Pesquisadoras da Universidade Estadual da Paraíba se destacam no campo da pesquisa científica

11 de fevereiro de 2021

A despeito de um histórico de décadas de exclusão da educação formal, convivendo com preconceitos e violências que perpassam seu cotidiano, aprendendo a lidar com uma carga desigual de serviços domésticos e cuidados familiares que, no geral, recaem sobre elas, as mulheres têm conquistado espaços cada vez mais relevantes na ciência e na produção do conhecimento contemporâneo. Na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), que é gerida por duas mulheres, a reitora professora Célia Regina Diniz, e a vice-reitora, professora Ivonildes Fonseca, são inúmeros os casos de destaque feminino nas ações de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Neste 11 de fevereiro, data em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, o exemplo da professora Tânia Ribeiro de Figueiredo, que atua no Departamento de Enfermagem e no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UEPB, poderia ilustrar a trajetória de muitas cientistas da Instituição, que superam barreiras e aprendem a gerenciar as diversas vertentes da vida para seguir aperfeiçoando o conhecimento na busca por soluções para problemas da sociedade.

Pós-doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo (USP), a docente lembra que a vontade de ajudar os outros a permitiu descobrir o objeto de suas pesquisas. Hoje, a pesquisadora é uma referência nos estudos de tuberculose, com diversos projetos de Pesquisa e Extensão, artigos e livros publicados.

“Desde o Ensino Médio eu já sentia muita vontade de ser professora, e naquela época eu ajudava alguns colegas que tinham dificuldade em Matemática, Biologia e Química. Na Graduação eu estagiei desde cedo e tinha uma necessidade de investigar e descobrir além do que me era apresentado. E aí no Mestrado eu me deparei com um doente de tuberculose do interior que estava precisando de ajuda. Esse contato com essa pessoa me fez ver que eu deveria estudar essa temática. Eu percebi que foi minha primeira paixão pela pesquisa em tuberculose, e comecei a estudar esse assunto que me acompanhou na dissertação, Doutorado e Pós-doutorado. Toda a trajetória acadêmica foi em saúde pública com ênfase em tuberculose”, relembra a professora Tânia.

A pesquisadora evidencia que precisou de uma rede de apoio familiar para conseguir superar as dificuldades que enfrentou por ser mulher e, no início da trajetória, também pela origem nordestina.

“Não é fácil conciliar minha vida de pesquisadora, professora, mãe de dois filhos, filha e esposa. É um desafio imenso. Quando eu fui fazer doutorado na USP, em Ribeirão Preto (SP), além de toda a mudança da família, adaptação de filhos em escola, no outro contexto, longe de familiares, uma das coisas que mais pesou pra mim foi enfrentar muitas vezes o preconceito de ser do Nordeste, de ser paraibana. As pessoas faziam gozação com o meu sotaque. E eu procurava cada vez estudar mais, me destacar no conhecimento para ser respeitada e para superar essas dificuldades. E eu superei e um elemento facilitador pra mim foi ter o suporte da minha família, o apoio dos meus filhos e meu marido. Você ter do seu lado quem divida as responsabilidades de casa, as atividades do dia a dia com você e que acredite na sua trajetória como um projeto de vida coletivo é importante”, avalia Tânia.

Já a pesquisadora Andrea Pacheco Pacífico, que é, professora da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba e co-editora da Revista de Estudos Internacionais, além de coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Deslocados Ambientais (Nepda), desde 2012, e co-coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (ACNUR), também evidencia algumas dificuldades que precisa superar para conciliar a vida acadêmica, de docente, de mãe e de mulher.

“É difícil. Mas, quando fazemos o que somos vocacionadas, torna-se prazeroso e não um fardo. Pesquisar, escrever, publicar, disseminar conhecimento resultante de pesquisa é gratificante para mim. Claro que durante a pandemia da Covid-19, tendo que fazer home schooling diariamente como meu filho de 4 anos, atrapalhou um pouco minha vida de pesquisadora. Mas, ainda assim, consegui avançar e manter minha produção estável. É o amor por que fazemos que dá força para lutar”, destaca Andrea.

Bolsista de produtividade em pesquisa nível 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Andrea Pacífico é doutora com distinção em Ciências Sociais pela PUC/São Paulo, com período sanduíche no Center for Refugee Studies da Universidade de York, Canadá; pós-doutora em Direito Internacional dos Refugiados pela Universidade de York, Canadá; pesquisadora visitante no Refugee Studies Centre da Universidade de Oxford, e, atualmente, está no Refugee Law Initiative da Universidade de Londres como pesquisadora visitante. Ao relembrar a trajetória que percorreu a pesquisadora recorda de conquistas que foram construídas a partir de dedicação e trabalho.

