Mulheres da arte Naïf: exposição “Sororidade” é aberta no Museu de Arte Popular da Paraíba
Na sexta feira (2), houve a abertura da exposição “Sororidade”, no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande. As obras provêm do Coletivo Mulheres da Arte Naïf PB, com curadoria de Ilson Moraes e, por ocasião do vernissage, o público foi brindado com apresentações artísticas e um coquetel.
“Essencialmente, ‘Sororidade’ é uma homenagem de 11 mulheres para 5 mulheres”, como bem pontuou a cerimonialista da noite, Maria Aparecida Lima, abrindo a oportunidade. Isso porque o Coletivo, composto por Ana Lima, Analice Uchôa, Célia Gondim, Laucilene Rocha, Letícia Lucena, Lu Maia, Manu da Pazz, Márcia Margarida, Patrícia Lucena, Val Margarida e Waleska Silveira celebra o talento das artistas Marby Silva (Guarabira-PB, 1972-2021), Irene Medeiros (Alagoa Grande-PB, 1915-1994), Dalva Oliveira (João Pessoa-PB, 1920-2005), Isa Galindo (Caruaru-PE, 1929-2016) e Alba Cavalcanti (Itabaiana-PB, 1941-2011).
O evento contou com a exibição de Tony Show e Expressão Musical. Além disso, Laucilene Rocha e Elisson Custódio trouxeram à plateia performances de dança. A noite também dispôs de um profissional em Libras, Gabriel Soares.
À mesa de abertura, revezaram-se o diretor do MAPP e pró-reitor adjunto de Cultura, professor José Pereira da Silva, e as artistas do Coletivo oriundas de Campina, Laucilene Rocha, Lu Maia, Val Margarida (foto), Waleska Silveira, Márcia Margarida, Célia Gondim e Manu da Pazz. O escritor Edmundo Gaudêncio, como amigo pessoal de Irene Medeiros, foi convidado, igualmente, a se juntar à composição da mesa, discorrendo acerca da obra e da vida dessa artista que nasceu no brejo paraibano, em Alagoa Grande. A filha de Irene, a jornalista e idealizadora do Encontro da Nova Consciência (ENC), Iris Medeiros, também compareceu.
“Estou aqui representando mamãe e me sinto encantada com esse reconhecimento conferido à obra dela. Fico muito grata ao Coletivo, que tem feito um trabalho lindo. Creio que nos últimos anos ele é uma das melhores coisas surgidas no contexto da arte paraibana, eu não vi isso em lugar nenhum do Brasil. Se mamãe visse o movimento criado pelo Coletivo Mulheres da Arte Naïf PB, ela amaria, porque adorava uma novidade, era mais moderna do que todo mundo, seria a primeira a dizer que queria participar”, explicou Iris.
Ela acrescentou que Campina Grande não cultiva a memória de seus artistas e esse incentivo, fomentado pelo Coletivo, configura-se como um impulso para que haja uma mudança de atitude. “Eu sempre lembro de Hermano José, ele foi a única pessoa que homenageou Irene de forma direta, no ato, espontaneamente, batizando a galeria do Teatro Municipal com o nome dela, quando era diretor. Se a gente pensar, o próprio Hermano, por exemplo, falecido em 2015, é alguém a respeito de quem pouco se fala na cidade, o que é uma pena, uma verdadeira perda para o município, que deixa de conhecer as obras dele e a personalidade super criativa que ele era”, destacou.
Menção Honrosa
Dentro do vernissage, houve espaço, ainda, para a entrega de uma Menção Honrosa ao Museu de Arte Popular da Paraíba, recebida pelo professor Pereira. “Nossa gratidão à direção é enorme, pela sensibilidade ao trazer a Arte Naiff para cá. Este Museu já é o templo maior da cultura em Campina e a nossa expressão é popular, de modo que o nosso alinhamento a ele é perfeito. ‘Sororidade’ fala de como é fundamental as mulheres se apoiarem e por isso fizemos questão de realçar o brilho dessas artistas, notadamente aquelas que vieram antes de nós, desbravando um mundo tipicamente masculino e machista, não obtendo o destaque merecido. Que esta exposição seja um ambiente de conhecimento e estímulo às artes visuais, celebrando o Naïf e o impacto das mulheres na sociedade”, apontou Luh Maia.
