 2022, o professor e sua equipe têm se dedicado ao evento “Caravana da Inovação”, destacando a Inovatec e suas potencialidades para impulsionar o crescimento da mentalidade empreendedora. Durante o evento, são apresentados serviços como o da incubadora. Além disso, é oferecido o programa “Acelera Aí”, que consiste em uma iniciativa de aceleração de ideias inovadoras da Universidade, desenvolvido em parceria com a Fundação Internacional, que adota metodologias do Vale do Silício, como a Fundação Ajuane.

Esse programa, segundo ele, estimula os(as) estudantes a coletarem ideias inovadoras, tanto de suas próprias inspirações, quanto de Trabalho de Conclusão de Cursos (TCC), como dissertações ou teses, transformando-as em modelos de negócio escaláveis, com estratégias de marketing, financeiras e recursos humanos. Com essas ideias estruturadas em um plano de negócios, o próximo passo é a fase de incubação empresarial, visando a transformação efetiva em uma empresa ao longo de três ou quatro anos.

Quando se fala em rentabilidade, durante a fase de incubação é fundamental o monitoramento da empresa. É nesta etapa que o programa “Acelera Aí” se apresenta, preparando o modelo de negócio da empresa para que, até o final do 4º ano, ela já esteja lucrando de forma autônoma. Conforme destacado por Josemir, a UEPB tem se notabilizado por estimular os estudantes a empreender, especialmente aqueles com maior afinidade para seguir carreiras empresariais, proporcionando oportunidades e ampliando as possibilidades para os participantes do programa.

A coordenadora de Inovação Tecnológica, professora Simone Silva, reforçou que as ações de empreendedorismo da Universidade Estadual da Paraíba têm sido desenvolvidas há vários anos. Essas ações começaram com a criação dos cursos de graduação em empreendedorismo, que são voltados para todos os cursos da Universidade, não apenas para Administração e Contabilidade. Ela acrescentou que na própria UEPB algumas organizações já operam, tendo como exemplo a NAPPES, pelo seu desempenho no Centro Acadêmico, estando envolvida com os cursos do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) e oferecendo serviços contábeis para quem se interessar.

“A gente percebe que a importância da experiência das empresas juniores estimula o empreendedorismo nos estudantes, além de garantir um conhecimento profissional um pouco mais amplo do que os estágios que acontecem nos cursos”, relatou Simone.

Empresas juniores na prática
Incentivar o surgimento de empresas juniores dentro da universidade e mostrar a engrenagem do mundo dos negócios é uma das missões do Núcleo de Assistência em Projetos e Pesquisas Empresariais e Sociais (NAPPES). Instalada no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), o NAPPES tem incentivado o empreendedorismo jovem na UEPB. As ações da empresa que já existe há 20 anos, visam proporcionar aos estudantes um conhecimento empresarial, sendo ela na vida profissional, acadêmica e pessoal.

Nos últimos anos, alguns membros do Núcleo conseguiram estágio ou emprego em suas respectivas áreas e foram bem cotados pelos seus conhecimentos adquiridos dentro da empresa júnior. Discentes de Administração e Contabilidade envolvem-se em projetos que, entre outros, tratam de gestão financeira, mercado e serviços contábeis. Atualmente, a empresa é presidida pelo estudante Mateus Ronalle, do curso de Jornalismo.

A professora Sibele Thaíse Ana Duarte, coordenadora da empresa, explicou que a iniciativa prepara os(as) futuros(as) empreendedores(as) para o mercado. Muitos deles(as) adquirem experiências e mergulham no conhecimento sobre empreendedorismo. A empresa, conforme detalhou Sibele Thaíse, trabalha atualmente com consultoria contábil financeira para algumas empresas de Campina Grande.

“Algumas empresas precisam de registro no livro de contábil. É uma forma da gente desenvolver esse serviço com preços acessíveis para essas empresas, principalmente as pequenas. Basicamente, a gente está prestando serviço para essas organizações. No ano passado foram 17 empresas atendidas”, explicou a professora.

Empreender é ir além
Empreender vai além de simplesmente abrir uma empresa. Trata-se também da prática e das experiências que os(as) estudantes adquirem. Por isso, é fundamental promover o estímulo dentro da instituição, permitindo que seja desenvolvido uma melhor capacitação profissional e ingresso no mercado com essa bagagem adquirida na universidade. A Inovatec tem exatamente nesse propósito de estimular e desenvolver as ideias apresentadas pelos(as) discentes durante a graduação.

