Museu de Arte Popular da Paraíba recebe 3ª edição do Torneio Estadual de Poesia Slam, nesta quinta (26)
Uma moçada que adora poesia vem mudando a cara principalmente da periferia no Brasil. Trata-se dos “Slams”, competições de poesia falada que unem o verso e a performance. Por aqui, onde o repente, a embolada e a cantoria já são tradição, esse fenômeno, que é mundial, vem ganhando corpo desde 2017 e dando voz, em especial, ao jovem das comunidades. Nele, pessoas usualmente colocadas à margem da sociedade, encontram lugar para abordar questões como racismo, feminismo, política e militância.
Uma iniciativa do gênero, que será realizada nesta quinta-feira (26), em Campina Grande, conta com o apoio da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB): a 3ª edição do Torneio Estadual de Poesia Slam. O evento ocorrerá ao ar livre, na parte de baixo do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), às 18h.
Quem já assistiu um Slam sabe que ele não se parece em nada com um sarau, recital, ou mesmo com um concurso de poesia. Não há regras sobre o formato do texto, que pode ser escrito previamente e lido na hora, ou improvisado. Tampouco a métrica importa no momento de definir quem venceu. Na disputa, os jurados escolhem a poesia melhor expressada e a que mais os tocou. Isso porque a maioria delas expõe experiências íntimas, histórias muito pessoais de quem viveu situações de humilhação, violência e preconceito, por exemplo, e que imediatamente provocam identificação no público.
Toda a organização da batalha se dá durante o evento, inclusive as inscrições dos poetas. Os jurados também são eleitos pouco antes, às vezes aleatoriamente, seja por participação espontânea ou a convite de quem está à frente do Slam. Qualquer pessoa pode se apresentar e tem até três minutos para exibir poemas de autoria própria. Não há acompanhamento musical, uso de adereços, figurinos ou qualquer auxílio de caráter visual.
Contudo, a iniciativa sediada no MAPP é diferenciada, posto que consiste no confronto dos finalistas de todos os circuitos de poesia Slam promovidos ao longo de 2020. Nesse sentido, destina-se a classificar um poeta para representar a Paraíba na etapa Nacional e, quiçá, Internacional de Slam, explicou o coordenador, Yochan Beck. “É a atividade mais significativa para os artistas interessados em destacar o nome da Paraíba em nível mundial, pois o ganhador poderá disputar a Copa do Mundo de Poesia Falada, na França”, apontou. No ano passado, o Torneio Estadual aconteceu em João Pessoa, no Espaço Cultural, com o apoio da Funesc, que em 2020 incentiva novamente a prática.
Integrarão o evento 12 poetas: Jéssica Preta (finalista indicada pela Batalha do Pedregal); Lucas do Beco (finalista pelo Slam da Balbúrdia); Poeta Chorão (finalista indicado pela Batalha do Prado); poetisa Dorim (finalista pelo Slam da Balbúrdia); Nego Marley (finalista indicado pela Batalha do Pedregal); Zero (finalista pela Batalha do Prado); Isadroga (finalista indicada pela Batalha do Pedregal); Neide Vieira (finalista pelo Slam das Minas – João Pessoa); MC Hirlla (finalista pelo Slam das Minas – João Pessoa); Psicopreta, (finalista indicada pela Batalha da Paz – João Pessoa); MC Brother (finalista pela Batalha do Leblon – Cajazeiras); e Vulto (finalista indicado pela Batalha da Paz – João Pessoa).
O “Slam Master”, a quem cabe a função de apresentar e produzir o evento, será Amatheus de Queiroz Bonifácio, que usa o pseudônimo Bicharia. Graduanda em Filosofia pela UEPB, ela é coorganizadora das Batalhas “Nós por Nós” e do Pedregal. Teuzinha, como é conhecida, é poetisa e perfomer. Flávio Guilherme, Lama Preta, Dorat, Wbliene e Siba Carvalho responderão pelo júri.
Haverá, ainda, uma performance de dança, com Yohana Passos e um artista da cena local do grafite, que fará uma ilustração em um quadro, no decorrer do Torneio, com uma câmera acompanhando o movimento.
No MAPP estarão apenas a apresentadora, o fotógrafo e a equipe de apoio, totalizando seis pessoas, em conformidade com as restrições sanitárias vigentes. A transmissão se dará pelo Canal Rede UEPB no YouTube e pela TV Funesc. A iniciativa tem coordenação geral e execução de Yochan Beck, produção técnica de Gabriel Lopes e Isadora, comunicação e mídias por Priscila Rocha e fotografia a cargo de Júlio César. Outras informações podem ser adquiridas pelo telefone (83) 98672-9210.
Mais sobre o Slam
As batalhas de poesia (“poetry slams”) surgiram nos Estados Unidos, na década de 80. O idealizador foi um operário de construção civil e poeta de Chicago, Marc Kelly Smith, que almejava fazer algo em um formato mais espontâneo, longe da academia e do elitismo invariavelmente presente quando se trata de poesia. No Brasil foram ganhando popularidade nos últimos 10 anos. A intenção das batalhas é que é tudo seja livre, sem padrão, mas que cada lugar agregue as peculiaridades regionais, ressaltando o que têm de original em seus moradores.
Atualmente, o Slam é feito em diversos países, a exemplo de Irlanda, Inglaterra, Austrália, México, Canadá, Zimbábue, Alemanha, Madagascar, Itália, Singapura e França. Este último, detém, aliás, uma das maiores comunidades do movimento. Segundo o SLAM-BR, há mais de 200 grupos distribuídos pelo Brasil. Além dos campeonatos e batalhas, hoje os Slams ocupam posição de destaque em festivais, como na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Texto: Oziella Inocêncio
Imagem: Divulgação
Você precisa fazer login para comentar.