“Paraíba – Berço da Cantoria, do Cordel e de Culturas Populares” é enriquecida pela presença de artistas
Como é a visita a um museu, do ponto de vista de um artista? No Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, a expectativa é que a experiência seja a melhor possível. Foi o que aconteceu com o pirogravurista Arimatea Costa, 63 anos. Na atualidade, Ari, como é chamado, reside em Marília (SP), mas é paraibano de João Pessoa, tendo morado na Rainha da Borborema por muitos anos. De volta à cidade, após três décadas, ele esteve no MAPP e conheceu a exposição “Paraíba – Berço da Cantoria, do Cordel e de Culturas Populares”. Resultado: gostou tanto, que se apresentou no Palco do Cordel e ainda doou uma de suas obras ao Museu.
Em seu trabalho deixado no MAPP, Ari retratou Ariano Suassuna e Zélia de Andrade Lima, com quem o gênio do Armorial foi casado por 67 anos. Desde a adolescência, a criatividade faz parte da vida de Ari, cuja expressão artística já transitou por diversos materiais: madeira, cestaria, macramê, colagens… “Um dia, ao passear por grupos de artesanato, vi um anúncio de vagas abertas, para uma semana de atividades voltadas à iniciação na pirogravura, do básico ao realismo, ministradas por um pirogravurista chamado Allan Mr. Ziron. Fiquei interessado e fiz esse curso rápido. Por questões financeiras, não pude participar das práticas mais avançadas, só que como sempre estive ligado à arte, me adaptei e me apaixonei por essa nova forma de criar. Não sou desenhista, mas transformo a arte em um trabalho que me agrada, transferindo figuras da fotografia para a madeira. A pirogravura me conquistou”, enfatizou.
E como o MAPP, mais detalhadamente, aparece nessa história? Ari contou que foi convidado pela professora Joseilda Diniz, uma das curadoras da exposição, a falar sobre a confecção de suas peças, no Palco do Cordel – espaço criado para os artistas narrarem um pouco da sua vida e de que modo fazem suas obras. “Isso me emocionou e incentivou, inclusive para que eu doasse uma peça ao Museu, em agradecimento. Além disso, estar no MAPP oportunizou meu contato com obras de outros artistas que hoje admiro, a exemplo de Leandro Gomes de Barros”, explicou.
O macramê, a arte de dar nós em cordas, cordões e linhas, criando peças que variam de suporte para plantas, estandartes, pulseiras e até roupas, é outra técnica que Ari domina. “A pirogravura me encontrou no ano de 2021, quando eu estava em busca de algo que me renovasse. Também produzi entalhes em madeira, cestaria com jornais e colagens utilizando papelão e filtros de café usados. Trabalho há 29 anos como motorista em uma instituição pública de ensino superior na área da saúde, em Marília. Atualmente estou na ativa, mas em processo de aposentadoria. Venho me dedicando cada vez mais a aprender à pirogravura e conforme crio as peças, percebo o quanto vale a pena investir em materiais e em tempo para me aprimorar, com a possibilidade, igualmente, de gerar recursos financeiros no futuro”, acrescentou. Informações adicionais acerca das peças do artista podem ser obtidas na rede social @ciaseuari.
Dezenas de participações
Desde que “Paraíba – Berço da Cantoria, do Cordel e de Culturas Populares” foi aberta, em julho deste ano, mais de 3 mil visitantes estiveram no local, de acordo com a professora Joseilda. A presença dos artistas é uma constante, perfazendo dezenas de participações. Nesse sentido, já passaram pelo Palco do Cordel Vanuzza Vieira (pandeirista); Silas Silva da Paraíba (poeta, xilogravador, ativista cultural); João Apolinário (entalhador); Chico D’Assis (poeta cordelista, membro da Associação do Cordel do Vale do Paraíba – ACVPB); Magna Brasil (artesã); Fábio Jampa (poeta e membro da ACVPB); Arnaldo Mendes (poeta e músico, membro da ACVPB); Mané Gostoso Neto (poeta e xilogravador ); Mirtes Waleska Sulpino (escritora e historiadora); Arlindo Nóbrega (jornalista); Ida Steinmüller (escritora); Vanderley de Brito (presidente do Instituto Histórico de Campina Grande – IHCG); Xico Nóbrega (jornalista); e Jota Lima (poeta, pesquisador, professor e pró-reitor adjunto de Recursos Humanos da UEPB), entre outros. As apresentações costumam ocorrer semanalmente, às terças-feiras, a partir das 15h, mas, a depender do contexto, também podem se dar de maneira espontânea, no improviso, segundo a curadora.
“A exposição é um sucesso e uma das nossas maiores satisfações é saber que podemos colaborar para que o artista popular seja valorizado. O nosso propósito era oferecer um espaço interativo, em que as pessoas que trabalham com arte estivessem mais perto do público, ficassem à vontade para partilhar o que consideram mais interessante em suas obras e trajetórias, que fossem ouvidos e se sentissem mais inseridos em seu dia a dia de produção. Desse modo, ganha quem gosta desse gênero artístico e quem cria também se sente prestigiado”, disse o poeta e curador, Alfrânio de Brito.
Já a professora Joseilda endossou o caráter colaborativo da iniciativa. “Temos aqui inúmeras peças de artistas que nos visitaram e se encantaram com o Museu e com a exposição. Alguns fizeram doações, outros emprestaram seu trabalho e é essa participação, essa adesão tão carinhosa, que torna tudo mais bonito, aconchegante e atraente ao visitante. Agradecemos muito a todos”, finalizou.
A exposição fica aberta ao público de terça-feira a sexta-feira das 10 às 19h e, nos finais de semana, das 14 às 19h. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados de maneira antecipada AQUI. Além de “Paraíba – Berço da Cantoria, do Cordel e de Culturas Populares”, o MAPP segue com duas exposições em cartaz: “Carcaças, Tempo e Memória”, de Arnilson Montenegro, e “Campina Grande 160 anos – Arte, História, Devoção, Ciência e Tecnologia”, idealizada e produzida pelo diretor do MAPP, professor José Pereira da Silva, com curadoria de Angelo Rafael.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Divulgação
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