Em 2023, Campina Grande alcançou o terceiro lugar no ranking de cidades mais inovadoras do Brasil, de acordo com o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE), uma comparação de ecossistemas empreendedores desenvolvidos pela Endeavor e produzida pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). Embora recente, essa conquista é resultado de um processo de anos, fortalecido com a chegada das universidades, escolas técnicas e institutos dedicados ao ensino e à pesquisa, como é praticado na UEPB.

A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) também esteve envolvida na construção e incentivo de ideias inovadoras. Em 1967, a então Escola Politécnica foi o berço do que se tornaria o Sebrae Nacional. Esse feito impulsionou outro programa de incentivo aos empreendedores, agora com foco nos empresários juniores.

Maria Eduarda é conselheira de uma das empresas juniores que teve origem na UFCG. Ela ingressou na empresa em 2021 e já ocupou os cargos de consultora de projetos, gerente de projetos e diretora de projetos, como também o de presidente, em 2023.

A Prospect foi fundada em 1992 como Informenege, sendo inicialmente gerida por estudantes de Administração e Ciências da Computação, da UFCG. Mais tarde, mudou seu nome para Inove e gradualmente se desvinculou do curso de Ciências da Computação, até adotar o nome atual. Hoje, a empresa é exclusivamente gerida por discentes de Administração que são responsáveis por todas as operações, desde a gestão estratégica até a execução operacional dos serviços.

Quando se trata de estrutura, a Prospect inclui Presidência, Conselho Fiscal, Diretoria, Assessoria, Gerência e consultores. Eles(as) são encarregados(as) de serviços nas áreas de Administração, Marketing, Gestão de Pessoas, Finanças, entre outros. Tudo isso é realizado com base no conhecimento adquirido no curso, transformando teoria em prática para benefício da empresa. “Nós, como estudantes, já conseguimos aplicar esses serviços dentro da empresa júnior e comercializar para o mercado de Campina Grande e região”, destacou Eduarda.

Além da UEPB e UFCG, o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) também está seguindo o caminho do empreendedorismo ao inaugurar sua primeira Empresa Júnior, no campus de Campina Grande. A Empresa Júnior de Tecnologia da Informação e Streaming (EJTECS) foi oficialmente lançada em 21 de outubro de 2022, mas o projeto começou em 2020. Gerida por estudantes e liderada por Lucas Difaria Figueiredo, a EJTECS oferece soluções para artistas da música, focando no registro e distribuição de conteúdo musical e podcasts em plataformas como Spotify, Deezer e iTunes.

Com um portfólio de serviços e destacando-se no ecossistema de inovação da Paraíba, a empresa conquistou prêmios no 1º Hub de Inovação (SEBRAE/SENAI/IEL) e apresentou seu projeto no Instituto Presbiteriano Mackenzie (SP). Estudante do mestrado em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação, e egresso do curso de Tecnologia de Construção de Edifícios, do IFPB, Lucas Difaria idealizou o projeto junto a Ana Beatriz Araújo Farias e Bianca Henrique Rangel, estudantes do curso de Engenharia de Computação, sob orientação da professora Iana Daya Facundo Passos.

Conforme explicou Lucas, um dos principais eventos da EJTECS é o Lab Sound Day, um dia dedicado a realização de workshops para músicos, estudantes, técnicos, produtores musicais e outros públicos interessados nos processos da produção musical, que em 2022 contou com a participação de Guilherme Kastrup, produtor do álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, da cantora Elza Soares, obra lançada em 2015 e considerada por críticos como um dos melhores álbuns de música brasileira.

Segundo Lucas Difaria “o que uniu o grupo desde o início foi o amor pela música e desejo de transformar a vida de milhares de estudantes através da oportunidade de profissionalização da carreira musical e artística”, contou.

O empreendedorismo e a inovação estão profundamente enraizados na cultura acadêmica paraibana. Estudantes visionários da região não apenas lançam suas próprias empresas durante a graduação, mas também transformam suas vidas por meio de negócios promissores e ideias inovadoras. Essas empresas desempenham um papel crucial nesse cenário, não apenas como uma plataforma inicial para empreendedores, mas também como uma oportunidade valiosa para adquirir experiência e preparo para os desafios do mercado.

Com o apoio das universidades públicas da Paraíba, como a UEPB, UFCG e IFPB esses jovens empresários estão não apenas se desenvolvendo profissionalmente, mas também contribuindo significativamente para o ambiente empreendedor da região, impulsionando o crescimento local e regional com suas iniciativas, vislumbrando um futuro promissor no competitivo mundo dos negócios.

Texto: João Paulo Simplício (Estudante de Jornalismo UEPB)
Fotos: Codecom UEPB/Arquivos Pessoais (Divulgação)