“Sou filha de professores e a vida acadêmica sempre me fascinou, desde as brincadeiras infantis. No primeiro ano da graduação em Direito (UFAL), uma professora chamada Erinalva Medeiros me convidou para assistente de pesquisa. Não parei mais. Publiquei o primeiro livro aos 24 anos. Na Graduação, como assistente de pesquisa sobre Direitos Humanos das minorias em Alagoas, levando gravador a pilha para realizar entrevistas com indígenas, afrodescendentes e mulheres em Maceió. Para mim, pesquisa significa ir a campo, o que fiz, aos 21 anos. O Mestrado e o Doutorado, cujas pesquisas versaram sobre Direitos Humanos de refugiados, mais precisamente a integração deles nos locais de acolhimento, me trouxeram maturidade acadêmica e profissional como pesquisadora. A partir daí, já me sentia capaz de produzir conhecimento em larga escala, disseminá-lo e criar teses. No momento, realizo o terceiro pós-doutorado, feliz por ter me tornado exemplo a ser seguido no Brasil e ver minhas teses, originalmente criadas e defendidas por mim, sendo citadas por estudantes, colegas e formuladores de política”, declara Andrea.

A pesquisadora ainda lembra que o caminho para se sobressair em qualquer profissão é árduo e aconselha mulheres que desejam ser pesquisadoras a manter sempre o foco. “Independentemente de ser mulher, precisa haver simplicidade, paciência, disciplina, força de vontade e não desistir diante das mais diversas adversidades. Por fim, de suma importância, é ter foco, pois, por experiência própria, eu tive a sorte de ter encontrado minha vocação muito cedo e nunca ter me afastado de meu objeto de estudo e pesquisa, qual seja: Direitos Humanos das minorias, especialmente de migrantes forçados e refugiados”, recomenda.

Já a pesquisadora Joseline Molozzi, que também é bolsista de produtividade nível 2 do CNPq e atua como docente da UEPB na área de Ecologia, com ênfase, em Ecologia de Reservatórios e de Estuários, destaca que sua trajetória é a de uma pessoa apaixonada pela ciência.

“Eu iniciei a trajetória durante a graduação por meio da iniciação científica, depois, vi que queria entrar para a vida acadêmica e fiz Mestrado, Doutorado, Pós-doutorado, até que iniciei a carreira docente na UEPB. Sou apaixonada pelo que faço, acho extremamente importante meu trabalho para quebrar esse paradigma que pesquisadores para serem consagrados têm que ser homens. Nós temos mulheres com muito reconhecimento na ciência e eu sou muto feliz e muito realizada pela minha trajetória enquanto pesquisadora, não só pelas publicações que tenho, mas, pelos alunos que foram formados, de Graduação, Mestrado, Doutorado. Acho que o mais bonito é a gente formar pessoas, bons profissionais”, avalia Joseline.

Com doutorado em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutorado Sanduíche em Portugal pela Universidade de Coimbra, e Espanha pela Universidade de Murcia, além de Pós-Doutorado Bolsista CAPES-UFMG, a pesquisadora destaca que a mulher tem inúmeros desafios a superar para se consolidar enquanto cientista, mas, são muitas as mulheres que se propõe a fazer ciência e conseguem posições de destaque.

“Eu vejo que nós, mulheres, sempre precisamos provar o quanto a gente é boa profissionalmente, o quanto é competente, enquanto nos homens não vejo isso. Nesse sentido é difícil ser mulher, mas, também vejo muitas mulheres se dedicando à pesquisa e conciliando os cuidados com a casa, o trabalho, a vida pessoal. Estou há 8 anos na UEPB e desde então já fui coordenadora de curso, ocupei funções de gestão, superei um câncer e nada disso me impediu de continuar produzindo. No meu laboratório de pesquisa temos um grupo de 20 pessoas, 19 destas são mulheres, então temos muitas cientistas sendo formadas e reivindicando seus espaços”, pondera Joseline.

A contribuição das mulheres à ciência é destacada pela Organização das Nações Unidas como vital. A agência evidencia que elas descobriram medicamentos, assinaram invenções que mudaram o mundo e produziram pesquisas de longo alcance. Por muito tempo, algumas áreas como Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática foram marcadas por preconceitos de gênero que excluem mulheres e meninas. O acesso desigual à educação, tecnologias e posições de liderança afastou inúmeras mentes femininas destas carreiras. Mas apesar dos contratempos, algumas fronteiras do conhecimento científico começam a ser ultrapassadas para dar lugar à busca de soluções para desafios globais. O estabelecimento do dia mundial das mulheres e meninas na ciência busca dar visibilidade às trajetórias delas.

Texto: Juliana Marques
Fotos: Divulgação