Projeto desenvolvido no CCBSA atua na assistência de famílias carentes e no combate à fome em João Pessoa
Desde o início da pandemia de Covid-19 a incerteza e o medo da morte foram sentimentos que passaram a predominar e assolar a população no mundo inteiro. O alto grau de contágio do vírus motivou a implementação de ações e decretos rígidos que determinavam a restrição de atividades presenciais para evitar a contaminação em massa, o que repercutiu diretamente na vida de trabalhadores formais e informais no mundo inteiro.
A pobreza e a fome aumentaram, o que motivou o surgimento de ações com foco na solidariedade. É o caso do projeto “Saciar”, desenvolvido no Centro de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas (CCBSA), Câmpus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), localizado em João Pessoa, que passou a atender famílias carentes no combate à fome. “O Saciar” é coordenado pelo professor de Relações Internacionais, Alexandre César Cunha Leite, e surgiu como projeto social em meados de 2020 a partir da preocupação com o aumento das pessoas em situação de rua na Capital do Estado.
“A pandemia teve um papel muito significativo nesse processo, na criação do ‘Saciar’ e na criação de uma atividade que chegasse às pessoas que posso chamar em situação de vulnerabilidade. O que chamou a atenção no início foi o aumento da população de rua, saindo rodando por João Pessoa e entorno da cidade, comecei a reparar no número de pessoas na rua, vivendo na rua, dependendo da ajuda de outras pessoas e de projetos sociais”, conta o professor.
O professor Alexandre lembra que o município é uma cidade turística e um dos destinos mais procurados, principalmente devido as belas praias paradisíacas e pontos históricos. Com a pandemia, o turismo foi impactado e os trabalhadores informais da área litorânea, como guias turísticos, bugueiros, vendedores ambulantes, entre outros se veem agora sem opções para tirar o seu sustento. “As pessoas que tiravam renda dessas atividades ficam todos sem renda, três a quatro meses com zero de renda. Somado a isso, começamos a observar população migrante da região Rural, que perde a geração de renda na Zona Rural e migra para João Pessoa passando a viver em áreas totalmente inadequadas para habitação”, explica.
Diante disso, inicialmente o docente mapeou projetos existentes na cidade associando-se informalmente aos que se identificou. Na oportunidade o professor buscou entender quais as maiores dificuldades enfrentadas e como poderia ajudar. Segundo ele, o problema maior não era chegar até essas pessoas em vulnerabilidade social, uma vez que em sua maioria as comunidades possuem lideranças femininas o que tem facilitado o acesso dos projetos. O desafio então foi a captação de doações para que as iniciativas continuem acontecendo.
“Desse modo hoje o projeto atua como captador e ponte entre doador e projetos sociais, e têm como objetivo captar pessoas que desejam fazer doações e levar o alimento até os projetos ou diretamente até as famílias carentes. Estamos realizando uma ação emergencial, criando meios para que as pessoas tenham acesso ao alimento”, destacou o professor Alexandre.
Atualmente o “Saciar” apoia seis projetos sociais na cidade, entre eles o “Geladeira Solidária”, que distribui marmitas em assentamentos da cidade. Esse trabalho era realizado em dois dias da semana e com o apoio do “Saciar” a distribuição passou a ser realizada em quatro dias da semana. São distribuídas em torno de 1.600 a duas mil marmitas por mês. Os favorecidos, como a Comunidade Dubai, no bairro de Mangabeira VIII, têm em torno 500 a 700 famílias em situação de vulnerabilidade social. A ocupação encontra-se situada em área de preservação ambiental, os moradores não têm acesso à água encanada, saneamento básico ou energia elétrica. As doações neste local são desde itens alimentícios à água adequada para consumo.
O projeto hoje conta com o apoio de alunos e ex-alunos do curso de Relações Internacionais, que auxiliam na construção de divulgação de materiais nas mídias sociais, porém, o trabalho de campo é realizado apenas pelo professor Alexandre, que faz o porta a porta para captação de doações, ajuda no preparo das refeições e distribuição dos alimentos. Mesmo assim, a exemplo de outros projetos o “Saciar” também tem enfrentado dificuldade na captação de doações “Esse último mês de agosto e setembro eu não consegui captar absolutamente nada. Os preços estão aumentando, a inflação está batendo à porta e as pessoas estão tendo que ‘rebolar’ para viver com o que tem. Então, as doações eventualmente diminuem. Às vezes a ajuda sou eu mesmo que vou ali e compro dez pacotes de arroz e dez de feijão e saio para distribuir”, declarou o docente, acrescentando quais são os planos para o futuro da iniciativa.
“A ideia futura é ter um espaço onde possamos ensinar as pessoas a fazer algum trabalho, preparar voluntários, um lugar onde as pessoas possam ir retirar as doações. Também quero criar uma cartilha de apresentação do projeto para que possamos alcançar empresas e estabelecimentos que trabalham na área de alimentação, explicando como podem ajudar e ainda terem benefícios a marca”, disse.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média de empregos informais registrados na Paraíba em 2019 era de 53,1%, sendo essa maior que a média nacional, fixada em 41,1%. No 1º trimestre de 2021, conforme indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), a taxa de desocupação na Paraíba foi de 15,8%, isso equivale a cerca de 250 mil pessoas, ficando também acima da média nacional (14,7%). Outras informações sobre o projeto “Saciar” podem ser obtidas no Instagram do projeto (@_saciar), como também podem ser articuladas as doações.
Texto: Fernanda Ribeiro (Estagiária)
Fotos: Divulgação
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