MAPP recebe lançamento do livro “Câncer, Lição de Vida – Minha decisão de viver com alegria”
Há um poema de Emily Dickinson chamado “A Hora de Chumbo”: Depois de uma grande dor, vem um sentimento formal/Os nervos ficam cerimoniosos, como sepulturas/O coração rijo pergunta: Será que era ele, aquele vazio/E ontem, ou séculos atrás a fio?/Os pés mecânicos, dão voltas/De chão, ou ar, ou alguma outra coisa/Um caminho de madeira/Que cresceu em desleixo/Um contentamento de quartzo, como um seixo/Essa é a hora de chumbo/Lembrada, por quem sobrevive a ela/ Como lembra da neve quem ao frio não pode mais reagir/Primeiro – calafrio – depois estupor – depois o deixar-se ir.
Pois bem, a escritora Maria Emília Cavalcanti da Silveira não só sobreviveu ao pior dos momentos, como encontrou esperança e força para narrar sua trajetória. Nesta sexta-feira (4), às 18h, ela lança no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, o livro “Câncer, Lição de Vida – Minha decisão de viver com alegria”. A entrada é franca.
A obra está na segunda edição, é provinda da Editora Zarte e dispõe de 192 páginas. “Em 2017 fui diagnosticada com dois tumores. Logo comecei a ler um livro chamado ‘Tenho câncer e tenho fé’, de Sérgio Henrique Zorzella. Decidi que também faria isso, contaria minha história. Meu pai era cronista e sempre teve vontade de publicar, mas não o fez. Então esses dois motivos me estimularam inicialmente. A recepção calorosa do público me alegrou. A primeira edição, saída pela Editora Gato Preto, vendeu 200 exemplares em 15 dias”, disse.
Maria Emília explicou que estava preparada para tudo, não temia a morte, mas o tratamento em si a assustava muito. “Foram 34 sessões de radioterapia e 9 de quimioterapia. Quando terminei, em maio de 2018, fiz minha mastectomia total, daí senti uma dor no fêmur, precisei de uma ressonância para identificar o que se tratava e deu metástase. A doença tinha se espalhado para o fêmur esquerdo, clavícula esquerda, pulmão direito, dois pontos na coluna e crânio. Fiquei triste demais. Eu não esperava. Foram três quedas na minha vida, saber que estava com câncer, ter que tirar meu seio e depois ser informada da metástase. Quando eu soube, imediatamente perguntei ao doutor se ele queria que eu fizesse todo o tratamento novamente. Porque sim, eu faria, estava disposta. Meu objetivo maior era viver”, afirmou.
A escritora discorda daquela visão romântica, que usualmente acompanha comentários de pessoas a respeito de quem está com a doença. “Há toda aquela visão que alguém tem câncer, mas não reclama de nada. Como se o doente fosse um herói, tivesse que suportar a situação calado, pois assim é mais ‘bonito’. Nós somos frágeis, a gente sofre mesmo, eu chorei muito, inúmeras vezes, não vejo nenhum problema nisso”, pontuou.
Agora, ela só pensa em seus próximo planos. Dois deles: publicar outro livro, já em curso, e colocar uma prótese no seio. “Minha vida continua, então vou prosseguir escrevendo. Acredito que por ser bem didático, o primeiro vem obtendo sucesso entre os leitores. Ele traz o passo a passo da terapia, a medicação, o que significa e como é feito cada exame. O assunto será o mesmo, sobre ele ainda tenho muito o que pormenorizar. Sigo monitorando a doença. Hoje, por exemplo, tomo um medicamento chamado Tagrisso, ele é importado e age na diminuição das células cancerígenas”, acrescentou.
Mais sobre Maria Emília Cavalcanti da Silveira
Maria Emília nasceu no Recife (PE), em 14 de abril de 1961. Morou na capital até os 12 anos, partindo posteriormente para São Paulo, com a família. Em 1983, casou-se com Ricardo Rodrigues da Silveira, vindo com ele morar em Campina, onde nasceram seus três filhos. Cinco anos depois, mudaram-se para Feira de Santana (BA). De volta à Rainha da Borborema, em 1992, ficou até 1999, quando retornaram para Feira de Santana, onde vivem até hoje. Casada há 35 anos, tem três netos, sendo um deles de uma “filha de consideração”. Profissionalmente atuou nos últimos anos no Dispensário Santana – instituição dedicada a atender e abrigar idosos, além de manter escola e salas para cursos, centro comunitário e posto de saúde. Lá fez numerosos amigos.
Recentemente a autora foi convidada pelo Laboratório AstraZeneca – responsável pelo Tagrisso – para integrar o 6º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, que aconteceu em São Paulo de 3 a 5 de setembro. Dele também participou o médico Dráuzio Varella. Na oportunidade, Maria Emília abordou a obra que escreveu na mesa-redonda “Transformando Vidas: A missão das novas terapias.
Texto: Oziella Inocêncio
Foto: Divulgação
Você precisa fazer login para comentar.