Além disso, conforme a artista, o nascimento do Coletivo, que tem pouco mais de dois anos, permitiu mais visibilidade ao trabalho das componentes. “Ocorreu, por assim dizer, uma reação em cadeia. As galerias nos procuram e inclusive estamos recebendo convites para expor em shoppings, ao invés de pagar para expor, como usualmente acontecia”, disse.
Em sua fala, o diretor do MAPP assinalou justamente o caráter ativo e organizado do Coletivo. “Mais uma vez, o Museu colabora para a divulgação e valorização da Arte Naïf, com esse tema tão urgente que é a igualdade de gênero e, desta feita, homenageando importantes artistas nessa seara criativa do Estado. A última exposição do Coletivo no MAPP foi bastante prestigiada e elogiada. Tudo acontece graças ao dinamismo dessas mulheres, que juntas compõem um movimento afinado e atuante, assim favorecendo o cenário artístico paraibano”, enfatizou Pereira.
A visitação no MAPP é gratuita, ocorre de terça a sexta-feira das 10 às 19h, e aos sábados e domingos das 14 às 19h. Outras informações acerca de “Sororidade” podem ser obtidas pelos telefones (83) 3310-9738 e (83) 98826-6821.
Marby, Isa, Irene, Dalva & Alba: mais sobre as homenageadas
Marby Silva nasceu em 3 de setembro de 1972, em Guarabira, tendo descoberto seu amor pela pintura em 2008. Autodidata, inspirava-se em cenas do cotidiano. Suas criações foram expostas em eventos coletivos em diversas cidades, a exemplo de João Pessoa e Piracicaba (SP). Possui obras no acervo do Museu de Arte Naif de Guarabira, onde expôs entre 2018 e 2019. Marby faleceu prematuramente e foi homenageada de maneira póstuma no Festival Internacional de Arte Naïf, realizado em 2022, em sua cidade natal.
Nascida em Caruaru, Isa Galindo residiu em João Pessoa a partir de 1961. Sempre mostrou interesse pela arte, elaborando paisagens, flores e pinturas com lápis de cor, ainda no Ensino Fundamental. O hobby preferido dela era pintar. Em 1971, fez cursos de pintura em porcelana, seguidos por um breve curso no ano seguinte, aprendendo, assim, técnicas básicas de óleo sobre tela e relacionadas ao desenho de fisionomias. Entre 1978 e 1982, experimentou vários estilos, mas prevaleceu sua atração pelo folclore e os costumes nordestinos, seguindo o Naïf. Em junho de 2009, a artista teve uma exposição individual em comemoração aos seus 80 anos, na Galeria Gamela.
Irene Medeiros nasceu em janeiro de 1915. Autodidata, ela começou a pintar após se aposentar dos Correios, em Campina. Suas obras foram expostas na Rainha da Borborema e em João Pessoa. Em 1986, foi selecionada pelo SESC de Piracicaba (SP). A partir daí, expôs no Museu de Arte Primitiva de Assis (SP) e na galeria da Biblioteca Câmara Cascudo, em Natal (RN). Suas obras integram o acervo da Galeria Irene Medeiros, localizada no Teatro Municipal Severino Cabral. Segundo o Catálogo das Artes, seu trabalho pode ser contemplado como um espelho da vida nordestina, posto que seus motivos favoritos são atividades ligadas à terra, feiras e personagens típicos da região.
Para Hermano José, as obras de Dalva Oliveira refletiam um “despojamento de espírito”. Nascida em João Pessoa, ela expôs em diversos espaços renomados, como a Galeria Arte Nossa, em Areia, e a Galeria Brasileira, em São Paulo (SP). É conhecida pelo teor de leveza e sutileza presente em suas obras, assim como por alguns de seus trabalhos retratando mundos de fantasia, repletos de mágicos, trapezistas e palhaços.
Alba Cavalcanti é natural de Itabaiana. Órfã de pai e mãe, foi criada por sua irmã mais velha, Jane Cavalcanti. Após residir em João Pessoa, trabalhou como funcionária pública estadual e em 1965 fixou residência no Rio de Janeiro (RJ). Autodidata, ela inicialmente se dedicou à costura. Somente em 1984 descobriu seu talento para a pintura, desenvolvendo uma técnica única de desenhos com cinzas contornadas e carvão sobre papel. Explorou também em suas obras a utilização do pastel seco colorido e da tinta acrílica em tela.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Hugo Tabosa (Divulgação)
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