Museu de Arte Popular da Paraíba recebe lançamento de cordel e cantoria com Astier Basílio e Tião Lima
No próximo domingo (7), às 16h, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, receberá o lançamento do cordel “Sal no Machado”, de autoria do poeta Óssip Mandelstam [1891-1938]. A obra é traduzida e comentada pelo escritor Astier Basílio, que fará uma cantoria, junto a seu pai, Tião Lima, às 14h, em um preâmbulo ao evento. A entrada é franca.
A cantoria será híbrida, posto que além do público no local, terá transmissão pelas redes sociais de Tião Lima e Astier. Na ocasião, ambas as plateias, inclusive, poderão pedir temas para as sextilhas, bem como motes e gêneros.
Tião Lima é cordelista e repentista. Canta profissionalmente há mais de cinco décadas e durante anos foi presidente da Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos. Já cantou com grandes nomes dessa seara artística, a exemplo de José Vicente da Paraíba, Moacir Laurentino, Severino Feitosa e Louro Branco. Já Astier não é repentista profissional. E, sobre isso, ele faz questão de enfatizar: apenas quando está em Campina gosta de cantar de improviso, de preferência, com o pai.
“Sal no Machado” é composto por nove poemas de Mandelstam, sai pelas Edições Samizdat e conta com 40 páginas, trazendo a temática política do autor. Custa R$10. Acerca da ideia de utilizar na publicação a forma de cordel, Astier explicou que a inspiração surgiu ao visitar um sebo de livros raros. “Vi a primeira edição de várias obras de alguns poetas célebres, como Iessiênin e Akhmátova, e, do ponto de vista editorial, era bastante parecido com os folhetos dos cordelistas nordestinos”, destacou.
Assim, traduzindo e estudando a obra de Mandelstam há três anos, ele decidiu compartilhar o processo. Todos os poemas são comentados. Além de aspectos da escolha da tradução, Astier contextualiza histórica e politicamente os escritos. “Mandelstam é muito metafórico, de certa forma é um poeta difícil, mas que escreveu tendo como fonte de inspiração os episódios de sua própria vida. É o caso do poema que intitula o cordel, Sal no Machado. Ele foi escrito em 1921, sob o impacto da perda do amigo e mestre, Nikolai Gumiliov, assassinado a mando do regime, acusado de conspirar contra os bolcheviques”, detalhou.
A arte que une Nordeste e Rússia
Os poemas traduzidos são “À noite no quintal, um rosto foi lavado”, “Tempo”, “Leningrado”, “Na cozinha nós dois e lá se sente”, “Tíbia e sem pão, Crimeia. Primavera fria…”, “Lar sem alarido, igual a papel”, “Nós vivemos sem estar mais sentindo o país…” e “Se os inimigos nossos me pegarem”. Conforme Astier, alguns desses trabalhos foram publicados em revistas e suplementos como o Estado da Arte, do jornal O Estado de São Paulo, o jornal Rascunho, oriundo do Paraná, e na revista de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
A respeito da ligação entre a poesia russa e a poesia popular nordestina, Astier ressaltou que há muitas convergências. “São duas tradições poéticas extremamente musicais que trabalham, de modo criativo, o repertório constituído de formas fixas. A oralidade é outro elemento em comum. Óssip Mandelstam, por exemplo, não escrevia os seus poemas, compunha de cabeça e depois os textos eram escritos pela mulher dele. Algo que o aproxima de Augusto dos Anjos, que também costumava fazer assim. Não à toa, a poesia dos dois tem essa beleza rítmica e sonora”, concluiu.
Sobre Óssip Mandelstam
Nascido na capital da Polônia, Varsóvia, Mandelstam foi para a Rússia quando tinha três anos de idade. Filho de uma próspera família de comerciantes judeus, estudou por dois anos em uma das mais importantes instituições de ensino do mundo, a Universidade Sorbonne, em Paris. De volta a São Petersburgo, onde morava, não chegou a concluir os estudos.
A vida de Mandelstam caiu em desgraça quando escreveu o poema que ficou conhecido como “Epigrama de Stalin”. Vindo a ser preso, em 1934, por atividades antissoviéticas e degredado no sul da Rússia, na cidade de Voronej, ele foi solto poucos meses depois. Preso pela segunda vez em 1938, veio a falecer no campo de trabalhos forçados, em Vladivostok.
Nos anos 1960, graças à publicação no Ocidente dos livros de memória de sua viúva, Nadejda Yakovleva, a história e o legado de Mandelstam passaram a ser conhecidos mundialmente. No Brasil, ele integra a antologia “Poesia Russa Moderna”, editada e traduzida pelos irmãos Campos e Boris Schnaiderman.
Sobre Astier Basílio
Astier Basílio é mestre em literatura russa pelo Instituto Estatal Pushkin, de Moscou, e atualmente doutorando nesse mesmo campo do conhecimento, por meio do Instituto de Literatura Maksim Górki, também na capital russa, onde mora.
É autor de 15 livros, entre coletâneas de poemas, contos, peça de teatro e folhetos de cordel. Venceu os prêmios Novos Autores Paraibanos, em 2000, na categoria poesia, com o livro “Funerais da Fala”; o prêmio Nacional Correio das Artes, em 2010, na categoria poesia, com o livro “Finais em Extinção”; e o prêmio Nacional de Dramaturgia, pela Funarte, com a peça “Maquinista”, em 2014.
Foi finalista do prêmio Sesc de Literatura, em 2017, com o seu romance “Supermercado Brasil Novo”. No mesmo ano, escreveu o folheto de cordel “A chegada de Jon Snow no inferno”.
Também é autor, em parceria com Braulio Tavares, de “A Peleja de Braulio Tavares, o Raio da Silibrina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas”, que data de 2003, tendo lançado, no ano seguinte, em parceria com o poeta Glauco Mattoso, a “Peleja de Astier Basílio com Glauco Mattoso”.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Arquivo Pessoal
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