MAPP debate nova museologia em programação alusiva à 19ª Semana Nacional dos Museus
Na tarde da última sexta-feira (21), o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), que tem como mantenedora a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), promoveu uma live inserida na 19ª Semana Nacional dos Museus. Abordando o tema “Recriando e Imaginando os Museus Brasileiros”, a atividade foi transmitida via Coordenadoria de Comunicação (CODECOM), para os canais da Rede UEPB, no YouTube e Facebook. A Semana é uma ação do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e, alinhando-se a ela, o MAPP desenvolveu uma extensão programação online, que iniciou na última segunda-feira (17).
A palestra teve como convidados o presidente do Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM) e diretor do Museu da República (RJ-IBRAM), Mário Chagas, o curador da Sala de Artesanato do MAPP, Chico Pereira e o gerente dos museus municipais em Campina Grande, Angelo Rafael. Importante ressaltar que tanto Chico quanto Angelo, entre outros partícipes, tiveram um papel primordial para que o Museu de Arte Popular da Paraíba começasse de fato a operar suas práticas e abrisse suas portas ao público, em 2014. A mediação da mesa e apresentação da live ficou a cargo da cineasta e pesquisadora Rebeca Souza.
Abrindo as atividades, Mário Chagas pontuou que é preciso que os museus sejam enxergados a partir de uma ótica biófila (de amor à vida; tendência natural a voltarmos nossa atenção às coisas vivas). “Notadamente em meio a uma pandemia, isso se faz ainda mais urgente e necessário”, ponderou.
Para Mário, além disso, o museu há de ter uma conexão com a vida. “Se um museu não serve à vida, não serve para nada”, afirmou. Citando um trecho de um poema de Manoel de Barros (“o olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê”), ele explicou que é preciso transver o mundo, exercitar uma transvisão museal. “Quando penso em recuperar, como diz o tema da Semana, imagino um sentido de retomada, de tomar de volta a dimensão humanística do museu, realçar a perspectiva poética e artística, enfim, cultivar e experimentar a imaginação museal”, enfatizou.
Concordando com Mário, Chico Pereira assinalou que o museu é o guardião das memórias e da própria vida. “Inclusive, existe o museu das coisas que estão no porvir, daquilo que ainda vai acontecer. Há 40 anos se falava em museu vivo como se fosse uma grande novidade. Hoje, sabemos, o museu sempre foi vivo, nós é que éramos mortos em relação ao museu”, disse, Chico, que há quatro décadas já chocava os puristas dizendo ser um museu à céu aberto a Feira de Campina Grande.
Em sua fala, Angelo Rafael detalhou suas experiências curatoriais e seu cotidiano de trabalho nas instituições museais, especialmente quando foi diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC-UEPB) e do MAPP. “O museu não é estanque. Gosto de enxergar o museu pelo prisma das memórias, mas, igualmente, pela parte sensorial que as recordações ou o presente evocam. O que encontro em um museu, de certa maneira vem me falar da minha própria história pessoal”, revelou.
Enfocando mais a questão da crise sanitária, advinda do Novo Coronavírus, a opinião dos presentes foi similar. Nesse sentido, Rebeca relatou alguns casos em que as programações dos museus continuaram intensas, de modo virtual. “Foram várias lives, cursos online, então fica claro que se há união, articulação para esse objetivo, há possibilidades positivas a serem exploradas”, afirmou. Indo ao encontro da argumentação de Rebeca, Angelo destacou que as novas plataformas fizeram com que o teatro, por exemplo, pudesse chegar à casa das pessoas. “A música, as mensagens, os memes, tudo nos veio pelas fibras óticas, houve uma verdadeira explosão de criatividade que foi muito interessante “, apontou.
A seresta dos vacinados
Nas histórias partilhadas por Mário Chagas no que se refere à gestão, figurou como ponto central um evento que ocorre desde 1991 nos jardins do Museu da República, durante as tardes e noites, de terça a domingo. São rodas de serestas, que duram em média três horas. A iniciativa se formou espontaneamente por frequentadores do Museu, reunindo pessoas diversas para tocar, cantar e ouvir canções que compõem o enorme repertório da música popular brasileira.
“A maioria dos integrantes está na faixa etária dos 60 aos 90 anos e, então, a partir do dia 16 de março de 2020, a Seresta foi suspensa, devido ao avanço da pandemia”, acrescentou Mário, que recentemente recebeu a notícia da morte, em razão da Covid-19, do seresteiro Rubinho do Bandolim.
Mário contou que a Seresta, tendo sido tema de livro e de filme, inclusive, foi receitada por médicos como algo capaz de afastar a depressão. “O espaço museal, portanto, também possui esse aspecto de produzir alegria, saúde, de energizar a mente. Agora em fevereiro, aliás, o Museu da República foi transformado em posto de vacinação. Isso é extraordinário, a vacina é nossa arte. Quem sabe, no futuro, não possamos fazer a seresta dos vacinados? Em todo o Brasil muitos museus agiram como apoio, na captação e doação de alimentos, por exemplo. Isso é cidadania, autogestão, é ampliação das forças solidárias, é aproximação, mesmo à distância. Esse é um caminho para o porvir, pontos-chave para que os museus caminhem”, explanou.
Diálogo poético em torno dos motes
Simultaneamente à live, aconteceu, também inserido na 19ª Semana Nacional dos Museus, o “Diálogo poético em torno dos motes”. Dinâmica, colorida e lançando “centelhas de versos”, nas palavras de Kydelmir Dantas, a atividade online teve apresentação da curadora da Sala de Cordel do MAPP, Joseilda Diniz, e de Marconi Araújo, presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB). Participaram da iniciativa Alfrânio de Brito, igualmente curador da área de Cordel do MAPP, Annecy Venâncio, Claudete Gomes, Jota Lima, Chico D’Assis, Kydelmir Dantas, Vanuza Vieira, Raniery Abrantes, Pádua El Gorrion e Rubens do Valle, além dos emboladores de Coco, Will e Condor.
Texto: Oziella Inocêncio